SECÇÃO: Sociedade Associação de desenvolvimento de Mouriscas quer fazer obras para reabrir o espaço
Um museu com o espólio arrecadado
O museu de Mouriscas tem o seu espólio guardado longe da vista do público. A antiga escola primária, onde se encontra instalado, está degradada e era frequentemente alvo de actos de vandalismo. O edifício das antigas escolas primárias de Mouriscas (Abrantes), onde posteriormente foi instalado o museu etnográfico e arqueológico da localidade, está completamente degradado. Nas grandes janelas poucos são os vidros que resistiram às pedradas e aos constantes arrombamentos. Lá dentro o espólio museológico foi armazenado numa das salas, mas a Associação de Desenvolvimento Integrado de Mouriscas (Adimo) aposta na recuperação do espaço. O museu de Mouriscas só poderá voltar a funcionar quando o edifício onde está instalado for recuperado. Este é o primeiro objectivo da Adimo, associação a quem foi cedido o imóvel, por protocolo com a Câmara Municipal de Abrantes, e igualmente detentora do espólio museológico por cedência da junta. Aliás a associação, fundada há três anos, foi criada com o objectivo de levar por diante o museu, segundo afirma o seu presidente, Humberto Pires Lopes. O projecto que existia orçava, só em trabalhos de construção civil, em mais de 500 mil euros, verba que a junta não podia comportar e que dificilmente conseguiria financiamentos. “Através de uma associação seria mais fácil, como se prova. O Governo pode financiar a associação mas não podia financiar a junta, assim como os empresários financiam muito mais facilmente uma associação do que a junta”, continua Humberto Lopes, ex-presidente da Câmara de Abrantes eleito pelo PSD, natural de Mouriscas. A Adimo vive da quotização dos cerca de 100 sócios – “todos de Mouriscas ou com ligação à freguesia” – e de apoios de algumas empresas da região e do Governo Civil de Santarém. Para a recuperação do edifício vai apresentar uma candidatura a fundos comunitários através da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo. Além disso, a Adimo quer promover outro tipo de actividades. “Mas primeiro é preciso recuperar o edifício”, salienta o presidente. O imóvel construído na década de 30, é quase só por si uma obra de museu. Grandes janelas com muitos vidros deixam entrar a luz para sete salas de aulas, divididas por dois pisos, com os respectivos vestiários, amplos corredores e um pé direito com mais de quatro metros de altura. No mesmo espaço foi integrada a casa da professora e tudo se corre por dentro num sobe e desce de escadas de madeira. Enquanto escola primária, o edifício funcionou até ao início da década de 80. Altura em que os alunos passaram para a nova escola e a junta de freguesia, presidida por Arminda Pina, decidiu criar o museu etnográfico e arqueológico de Mouriscas. O espólio cedido ou emprestado foi exposto pelas várias divisões. O vestuário representativo de outras épocas compõe a maior parte do acervo. Mas também existem peças das fábricas de fogo de artifício e de capachos para os lagares, utensílios agrícolas, entre eles um arado todo em madeira, medidas de cereais e de azeite e um velho tear. “Tudo o que estava no museu, está lá devidamente guardado e tratado com produtos anti-traça no caso do vestuário”, afirma Pires Lopes desmentindo deste modo o boato de que as peças tinham sido roubadas ou se encontravam deterioradas. Embora com muito pó e alguma desarrumação o espólio deste museu apinha-se numa das divisões, que já esteve fechada com trancas de ferro. “De facto, o edifício tem sido vandalizado com frequência. De uma das vezes chamámos a GNR, o caso foi entregue ao Ministério Público, fizeram averiguações e nunca se descobriu quem foi”, conta o director da Adimo, adiantando que são actos de vandalismo puro e simples, dado que nunca desapareceu ou foi estragada nenhuma das peças do museu. Margarida Trincão |