A tese de que a República fez muito pela emancipação feminina é suficientemente polémica para merecer uma discussão interessante.
Mas também serve para despachar lugares comuns mais ou menos propagandísticos que devem ser rebatidos.
Qual foi o papel da mulher no movimento republicano abrantino?
Atirou a República com uma suicida política anti-clerical as mulheres portuguesas para o campo da contra-revolução ( outra discussão seria a de saber se o bambúrrio da Rotunda não estabeleceu um regime na prática de partido único, baseado no caciquismo, na fraude eleitoral, no terror às mão de grupelhos para-militares contra qualquer tipo de dissidência à Direita e à Esquerda, como sustenta Vasco Pulido Valente), porque sendo elas a maioria dos católicos praticantes ao abrir-se uma questão religiosa, se atirava imediatamente mais de metade da população para os braços dos inimigos do 5 de Outubro ?
Mas houve mulheres activistas no campo republicano, activas e militantes, e que curiosamente não se deixaram nas redes da facção maioritária do PRP (os democráticos) e na sua política dura contra o movimento operário que começava a organizar-se, sob uma matriz anarco-sindicalista.
E eco delas chegou a Abrantes e à nossa região e a título de curiosidade não resistimos a publicar esta ''poesia'' de militantismo anti-clerical de Angelina Vidal, publicada no Jornal de Abrantes, órgão republicano em 1907 !!!!
«Conclusão Scientifica»
Por Angelina Vidal
Se consulto os fenómenos geológicos,
Se contemplo no céu as nebulosas,
Se interrogo os segredos histológicos,
E os restos das esferas luminosas;
Vejo sempre matéria em traços lógicos,
No espaço, nas entranhas tenebrosas,
Com átomos subtis, embriológicos,
Tecendo maravilhas assombrosas
Transformação constante - a causa eterna
Eis a lei que preside e que governa,
O facto que destrói a escura fé.
É debalde que os crentes se consomem,
Se Deus veio primeiro do que o homem,
Deve ser, quando muito, um chimpanzé.
Casa no bairro operário da Graça, Lisboa, onde nasceu D.Angelina
A D.Angelina tinha mau feitio e vocação de polemista. Um dos grandes poetas da época (que deixa as pobres rimas da Angelina a milhas), Cesário Verde, publicara isto acerca do jornal monárquico : O Imparcial.
Na praça, de manhã, havia, ó rei brutal!
Montões de sordidez horrível e avinhada...
- Nascera o Ilustrado - um vómito real!
Replicaram-lhe em tom azedo que a sua poesia era má e pouco radical. O poeta desafiou o plumitivo, um tal Juvenal Pigmeu para um duelo e acaba por se descobrir que o Juvenal era a fogosa Angelina e a coisa não pôde resolver nem a tiro, nem com florete....
Femeeiro militante, amante de sucessivas comediantes da cena de Lisboa, Verde recusou-se a disparar, qualquer coisa que fosse, sobre Angelina.
O aspecto físíco da ilustre revolucionária não se enquadrava no gosto do Poeta....
Irene Pimentel traça hoje aqui o retrato duma mulher militante, recheada de contradições, positivista, socialista, pacifista, republicana antes de 1910 e posteriormente crítica feroz da política de Afonso Costa.
O blogue de Irene Pimentel, historiadora importante da nossa história recente passa hoje a fazer parte dos nossos links.
O texto publicado é a apresentação do livro acima referenciado que vamos ler e depois comentar.
Pode comprá-lo aqui
Sobre as ligações da terrível D.Angelina a Abrantes, esperamos poder falar um dia destes.....
Marcello de Ataíde
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