Memória e Testemunhos das Prisões Políticas depois do 25 de Abril de 1974
PASSAVA a hora do almoço, quando a coluna militar, que escoltava os presos do Regimento de Artilharia de Lisboa (RAL1), metidos em carrinhas celulares e camiões Berliet, saiu do quartel mais uma vez com destino que desconhecíamos. Pela direcção que tomou começou-se a aventar a hipótese que seríamos levados em direcção ao Forte Caxias o que se veio a confirmar. Numa estrada do vale do Jamor e em marcha relativamente lenta e apesar de escoltados pela tropa a coluna era obrigada a algumas paragens determinadaspelas chamadas «barragens populares» destinadas a controlar as movimentações de «reaccionários» do «28 de Setembro», que, dizia-se, avançariam sobre Lisboa com armas escondidas para combater a revolução. Numa dessas paragens, a Berliet de caixa aberta em que eu seguia teve várias tentativas de assalto perante a passividade dos militares que nos guardavam. Valeu o desembaraço de alguns dos presos que, sentados no chão em pneus, ao verem as «mãozinhas» que apareciam nos taipais para saltarem para a caixa da viatura, de imediato as pisavam repelindo, assim, o assalto.
Interroguei-me, será possível? Prenderam o Major uma das figuras mais proeminentes do Movimento das Forças Armadas (MFA)? De facto não … porque logo de seguida emendaram: «Sr.Tenente Antunes!».
Tinham-se enganado! Tratava-se do pai do Major Melo Antunes. O Sr. Tenente que era o Chefe de Informações da Legião Portuguesa (LP), dirigiu-se de imediato à porta e foi libertado. O chefe saíu, mas os seus subordinados que com ele trabalharam ficaram e comentaram ao meu lado...
O Major Melo Antunes, considerado o intelectual da revolução «safava» o Paizinho!
Afinal para a Revolução de Abril havia pais, filhos e enteados…
Fizeram-se prisões a eito de velhos legionários para fazer número e, assim, poder justificar que estava montada uma enorme «tramóia». O que era preciso era levar gente não se dando ao trabalho de ver quem era quem. Depois avisaram o Major que lhe tinham preso o pai. E a ordem chegou a Caxias «libertem o pai do Melo Antunes».
Pouco importava que fosse o chefe de um serviço de informações que tinha fama de saber e fazer muita coisa... Viu-se!
Depois, seguiu-se revista pessoal aos presos, a entrega das mantas e a distribuição pelas celas. Uma dezena por cada uma.
José Manuel Costa - 18/03/07
O Major Antunes foi preso na sequência do 28 de Setembro
O nosso amigo José Luz dá-nos outra saborosa crónica sobre as memórias de Constância. Imperdível...
Memórias dos piqueniques de antigamente em Constância
Na vila de Constância a tradição de fazer piqueniques vem de longe. Debaixo dos salgueiros do Tejo, no Pinhal D’ El Rey (entretanto destruído pelo município), nas margens do “rio” (Zêzere) passando pelas fontes Férrea e Velha, ou mesmo pela Charneca, vários eram os locais eleitos quer pelas famílias mais aburguesadas quer pelas famílias comuns, para confraternizarem
Piqueniques dos anos 20 a 40 do século passado, em Constância: Pinhal D’El Rey, margem do Tejo e Charneca/campo.
A foto em cima à direita, do conjunto com quatro fotos, retrata um piquenique por volta de 1920, na margem do Tejo, junto à Quinta da Légua, antiga propriedade da família Corte-Real. À esquerda, em baixo, sentada, está Guilhernina Guia, de apelido “Pirra” a qual serviu de modelo para o anjo das tranças da alegoria de José Malhoa da Assunção de Nossa Senhora, quadro do tecto da Matriz da nossa vila.
A espreitar, na árvore, está uma criança, Augusto Alves Soares nascido em 1911, sobrinho do médico e grande agricultor, Dr Francisco Augusto da Costa Falcão (este médico era mecenas de Columbano e patrocinador da obra de Malhoa).
Augusto Soares, um saudoso amigo que me facultou cópia da referida foto e que me transmitiu informação privilegiada sobre factos e tradições locais. Logo à sua frente está o médico Dr José Eugénio de Campos Godinho, antigo delegado de saúde e fundador da Legião Portuguesa na vila, filho do indefectível republicano, José Eugénio de Nunes Godinho (este trazia a Constância para o seu palacete, António José de Almeida e outros nomes do republicanismo).
“Cantinho florido” na Fonte Velha. Grupo de senhoras e meninas das famílias Rocha, Meira e Burguete. 1924. Imagem de Mendes Lopes.
Na foto encontram-se membros da família Burguete (pertenciam a esta família o padre João Alves Meira que contratou Malhoa, bem como António Alves Meira, simpatizante da Carbonária…).
Nestes convívios na margem dos rios, com direito à música e fotografia, discutia-se sobre a actualidade. E com etiqueta.
Não sei se Malhoa teria escolhido o seu “anjo” por ocasião de algum destes piqueniques. Na vila falava-se ainda que o rosto de Nossa Senhora foi pintado tendo como modelo a mulher de um engenheiro da família Sommer que para aqui veio aquando da construção da ponte sobre o Zêzere. O tempo passa, os velhos vão desaparecendo, mas fica o testemunho que nos legaram.
