Quarta-feira, 29 de Julho de 2009
A PETIÇÃO POR UMA DECISÃO DEMOCRÁTICA SOBRE O MUSEU IBÉRICO DE ABRANTES ultrapassou ontem as 800 assinaturas on-line.
Se considerarmos as assinaturas nas versões da petição impressas em papel, que alguns entusiastas por este movimento cívico têm distribuído em Abrantes, a soma deverá andar pelas 1000 assinaturas.
Assim enfrenta a Cidadania os desmandos camarários e o grotesco pedregulho de Carrilho da Graça!
Terça-feira, 28 de Julho de 2009
Em entrevista à rádio Antena Livre, o sr. Nelson Carvalho qualificou a nossa petição de “absolutamente absurda” (não o é, como o tempo irá demonstrando) e alongou-se em exaltadas loas ao caixote de Carrilho da Graça.
Não percebeu ainda o que está em causa: a democracia. Aos cidadãos abrantinos cabe o direito de escolher a cidade em que querem viver. Abstenha-se o presidente da Câmara de provocatoriamente desqualificar os que não pensam como ele e mostre mais respeito pela cidadania!
“Este projecto não é uma torre….
… é um projecto global para a recuperação (SIC!!!) do convento de S.Domingos” (Nelson Carvalho)
Sexta-feira, 24 de Julho de 2009
Um cidadão abrantino, no exercício dos seus direitos, fez um requerimento ao presidente da Câmara para esclarecer os motivos e a legalidade das escavações arqueológicas que se estão a realizar no Convento de S. Domingos.
Aguarda-se a resposta (dentro do prazo legal).
Eis o requerimento:
Exmo. Sr. Presidente da
Câmara Municipal de Abrantes
Assunto: Prospecções arqueológicas no Convento de São Domingos
Data: 21 de Julho de 2009
Exmo. Sr.
O parecer do IGESPAR referente ao Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes com data de 31 de Março de 2009, refª. 60 91 68 (informação nº1/DS/2009) refere que “deve ser devidamente acautelada a construção no intradorso da muralha abaluartada do ponto de vista físico e da salvaguarda dos eventuais vestígios arqueológicos”.
O requerente solicita ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Abrantes que lhe especifique que acções estão a ser desenvolvidas para cumprir estas condições.
O requerente solicita ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Abrantes que lhe mande passar certidão de todos os actos administrativos praticados para cumprir as exigências referidas no citado parecer e cópia dos relatórios dos trabalhos eventualmente realizados.
O requerente solicita ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Abrantes a identificação do responsável pelos trabalhos, o seu Curriculum Vitae e lista das publicações científicas que eventualmente tenha realizado.
Pede deferimento, com os melhores cumprimentos
Paulo Falcão Tavares
Historiador
Quinta-feira, 23 de Julho de 2009
Estão a decorrer escavações arqueológicas misteriosas no Convento de S. Domingos, no local previsto para a implantação do paralelepípedo de Carrilho da Graça.
As escavações puseram a descoberto importantes achados arqueológicos
que se impõe preservar.

Quarta-feira, 22 de Julho de 2009
1 - A Informação assinada pelo sr. Hermínio Duarte Ferreira não é um parecer técnico sobre o projecto, é uma profissão de fé no “génio” de Carrilho da Graça.
2- Não é um parecer, porque um parecer deve ser objectivo. Ferreira gosta do projecto de Graça (está no seu direito), mas não pode substituir a discussão e a apreciação fria e rigorosa das considerações próprias de um projecto com esta repercussão pelo panegírico, pela adesão acrítica do adepto.
3- Não é um parecer, porque num parecer as conclusões obrigam a uma prévia e séria fundamentação e essa fundamentação não existe aqui: desde logo, escamoteia a questão da legitimidade cultural de destruir a harmonia de um conjunto monástico renascentista e maneirista para construir uma torre de 30x23x23 na sua cerca.
