Sábado, 12 de Novembro de 2011

Resolvemos concorrer com o Sr.Pico.

 

Este é a primeira contribuição e é assinada por Beja Santos

 

 

 

Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Julho de 2010

 

é retirada com a devida vénia do blogue essencial para o estudo das campanhas da Guiné 

 

Luis Graça & Camardas da Guiné  

 

Há por lá muita informação, dada pelos participantes das campanhas, sobre abrantinos e pessoas que passaram pelo Regimento de Infantaria de Abrantes e quartéis da região (Santa Margarida, Tancos, etc) antes de irem combater as hostes de Amílcar Cabral

 

Visita obrigatória para quem se interessa por este assunto

 

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Julho de 2010:

Queridos amigos,
O Manuel Traquina prima por ser despretensioso, presta no seu livro uma justa homenagem aos condutores e mecânicos. 
Confesso que estava a ler e dei conta da tremenda injustiça que foi não ter dado o justo relevo aos condutores e mecânicos que tanto me ajudaram no Cuor e na região de Bambadinca. 
O que seriamos nós sem aquelas máquinas a rugir pela picada fora? 

Um abraço do 
Mário 


Memórias de um tempo de guerra, algures entre Bula e Buba

por Beja Santos


Chama-se Manuel Batista Traquina, faz parte da nossa agremiação e vazou em livro as suas memórias e considerações colaterais sobre a guerra que experimentou entre 1968 e 1970. O produto final toca pela simplicidade e desafectação: “Os Tempo de Guerra, De Abrantes à Guiné”, por Manuel Batista Traquina, Edição Palha de Abrantes, 2009.

No essencial, temos aqui o registo da CCaç 2382. O seu comandante, Carlos Nery Sousa Gomes de Araújo sente orgulho em recordar no prefácio um comentário de Carlos Fabião quando este assumiu o comando o COP4, assim se referindo à CCaç 2382: “A melhor companhia do Sul da Guiné”. Foi uma companhia afortunada, só dois dos que tinham embarcado em Maio de 1968 é que morreram.

Manuel Traquina era o responsável pela manutenção do parque de viaturas. Mas o seu registo tem um espectro muito amplo: reúne as suas reminiscências desde que assentou praça nas Caldas da Rainha, a sua passagem pela Escola Prática de Serviço e Material, depois Elvas, mais adiante Beirolas, e depois Abrantes, já com a CCaç 2382; o prato substância, claro está, serão os acontecimentos que ele viveu no teatro de operações, sobretudo de Bula a Buba. 

Escreveu em jornais a sua experiência, tece considerações sobre a legitimidade da guerra, não esqueceu as viagens do fim-de-semana (sempre com a gasolina partilhada pelos companheiros de viagem), vai observando a composição social e não foge aos comentários. Por exemplo, em Beirolas, no Depósito Geral de Material de Guerra: “Neste aquartelamento depressa me apercebi que ali se encontravam filhos de gente importante, bastante influentes para que os filhos ali passassem o serviço militar, sem o risco e o inconveniente da guerra colonial. Havia mesmo aqueles que entravam e saíam trajando civilmente e que à porta do quartel deixavam estacionados Ferraris e outros carros idênticos, que deixavam transparecer a vida abastada dos seus proprietários”. 

Dentro das suas memórias, insere os documentos da história da unidade, não se coíbe do seu mister de cronista. Em 1 de Maio de 1968 embarcam no Niassa. As memórias ganham a partir daqui mais vivacidade: as referências ao infortunado Ramiro Duarte; a evocação da companhia como uma família de 160 pessoas; o colorido e a lufa-lufa de Bissau; um apanhado sobre a guerra da Guiné; a morte do Flora da Silva, um manjaco corajoso, cuja vida se perdeu perto de Bula; a descrição da Mampatá; o ataque a Contabane em 22 de Junho, que reduziu a tabanca a cinzas; as vicissitudes do furriel Pinho, o zelador das Transmissões; vicissitudes das colunas entre Buba e Aldeia Formosa; o sapateiro de Nhala, que não se sabe muito bem se era ou não agente duplo; história de “Os Maiorais”, como era conhecida a CCaç 2381; lembranças de crianças, como aquele pequeno Mamadu, que resolveu ir à caça das rolas com a Mauser e surpreendeu os guerrilheiros que se preparavam para um ataque a Mampatá; a vida operacional em Buba. 