Na primeira foto do mesmo conjunto temos um piquenique no Pinhal D’El Rey, anos 40(?) em que ao centro surge o maestro da Filarmónica “Primeiro de Dezembro”, Carlos Amadeu Saraiva Silvares de Carvalho, militar e fundador do rancho “Flores de Constância”. Segundo a minha mãe, era comum o meu avô promover esses piqueniques no Pinhal, antigo pulmão da vila. Ao longo percebe-se a curva do Tejo onde se quebra a mansa veia, no dizer do poeta… Esta foto foi-me oferecida pela viúva de um dos “confrades” no caso em grande plano, o Talhadas. Mais uma vez lá estava o fotógrafo.
Ainda conheci o Pinhal D’El Rey,. Pouco resta desse ecossistema de espécies raras. Vieram os planos directores municipais, foram-se os velhinhos planos de urbanização. Veio o betão e a descaracterização da paisagem e veio a desertificação da zona histórica da vila. Já não há piqueniques que resistam a esta metamorfose…
Nas margens dos rios os areais há muito destruídos pela extracção desenfreada e gananciosa já não conservam a beleza e o encanto de outros tempos. Já não se vêem os barcos com as famílias em busca da sombra e da frescura e da brisa do rio.
Na terça-feira de Praia, logo a seguir à Segunda-Feira de Nossa Senhora da Boa Viagem, era costume os marítimos fazerem um piquenique com caldeirada, nos rios, em que se transmitia a bandeira para assinalar a passagem de testemunho aos novos festeiros.
Numa outra foto temos um pequeno aqueduto/ponte, das Águas Férreas, junto a Constância, mas na margem sul do “rio” (Zêzere). Diz-se nas Limeiras que antigamente as senhorinhas de Constância vinham para aqui buscar água e algumas aproveitavam para namorar. O sítio é escondido e fica acima do Lagar do Rio. Ouvi o testemunho duma antiga cozinheira da Gulbenkian, Fernanda Josefa, filha do padeiro Joaquim Alves, a qual me contou que antigamente iam para a Fonte férrea fazer piqueniques. Já explorei o local e bebi daquela água corrente, num local mais abaixo, e senti-me muito bem. Tenho cópia duma publicação sobre a Notícia destas águas, de 1799. É assunto para um desenvolvimento autónomo, pois existe um historial de alegadas curas com base nestas águas, ao longo dos tempos e até mais recentemente.
passeio de barco duma família local, rumo a um piquenique.
Quando eu andava na catequese nos anos 70, a paróquia também organizou um piquenique perto da Quinta de Santa Bárbara. O sr. Álvaro, chauffeur da Casa Agrícola, Themudo, levava jarros de sumo/refresco que transportava na carrinha a mando da Dona Maria José Falcão. Havia sandes com fartura. E a apanha obrigatória dos pinhões. O caminho até ao local, sinuoso, com florestação por vezes densa e agressiva, era para nós uma pequena aventura. A meio caminho havia paragem obrigatória na Ti Rita do sr. António Marques, para refrescar a boca com tragos numa concha corticeira. E havia sempre tremoços. Que gente tão bondosa.
Mais tarde as crianças da minha rua e vizinhança fizeram um piquenique junto ao depósito da água. Há quem tenha as fotos .Os piqueniques eram uma oportunidade para o convívio social. E para a socialização. Deles terão saído namoricos, negócios, conspirações. Disseram-me que era costume fazerem piqueniques nos pequenos areais do “rio” (Zêzere) perto do Vale Escuro. As praias convidavam ao merendar.
Nas últimas décadas tentou-se construir na vila um açude no “rio”. A hidráulica tratou de criar obstáculos a esse projecto. Abrantes, mercê das influências do PS, passou-nos a perna… e conseguiu o açude. Um dia no Gavião, ainda confrontei José Sócrates com os problemas da aprovação do açude, última fase do chamado POMTEZE, ordenamento das margens dos rios. Na altura Sócrates creio que era ministro do ambiente . Deu-me uma resposta arrogante, tendo ficado incomodado. O assunto foi publicado na “Gazeta do Tejo’. Há dias li numa entrevista que o actual autarca de Constância quer levar por diante o projecto da praia do “rio”. A médio prazo. Os piqueniques voltarão? Ou é tudo uma miragem. Sonhar não faz mal a ninguém. Oxalá!…
José Luz
(Constância)
PS – não uso o dito AOLP.
Segundo este artigo, no ''Expresso'', de Carla Tomás, enquanto cairam as emissões da central termoeléctrica pegacha, subiram as da central de ciclo combinado (mais 2,9%) e esta alcançou o 6º lugar no ranking das grandes poluidoras nacionais.
mn
As pobres emigrantes ucranianas, introduzidas no Dubai, para decorarem uma festa dum amigo de Obama e grande benemérito das campanhas do Partido Democrático, vão ser deportadas para os frios países eslavos
Já não há respeito pelos direitos humanos.
ma
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