4- Não é um parecer, porque se o fosse analisaria o brutal impacte paisagístico que o projecto teria sobre a cidade de Abrantes.
5- Não é um parecer, ou antes, é um mau, um infundamentado parecer, porque não afirma sobre bases sólidas, de molde a constituir uma fundamentação do acto que dele colhe a fundamentação: da omissão da ponderação de factores de tal importância resulta a desproporção do assentimento final: é incongruente. E o pouco que não é panegírico ou hagiografia está escrito numa linguagem esotérica, eivada de subjectivismo: é obscuro.
Sexta-feira, 17 de Julho de 2009
A necessidade de afirmação dos políticos pela “obra” esconderá a capacidade de afirmação pela prática politica e pela boa governação? Nuns casos sim, noutros talvez não mas todos governam para ganhar a eleição seguinte. E assim se encheu o País de rotundas esplendorosas e agora de museus e centros culturais de coisa nenhuma com custos astronómicos de construção e de manutenção que vamos todos alegremente pagando sem nos queixarmos. A culpa é portanto nossa, de quem apoia esta política e de quem não apresenta alternativas.
Não quero discutir a necessidade do Museu Ibérico (qual Guggenheim Abrantino) nem a bondade da decisão.
Também não quero discutir a estética e a qualidade da arquitectura pois, nessa arte maior, como em quase tudo, pode-se defender com argumentos validos uma coisa e o seu oposto. É por isso uma discussão infértil saber se o edifício do Museu Ibérico se encontra desenquadrado em termos urbanísticos “afirmando-se” por contraste! Com isto não se pretende dizer que não seja por demais evidente a aberração e a escala desajustada do objecto. Infelizmente, há gostos para tudo... quando o “gosto” não é educado.
O problema que está aqui em causa é um problema de que o País enferma há muitos anos: o novo-riquismo. Fazem-se obras faraónicas ao lado de património arquitectónico em ruína. Construiu-se o Centro Cultural de Belém e pretende-se agora um Novo Museu dos Coches numa Cidade onde existem inúmeros Conventos e edifícios de elevado valor patrimonial em ruína. Basta viajar por este País fora para se ver, por todo o lado, o património em desgraça e ruína ao lado de obras sumptuosas, Centros Culturais, Museus, Casas da Cultura (de inegável valor arquitectónico em muitos casos) mas cheias de nada e de ninguém.
Quando eu era pequeno costumava brincar no castelo de Abrantes. Ficava fascinado com as escavações arqueológicas inacabadas e com os mistérios que tudo aquilo encerrava. Subia à torre de menagem de onde se vislumbrava todo o horizonte que os nossos olhos conseguiam com o Tejo a serpentear entre os vales. Ficava ofuscado com a grandiosidade de tudo aquilo. É ainda, para mim, um dos lugares mais maravilhosos deste pequeno País, tem uma dimensão inigualável pela grandeza do que se alcança.
Por outro lado inquietou-me sempre o estado de abandono e de ruína de tudo aquilo. Achava sempre que um dia iam terminar as escavações e então seria tudo arranjado e recuperado. Sempre se falou da sua recuperação, e da instalação de uma pousada, ou de um hotel, ou de um restaurante, enfim qualquer coisa que trouxesse vida. Os anos foram passando e a esperança foi-se perdendo e o estado de ruína e abandono foi-se agravando.
Quando pela primeira vez “vi” o Museu Ibérico não liguei à bestialidade da dimensão mas lembrei-me logo do Castelo. Onde melhor do que ali poderia estar um museu? ainda para mais de arqueologia! A oportunidade é única pensei eu, pois, ao que parece, agora há o dinheiro que nunca houve.
Infelizmente percebi rapidamente que ainda não era desta. É mais importante mostrar que se fez um obra nova do que, ao fazê-la, preservar o que de melhor temos.
É assim este País e a culpa é toda nossa.
Gil Serras Pereira
Quarta-feira, 15 de Julho de 2009

Esquema de implantação do Museu e a sua relação com o Hospital e o Castelo.
