“JORNAL DE ABRANTES” - 4 de Setembro de 1904:
Vamos falar da Irmandade dos Passos, dessa já muito célebre colectividade que, ora, tem por reitor o Chico Baptista, mais conhecido pela significativa alcunha do ‘Menina Maria’.
Parece que por um capricho do munícipe Pedro Apita, foi o alvo escolhido para pegar na reitoria. Quis e o ‘Menina Maria’ viu-se de repente feito alguém...
Agora o mais grave no meio de tudo isto, que vem a ser o artº 14º do Compromisso da mesma Irmandade: O reitor deve ser pessoa distinta nas suas qualidades e virtudes. Ora, se a moral se não valorizasse com a apresentação, aqui, do enorme rosário de óptimas qualidades e virtudes, feitas em termos que toda a gente entendesse, que exornam o actual reitor, eu tenho todas as probabilidades de fazer afastar do ‘Chico das Uvas’, com uma vibrante repulsão de nojo, todos os Irmãos dignos que não quiseram prestar-se ao vilíssimo papel de estar às ordens de um homem(?) que quase toda a Vila sabe que aberrou o seu sexo; mas como se faz mister ter todo o respeito pelo público, não se pode expor a verdade em toda a sua nudez, sem o subsídio das reticências, justificando-se mais uma vez, o dito em português, que não há nada sujo que se possa lavar por palavras limpas.
No entanto, como mais tarde a história se há-de ocupar do Chico, aí vão dois traços para os especialistas: É, infelizmente, natural cá da terra e ainda solteirinho da costa, sendo natural que cá por coisas, oh! Rosa, venha a ficar um solteirão encravado. Enquanto a instrução, sabe fazer mal o seu nome, mas sabe de cor o antigo livro dos bichos e a história de João Calais. Porém, na boca de algum sebastianista exótico e espirituoso é possível que passe por um sabão da primeira grandeza, pois já Catão, pela boca de Plutarco, era apregoado o mais sábio dos romanos, parece que, como espirituosamente conjecturava o nosso Camilo, por se embebedar todas as tardes...
É sócio da filarmónica do Carapau e se ainda não viscondizou, é talvez porque não tem dinheiro. E quanto a conquistas, um número delas, como referem os Franciscos, Miguéis e Andrés, lá das suas perdições.
É tipo alto e bem parecido, um dandi... Visto de frente é de uma impecabilidade de formas que está mesmo a desafiar o cinzel de um Miguel Ângelo. Por detrás, não desafia cinzéis, mas também não é tão desastrado que não chuche os elogios do Bento das Uvas. E aqui está o actual reitor da Irmandade dos Passos, feito por obra e graça do Pedro Apita.
Eu creio, piamente na castidade do Senhor dos Passos e inclino-me mesmo a acreditar que na Irmandade não haverá ninguém que ante o seu esbelto reitor, ouse exclamar como Aquiles, ao deplorar a morte de Patrocho:
Femour luorum santo e consuetidinis quid pulchrim!
O motivo porque nos insurgimos contra a entrada do ‘Menina Maria’ na reitoria da Irmandade dos Passos, está em que consideramos e connosco muita gente sensata, uma vergonha e uma baixeza para esta terra, ter na Irmandade dos Passos, como reitor, um fulano cujas qualidades e virtudes exigidas pelo citado artº 14º ficam nas entrelinhas e reticências na correspondência. E se cada Irmão tomasse a sério o seu papel, nenhum, evidentemente, se prestaria a reconhecer como reitor o Chico das Uvas, antes se retiraria indignado do contacto de semelhante homúnculo, obrigando, assim, o truanesco Pedro Apita a ficar a apitar de Irmãos e a reagir por um de dois caminhos: ou pôr de parte e tratar dos lombos do Uvas, ou a arranjar então uma Irmandade de Tonecas. Mas a Irmandade dos Passos é composta, ao que parece, por gente de bom estômago e, por isso, podemos exclamar como na lagartixa:
Deixem andar e corra o marfim. E até breve. X''
devida vénia ao imprescindível Sardoal com Memória do Sr. Luís Gonçalves
moral da história: o republicaníssimo Jornal de Abrantes era um coio de repugnantes homófobos ao publicar artigos destes...
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