Quinta-feira, 1 de Abril de 2021

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Em 1862, ardia a Universidade de Coimbra e o incendiário era o estudante açoriano, Antero de Quental, que dirige a agitação contra  aquele, a quem Eça chama, o ''czar de borla e capelo'', Basílio de Sousa Pinto, o Reitor, depois Visconde de S.Jerónimo.

Antero funda uma sociedade secreta, a ''Sociedade do Raio'', a que aderem múltiplos estudantes, entre eles Eça de Queirós e pelo menos um abrantino, João Freire Themudo de Oliveira Mendonça, mais tarde conhecido como Visconde do Tramagal.

A ''Sociedade do Raio'' encabeça múltiplas e célebres formas de protesto contra as autoridades académicas e contra o ''czar''.

Desde levantamentos na Sala dos Capelos, em dias de sessão solene, que era o 8 de Dezembro, festa da padroeira da Universidade, quando se atribuíam os galardões académicos, até um projecto frustrado de rapto do Sousa Pinto.

Entre os fundadores da agremiação está João Freire Themudo de Oliveira Mendonça, que assina o manifesto, redigido por Antero, ao lado de muitos estudantes.

mendonça.png

Com a dissolução da Sociedade, em 1863, parte dos estudantes, constituiu uma loja maçónica, '' A Reforma'', onde foi iniciado João de Oliveira Mendonça, com o nome de Irmão ''Passos José.''

A biografia de Oliveira Mendonça,  que seria Visconde do Tramagal, grande proprietário rural, político progressista em Abrantes  e fora (tenho ideia que foi Governador Civil de Portalegre), empresário dado a investimentos financeiros e bancários, um dos concessionários da Ponte do Rocio de Abrantes é relativamente conhecida. Aqui fica um apontamento juvenil duma militância radical ao lado de Eça e Antero.

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visconde do tramagal.jpg

 

bibliografia: Mário Brandão, Estudos Vários, Universidade de Coimbra 1974, António Nóvoa, ''Em nome da Liberdade, da Fraternidade, e da emancipaçao da Academia: um importante inédito de Antero de Quental, redigido no âmbito da Sociedade do Raio, : (Coimbra 1861-63),Revista de História das Ideias, nº13 Coimbra 1991; Documento de afirmação da Sociedade do Raio escrito por Antero de Quental, PT/MVNF/AS-AS/1-1.1-1.1.1/000024, Arquivo Alberto Sampaio (extracto da assinatura).

imagem do Mendonça : gamada ao Joaquim Ribeiro

 

  

 



publicado por porabrantes às 13:12 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Descoberto em Constância presumível
altar da igreja de São Julião
 

A descoberta recente de possíveis elementos de um altar da antiga paroquial de São Julião de Punhete (actual Constância) levou a Mesa Administrativa da Misericórdia a projectar um núcleo museológico e expositivo. Está um curso uma candidatura à Tagus, tendo o Montepio provido uma carta de conforto para esse efeito, segundo o Provedor, António Paulo Teixeira.

Altar_Sâo Julião_.jpg

 

Ao que apurei junto daquele responsável, os técnicos superiores envolvidos na restauração da Igreja da Misericórdia (empresa de Conservação e Restauro de Torres Vedras) terão equacionado a hipótese dos elementos em causa descobertos (ver fotos) serem estranhos aos altares, retábulo e características da igreja da Irmandade, em cujo seio se fez a fascinante descoberta. Anote-se que este património encontrava-se num sótão da sacristia desde há muito tempo. A imagem do senhor dos Aflitos será  também anterior à construção da Igreja da Santa Casa, sendo atribuída aos século XV ou XIV o que poderá provar a sua origem distinta.

Os restos do altar enigmático terão sido guardados pela Irmandade, crê-se, desde pelo menos 1822, data da transladação da antiga paroquial de São Julião (situada na actual Praça Alexandre Herculano) para a Igreja de Nossa Senhora dos Mártires (1).

A instalação de um núcleo museológico e expositivo na sacristia da igreja da Irmandade da Misericórdia de Constância irá contemplar  artefactos e peças várias do espólio da igreja da Irmandade e ainda da antiga paroquial ( origem a comprovar-se, é certo,  segundo a hipótese em estudo).

altar 2.jpg

 

A antiga paroquial de São Julião  terá sido arruinada pelos invasores franceses, na primeira e terceira invasões (2).  O saudoso Cónego José Maria Rodrigues d’Oliveira dizia que a Pia baptismal da actual Matriz tinha sido transladada da igreja de São Julião e contava com pelo menos oito séculos.  A  expressão «antiga igreja» constante do despacho régio (1) vem corroborar esta conjectura.

