''Todos aqueles que pensaram que nós éramos um bando de mestiços a colonizar negros, que tirem a lição. Todos os anti--mestiços do mundo que fiquem claros. Não é a cor do homem que conta. É a sua ideologia, é a sua vontade de fazer marchar a História, é a sua posição face à História e face aos factos. O povo de Cabo Verde é, na realidade, um povo mestiço. Um povo mestiço no aspeto biológico, resultante do cruzamento de raças. É um povo e um povo como qualquer outro. Com
a sua cultura, com o seu perfil psicológico próprio. É como tal
que nos afirmamos. Àqueles que defendem a “autenticidade das raças”, digo-lhes só uma coisa: que tomem cuidado, porque isso ia levando a
Humanidade à hecatombe.''
Aristides Pereira
''E esta semana partiu este irmão, Marcelino da Mata, português, africano, nasceu em África, na Guiné, é o português mais condecorado na nossa história , mas que nos últimos anos foi muito mal tratado, e até esta semana como há que gente, infiltrada dentro do governo, que não há outra palavra para explicar, que tem a coragem de dizer, ofende-nos a nós, ofende-nos ao ver os nossos combatentes, ofende os filhos que dos que sofreram, (...) como é que há políticos que não fizeram nada, não têm experiência nenhuma, a julgar um homem que foi de uma só vez libertar com outros africanos, soldados, correu todos os riscos, estavam prisioneiros, lá em África e esses homens, que ele foi de noite libertá-los, mas sobretudo para nós que vivemos aqui,
Marcelino era um português a tempo inteiro. Amou Portugal. Como é que há gente da nossa época, (...)vendida a interesses internacionais, que sacrificam todos os valores dum povo, é que a alma não podemos calar e temos de dizer aos combatentes (...) há períodos na história para os heróis que são terríveis, (...)''
O livro (2017) da académica espanhola Maria José Tíscar relata como um aspirante miliciano do RI2 em 1957, António Fragoso Allas ingressa na PIDE e se tornará num dos agentes secretos mais importantes dos serviços lusos, no cenário africano.
Allas chegou a ser Conselheiro da Embaixada espanhola no Zaire, uma cobertura acordada entre Lisboa, Madrid e Mobutu para desempenhar missões diplomáticas clandestinas cruciais.
Tendo actuado na Guiné, Angola e Moçambique, colaborou na formação das unidades indígenas, tratou de operações de infiltração nos movimentos nacionalistas, colaborou com Spínola na Operação Mar Verde.
Depois do 25 de Abril, passou à Rodésia, onde desempenhou actividades ''privadas''.
Um grande livro.
Com as últimas conquistas no território algarvio em 1253 e a consequente estabilização política do país, o rio Tejo assumia, enquanto eixo de comunicações, uma importância crescente. Este facto acentuou-se pela circunstância de Lisboa se ter tornado a capital do Reino e a sua principal potência económica. Dom Dinis ao promover as obras do Tejo e o seu sistema adjuvante, fundou Salvaterra de Magos e Muge, incrementando de alguma forma as navegações fluviais, facto a que não deixará de ser alheio o surto da capital lisbonense (1).
Dos portos do médio Tejo, Santarém, Abrantes e Punhete (2) eram sem dúvida os mais importantes. O sal, o peixe (seco, salgado, fumado ou fresco) e os panos, além de outros produtos de uso menos frequente, eram as mercadorias que subiam o Tejo desde Lisboa até aqueles portos. Para a capital transportavam-se madeiras, azeite, vinho, coiros, mel, cera, ferro e mesmo peixe do rio (sável, azevias, lampreias) (3).
No ano de 1552, de 1490 barcos de navegação fluvial que existiam em Lisboa e nos restantes portos do Tejo, 180 pertenciam a Abrantes (100 eram de carreira e 80 andavam na pesca), 100 a Tancos, 120 a Punhete, Asseiceira e Carvoeira e 100 a Santarém, que constituíam os principais portos do Tejo (4).
Os produtos transportados seriam sensivelmente os mesmos do século anterior com uma novidade: a grande quantidade de melões provenientes das lezírias de Santarém e de Abrantes (5). O vinho que chegava a Lisboa por via fluvial, pelo que se depreende do «Pranto de Maria Parda», deveria ter muita importância e tomava o nome dos portos de embarque Santarém: Abrantes e Punhete (6).
A raiz de todo o desenvolvimento de Punhete esteve sempre, estou ciente, na sua privilegiada posição estratégica. Sabe-se, foi objecto de abundante legislação régia, sendo de referir que por alvará de D. Pedro I, Punhete era ponto obrigatório de embarque de todas as mercadorias daquela zona que se destinassem a Lisboa (7).
Abundante legislação se pode encontrar em seu favor, e mesmo contra. Por exemplo, numa carta do rei D. Pedro I, dada em 13 de Abril de 1358 (era de 1396), o monarca, considerando que a vila de Santarém, «he huu dos boons e dos mjlhoores lugares do meu senhorio», e estava despovoada de «companhas» e de mais coisas necessárias para o serviço régio, resolve atalhar a essas carências. O lugar de Punhete era um porto activo, o que causava prejuízo ao crescimento populacional de Santarém. Por tal motivo o rei ordenava: 1) «que nenhuas barca nom pasem de santarem pera cima com nenhuas mercadorias saluo com panos e com al que comprir pera mantijmento daqueles que esse mantijmento leuarem pera ssy ou pera outrem» (8)
Num documento encontrado na Chancelaria de D. João I tem-se notícia da atenção da Dinastia de Avis dispensada a Punhete, então Lugar. Veríssimo Serrão dá-nos a conhecer uma carta do monarca, dada a 23 de Agosto de 1390 a Afonso Pires, Juiz em Abrantes: «…Sabede que os homes boons e poboradores de punhett nos enviaron dizer antigamente que a memoria dos homes non era em contrario per seus privilégios e seu foral que lhes foi dado… pelos rex os que antes nos foram E outrosy per nos atee o tempo dora ouveram seus juízes e jurdiçam no dicto loguo de todollos feitos crimes…»(9).
Num relatório do espião castelhano Rui Dias de Vega ao rei Dom Fernando I de Aragão em 1415, este faz saber a Castela dos preparativos que em Portugal se faziam para–aconquista de Ceuta»: «(—) El Prior et los maestres mandan fazer sendas geleotas de sessenta rremos cada uma, salvo el maestre de Santyago. Et fazenlas en el ryo de Sesar, que es cerca de Punhete, et entra en Tajo aquel rio a syete leguas de Santarem (…)». (10)
Punhete, no início do século XVI, a recordar tempos passados, mantinha-se próspera, e continuava a atrair a atenção régia. Em Outubro de 1505, aquando da deslocação de D. Manuel I, de Lisboa para Almeirim, por motivos da peste, parte da sua comitiva instalou-se ali; mais concretamente, a 12 de Maio de 1507, quando se assentou a cisa dos vinhos de Lisboa, a corte encontrava-se em Punhete (11).
No ano de 1571, Dom Sebastião concede a Punhete «que seja vila», declarando-se no respectivo documento que no dito lugar já havia «casa e audiencia da camara e cadea e pelourinho com suas argolas e cepo e açougue» (12).
A Casa dos Sandes, senhores e alcaides do burgo e donos de quase todo o comércio no século XVI, crescera e atingira um desenvolvimento tal que, em 1620, o filho de D. João, o Doutor Francisco de Sande, já instituía, «com cabeça na sua casa da Torre e da Amoreira», o morgado de Punhete. (13)
José Luz
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