Segunda-feira, 25 de Março de 2013

Museu de Abrantes

As teias que obrigam ao silêncio

 

O projecto do Museu Ibérico de Arte e Arqueologia da Abrantes revela-se um verdadeiro atentado aos valores culturais da cidade e, tem envolvido não apenas falta de transparência como tentativas de silenciamento de quem legitimamente levanta a voz, ou o questiona.

O Arqº João Luis Carrilho da Graça, Prémio Pessoa 2008 autor deste projecto, entendeu apresentar uma queixa na Ordem dos Arquitectos contra Antonio Castelbranco, Arquitecto Abrantino, por este ter posto em causa o projecto do Museu Ibérico de Arte e Arqueologia da Abrantes (MIAA) o que deliberadamente revela uma atitude que atenta contra a liberdade de expressão e os mais elementares direitos da cidadania democrática.

Esta queixa foi recentemente arquivada. Mas entretanto este processo de intimidação pelo Conselho de Disciplina da Ordem dos Arquitectos durou um ano, obrigando Antonio Castelbranco ao silêncio, tendo entretanto o projecto sido aprovado pelo executivo da Câmara Municipal de Abrantes.

O MIAA, quanto ao projecto, trata-se de um paralelepípedo que na sua base quadrada terá aproximadamente 27 metros, e com uma altura aproximada de 30 metros de um lado e 45 metros do outro., ou seja, correspondente a um edifício com bem mais de 10 pisos de altura. As fachadas serão revestidas por uma tela plástica ao género de painel publicitário. Este edifício a ser construído (!) junto ao secular e classificado Convento de São Domingos, no casco histórico da Abrantes afectará profundamente a imagem urbana da cidade revelando-se um verdadeiro atentado à estética.

“Entretanto em 14-6-2009 a apresentação do projecto e da maquete do Museu despertou na sociedade abrantina uma enorme polémica, porque na prática significa demolir uma parte do edifício conventual, construir uma enorme torre que chega aos 45 metros de altura e, que está completamente fora do contexto no casco histórico da cidade descaracterizando para sempre a paisagem abrantina “.

Acrescenta-se ainda que o projecto viola as normas de ordenamento urbanístico da cidade, designadamente o Plano Director Municipal (PDM) e o Plano de Urbanização de Abrantes, que só permitem a construção de edifícios com uma altura igual à dominante na área em questão.

Apesar disso este projecto teve um parecer favorável do IGESPAR, em 31-3-2009 ratificado pela Professora Andreia Galvão, quando o projecto contraria a legislação em vigor tanto em matéria de concursos públicos como de ordenamento do território!

Este processo abrantino revela quase à saciedade, por um lado a manipulação e intimidação existentes junto de determinadas entidades - a Ordem dos Arquitectos, por exemplo -, como que obrigando a uma lei do silêncio ao estilo siciliano. Por outro lado na transversalidade da cidadania.

Ofende abrantinos na sua qualidade de forças vivas de uma cidade que pretende ter uma qualidade de vida diferente. Não é inútil dizer que perante este processo se podem aquilatar faltas de transparência que sendo óbvias só podem agravar outras falhas, nomeadamente, no relacionamento entre cidadãos e a própria autarquia.

Este atentado à Cidade de Abrantes revela ainda que os jogos de interesses novamente se sobrepõem ao colectivo numa lógica de duvidosos resultados empresariais, quanto mais de valores culturais.

Sabe-se que o tempo da ingenuidade popular custa a passar só que as evidências são enormes e só não sente quem não é filho de boa gente, pelo que o sentimento de ofensa volta a ser uma realidade.

Não se trata apenas deste caso do MIAA mas que este apresenta contornos preocupantes disso não existem dúvidas. Mais ainda, são graves e não se pode pactuar com atitudes intimidatórias ou com decisões tomadas só porque se é poder local.

Este projecto a ser viabilizado enquadra vícios na transparência e revela uma inaudita ignorância no que diz respeito aos valores culturais que devem moldar as mais-valias da inteligência, mas nunca numa perspectiva limitada a esses interesses de baixo valor patrimonial.

É mais que razoável que nos sintamos ofendidos, não com a ideia de um Museu mas sobretudo por esta em que se desvirtua o ambiente e a matriz sociocultural, para além da paisagem, do urbanismo e da imagem de uma Cidade.

Não faltaram tristes coincidências neste processo, designadamente, a de que o inquérito a que o Conselho de Disciplina da Ordem dos Arquitectos obrigou Antonio Castelbranco ao silêncio e que termina uma semana depois do projecto do MIAA ter sido oficialmente aprovado pela Câmara Municipal de Abrantes e, assim voltamos ao princípio, ou melhor… aos princípios

 

Mário Semedo,

Abrantino.

 

2010 publicado aqui e na Barca e enviado para outros órgãos de comunicação social

 

 

Por este texto houve queixa-crime do Carrilho da Graça (1) contra o autor, com os resultados conhecidos,  a nossa ampla e fresca 




 

 

 

(1) licenciado



publicado por porabrantes às 09:42 | link do post

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