Um outro dado muito relevante vem juntar-se a este puzzle alegadamente quinhentista, do altar descoberto. Segundo o testamento dum antigo Provedor da Misericórdia, Dom Francisco de Sande (2) (3), o seu corpo deveria ser sepultado precisamente «em sepultura de meus Avós, que era em a Capela maior da Paroquial Igreja de S. Julião, de Vila de Punhete,  ao longo do primeiro degrau; e aos lados estão muitos Irmão e Primos e Tios meus».

Sabemos que a avó dos amigos de Camões (Heitor da Silveira e João Lopes Leitão), do célebre «Banquete das Trovas» terá morrido em 1544 e foi sepultada na Igreja de S, Julião de Punhete (4)

Será que estes restos do altar não serão da Capela maior da velhinha paroquial?

Manuela de Azevedo, saudosa fundadora da Associação da  Casa-Memória de Camões em Constância escreveu um dia a «Mágica visão» em que via o poeta a rezar ali na velhinha paroquial de São Julão, paredes meias com a Casa dos arcos e, o palácio da torre onde teria sido prisioneiro.

hay.jpg

 

Será este altar contemporâneo  de Camões? Têm a palavra os técnicos e especialistas. À Santa Casa, os agradecimentos pelas informações e fotos.

José Luz (Constância)

 

PS – não uso o dito AOLP

                                        

(1)           «Manda El Rei,  pela Secretária  de Estado dos Negócios  de Justiça, que o Reverendo Bispo de Castelo Branco, em conformidade da sua informação, sobre o requerimento do Juiz Presidente e Oficiais da Câmara da Vila de Punhete, faça expedir os despachos necessários, para que a Paróquia da dita Vila,  seja transladada, para o Templo dedicado a Nossa Senhora dos Mártires, em razão de estar arruinada a própria, e antiga igreja de S. Julião da dita Vila, combinando-se as horas para que diariamente, os Capelães daquela igreja celebrem as Missas solenes e privadas, e o Pároco da de S. Julião todos os Ofícios Divinos, e administre os Sacramentos: sem perturbação daqueles a que são obrigados os ditos Capelães:  fazendo-se Termo, com as devidas declarações, assinado pelo Pároco, Câmara, Mesários da Confraria, e mais Pessoas a quem competir. Palácio de Queluz, em 25 de Fevereiro de 1822. = José da Silva Carvalho.» - Diário do Governo, edições 77-151, página 670.

 

(2)           «Logo na primeira invasão que se verificou nesta Vila no dia 24 de Novembro de 1807 data a ruína dos templos desta Vila (…) Nestes calamitosos dias sofreu o povo desta vila incalculáveis incómodos; foram as casas abertas à tropa, o que se apregoou com pena de morte; os templos franqueados, desacatados e delapidados, ficando este povo tímido, convulso e arruinado, o que totalmente aconteceu na última invasão de… Novembro de 1810 (…)Terra alguma do Ribatejo se pode comparar com esta ruína (…) Que a famosa igreja, obra dos mais remotos séculos,  que a paroquial de S. Julião, «que era um monte de oiro», como dela disse o seu Comendador Forbes, que a nossa antiga Mãe, onde descansam os restos dos nossos tão dignos Antepassados, está reduzida à maior indigência, sendo antes decorada com belíssimos quadros e painéis de Grão Vasco, e de outros insignes autores, e o tecto da capela-mor, da mais  preciosa arquitectura, e os cinco altares que tinha, enobrecidos com tronos todos doirados,  e particularmente com imagens, as mais expressivas e devotas». - Descripção da Vila de Punhete, Verísismo José  de Oliveira, 1830, Transcripção, Prefácio e Notas Complementares de José Eugénio de Campos Godinho, 1947.

 

(3)Testamento de D. Francisco de Sande, de 1 de Janeiro de 1620.

(4)Garcilaso, Principe de poetas, una biografia, Maria Del Carmen Vaquero Serrano, Centro de Estudios Europa-Hispânica, 2013.

 



publicado por porabrantes às 09:54 | link do post | comentar

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