Buba está no coração das suas memórias, histórias de lavadeiras, quezílias entre militares, brincadeiras de mau gosto, a chegada do correio, os jogos de futebol, as letras de fado adaptadas às circunstâncias da guerra, as dores dos sinistrados, a nova estrada entre Buba e a Aldeia Formosa que se revelou não servir para nada, as pescarias no rio Grande de Buba, a homenagem aos condutores e aos mecânicos.

Manuel Traquina procura associar o leitor à compreensão do território: os rios, a existência de prisioneiros de guerra, como se chegou ao desenho do distintivo da CCaç 2382, a acção de Spínola, por exemplo. Mas também os condimentos do quotidiano: como tomar duche com a água escassa ou a cerveja pluriusos (bebida cujas garrafas eram utilizadas como aparelhos de alarme, as garrafas batiam no arame farpado e anunciavam aos sentinelas a presença do inimigo).

É um caderno de alguém que se comprazeu a ser útil, a fazer amizades e que ainda hoje se orgulha do dever cumprido. Escreve sem rancores, junta serenamente as suas notas de observação, confunde-se com a crónica dos acontecimentos da CCaç 2382. Não arma em herói nem em vítima. É um testemunho que os historiadores não poderão ignorar. Até pela sinceridade.
__________

Notas de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6802: Notas de leitura (137): Invenção e Construção da Guiné-Bissau, de António Duarte Silva (3) (Mário Beja Santos)

Vd. poste de 30 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4441: Bibliografia de uma guerra (48) "Os Tempos de Guerra - De Abrantes à Guiné", de autoria de Manuel Batista Traquina

 

 

leia os muitos comentários aqui

 

posto com a devida vénia por Miguel Abrantes

 

Honra aos Soldados de Portugal !!!!!

 

 

 



publicado por porabrantes às 16:28 | link do post | comentar

ASSINE A PETIÇÃO

posts recentes

Faleceu o Dr. Henrique Es...

PSD reclama creches públi...

Trabalhadores do CRIA acu...

Coisas incomparáveis

25 de Novembro de 1975 (1...

CMA sem verba para mudar ...

Capelão contra o proletar...

Alfredo da Silva recebe o...

Arte abrantina a 80 euros...

A cunha que nomeou o Mati...

arquivos

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

tags

25 de abril

abrantaqua

abrantes

alferrarede

alvega

alves jana

ambiente

angola

antónio castel-branco

antónio colaço

antónio costa

aquapólis

armando fernandes

armindo silveira

arqueologia

assembleia municipal

bemposta

bibliografia abrantina

bloco

bloco de esquerda

bombeiros

brasil

cacique

candeias silva

carrilho da graça

cavaco

cdu

celeste simão

central do pego

chefa

chmt

ciganos

cimt

cma

cónego graça

constância

convento de s.domingos

coronavirús

cria

crime

duarte castel-branco

eucaliptos

eurico consciência

fátima

fogos

frança

grupo lena

hospital de abrantes

hotel turismo de abrantes

humberto lopes

igreja

insegurança

ipt

isilda jana

jorge dias

josé sócrates

jota pico

júlio bento

justiça

mação

maria do céu albuquerque

mário soares

mdf

miaa

miia

mirante

mouriscas

nelson carvalho

património

paulo falcão tavares

pcp

pego

pegop

pina da costa

ps

psd

psp

rocio de abrantes

rossio ao sul do tejo

rpp solar

rui serrano

salazar

santa casa

santana-maia leonardo

santarém

sardoal

saúde

segurança

smas

sócrates

solano de abreu

souto

teatro s.pedro

tejo

tomar

touros

tramagal

tribunais

tubucci

valamatos

todas as tags

favoritos

Passeio a pé pelo Adro de...

links
Novembro 2021
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11

17

26
27

28
29


mais sobre mim
blogs SAPO
subscrever feeds