A notícia da criação de um Museu Ibérico de Arqueologia e Arte em Abrantes deixou-me com enorme expectativa. Não é todos os dias que um museu é criado, ainda mais na nossa terra e com as interessantes colecções que para este se prevêem: Colecção de Arqueologia da Fundação Estrada e doações das colecções pessoais de Maria Lucília Moita e Charters de Almeida. A expectativa aumentou ao saber que havia sido escolhido o Arquitecto Carrilho da Graça para desenhar o edifício. Fiquei a esperar o melhor. E esperei até desesperar perante a maquete apresentada, na qual pensei que havia alguém com muito sentido de humor a querer fazer um qualquer ensaio académico sobre como não implantar um edifício na malha urbana. Infelizmente tratava-se, de facto, do projecto do novo museu abrantino.
Quando discuto arquitectura e o seu diálogo com as cidades, insisto em dizer que mais do que o traço, o que me importa é a volumetria e o enquadramento. Para a harmonia de uma cidade é muito mais lesivo um grande volume bem desenhado, mas mal enquadrado, do que um pequeno edifício feio, mas bem enquadrado. No fundo é também isto que distingue a arquitectura da escultura. Entre as zonas mais sensíveis a estes enquadramentos estão, obviamente, as linhas de festo ou cumeada, ou, em linguagem mais popular, os cimos dos montes. Abrantes é uma cidade que se desenvolveu a partir do topo da colina e em que o relevo é decisivo na sua definição urbanística. Tomam assim importância acrescida as zonas do Castelo e do Convento de São Domingos, quer pelos edifícios, quer pela privilegiada vista que daí se pode usufruir, quer pelo seu impacto em quase todas as vistas para a cidade. Estes edifícios, sábia e humildemente construídos há muitos anos, souberam adaptar-se ao local, mostrando-se bem, mas com bastante pudor, não se impondo à cidade e à paisagem que encontraram.
Tendo em conta o curriculum do Arquitecto Carrilho da Graça, era isto que esperava, um bom traço de arquitectura, elegante e vistoso, que respeitasse o local para o qual era desenhado. Daí a surpresa ao descobrir um paralelepípedo com uma colossal volumetria, que tanto poderia ter sido desenhado para o deserto do Sahara como para uma megacidade como Tóquio. Seguramente não foi desenhado a pensar neste local, fico até com a dúvida se o senhor arquitecto se dignou a visitar Abrantes para além do dia em que veio assinar o contrato. Acho esta dúvida legítima em respeito ao curriculum do Arquitecto Carrilho da Graça e às obras que já nos deixou, além de uma justificação para o tamanho disparate com que quer brindar Abrantes.
No mundo de hoje, os arquitectos estrelas adquiriram uma força sobre os autarcas sedentos de afirmações de poder, cujos paralelos remontam a regimes antigos e de má memória. Basta a sua assinatura para tudo ser tolerado e aplaudido com uma reverência provinciana, de quem se vê perante a possibilidade de ter na sua cidade um edifício “de autor”, a exemplo de Ghery em Bilbau que criou invejas e desejos de réplicas que ainda mais aguçaram o novo-riquismo. Felizmente ainda há quem consiga por os grandes egos na ordem, caso da Baronesa Thyssen que “obrigou” Siza Vieira a alterar o seu projecto para o Passeio do Prado, evitando assim o abate de árvores centenárias para darem lugar a betão, com a ameaça de retirar o museu do edifício em que se encontra. O problema é que “armas” destas não são fáceis de encontrar para travar os projectos.
A cidadania, ainda imberbe em Portugal, vai no entanto crescendo, sendo reconfortante verificar a justa indignação abrantina na adesão à petição que circula na internet – “Petição por uma decisão democrática sobre o Museu Ibérico de Abrantes”, – e agora também em papel, a favor de um adequado debate sobre este projecto.Que isto faça pensar quem de direito.
João Albuquerque Carreiras
(Arquitecto Paisagista)