Em 17-2-1813,o Marechal britânico Beresford, Conde de Trancoso (etc) e na prática Regente do Reino (estando a Família Real no Brasil) manda confirmar a absolvição em Conselho de Guerra, do Coronel do Real Corpo de Engenheiros, Manuel de Sousa Ramos, que estava encarregado de no mais breve prazo possível de erguer as pontes militares de Abrantes, Punhete e Vila Velha (de Ródão).
O Coronel fora acusado de não seguir todas as normas burocráticas na contratação de operários e compra de materiais. Mas a sentença considerou que a ordem que tinha era construir as pontes no mais breve espaço de tempo, para ajudar ao esforço de guerra.
Assim sendo e não tendo havido prejuízo do Real Erário, agiu bem o dito e reputado Engenheiro, considera Beresford, confirmando a sentença. E tal nota mandou afixar na Ordem do Dia da citada data.
Sobre Sousa Ramos em Abrantes e região, ver o colega Coisas de Abrantes.
mn
Coroa de pedra-túmulo do último morgado
No centro do velhinho cemitério de Constância existe um túmulo histórico, o do último morgado da «família dos Cabraes» da vila de Constância. Meio escondido entre fetos e roseiras, de pedras cinzentas carcomidas pelo andar dos tempos, cujas letras se vão dissipando aos nossos olhos, jaz debaixo do olhar não menos cinzento e negligente da edil administração.
Sabemos que a família dos «Cabraes» estará ligada a Punhete (actual Constância), pelo menos, desde Gonçalo Velho Cabral, o Descobridor, freire da Ordem Militar de Cristo, Comendador de Almourol. Maria Clara Costa, antiga conservadora do ANTT (Torre do Tombo), referindo-se à nossa vila, conta-nos ainda que «muitos dos desta família por ali viveram durante séculos» (1)
Antigo Palacete da D.Eulália Cabral de Moncada
Em 1575 fazia parte do capítulo do Convento de São Domingos de Lisboa, um Frei João de Camões «talvez o mesmo que no dito convento é juiz em 1602», opina aquela investigadora. Ora, em 1515, adianta ainda Mª Clara Costa que é referido como morador da Casa Real, «um Pero de Camões, sobrinho de Jorge Dias Cabral». Não sendo versado em genealogias, só posso limitar-me a fazer citações que carecem de investigação e que terão interesse para a história dos «Cabraes de Constância» (?) e suas hipotéticas ligações camonianas (?)… «Que Camões»? (sic Mª Clara Costa, no artigo abaixo citado). No concernente às ligações do nosso poeta aos dominicanos, estamos sobejamente conversados: há dados históricos.
A tradição local da vila de Constância (com o passamento dos locais também morre a tradição…) fala-nos de Dona Eulália de Moncada Falcão, descendente do artista-nato, Herculano de Moncada. Teve a honra especial durante as invasões francesas, de ter à porta de sua casa uma sentinela do exército francês, para que a sua casa fosse respeitada. Uma honra que lhe foi concedida por falar francês, o que era invulgar na época na educação de uma senhora. Esta informação que recolhi dos velhos da vila durante a minha adolescência, é também corroborada pelo Médico Dr José Eugénio de Campos Godinho nas suas «Notas Complementares» editadas em 1947 em apêndice à obra do Padre Veríssimo. Dá-se o caso de eu ter na minha posse um livro de história em francês do século XVIII, assinado pela Dona Eulália Falcão o qual me foi oferecido por uma amiga da D. Teresa Moncada (descendente da D. Eulália), no caso, Maria José Cardoso Fonseca. O suposto conector histórico aqui em relevo é o facto de D. Eulália Falcão (haverá mais do que uma D. Eulália?), ser da família dos «Cabraes» (seria descendente de um dos doze de Inglaterra de acordo com um antigo painel de azulejos existente no palacete onde morava e que foi residência de Ministro Passos Manoel).
Quanto ao mítico episódio dos Doze de Inglaterra, o mesmo encontra-se imortalizado por Camões no Canto VI.
Em Constância temos ainda notícia, por exemplo, do Conselheiro Francisco Cabral de Moncada que foi Governador da Província de Angola e Procurador Geral da Corôa. O seu filho, Luís Cabral de Moncada, era professor de direito da Universidade da Coimbra.
Passo a reproduzir a legenda do histórico e abandonado túmulo do último morgado dos «Cabraes de Constância», de cuja existência fui informado na minha adolescência por uma personagem saída das brumas da história. Estava eu a conversar sobre a Torre de Punhete e eis que passou na minha rua um vulto, alto, de sobretudo escuro, chapéu. Disse-me para ir ao cemitério e indicou-me a localização da tumba do último morgado. E, desapareceu dos nossos olhares, esguio, misterioso…
Legenda do túmulo do último Morgado dos «Cabraes de Constância»:
«Em memória de
Nossos filhos
Eulália
e
Jacintho Cabral
Falcão
Em 1884
Aqui jaz
Manoel Joaquim da Costa Cabral
último morgado da família
Cabraes de Constância
Nascido em 30 de Maio de 1820
E falecido em 11 de Maio de 1878
Em memória do seu muito querido
Irmão aqui fez colocar este túmulo
Família Cabral Falcão»
Túmulo do último morgado dos Cabrais de Constância
(1)«Alguns Camões pouco conhecidos»
Maria Clara Pereira da Costa in «Olisipo», números 142 e 143, anos 1979-1980.
Creio ser de absoluta e inadiável necessidade proceder-se ao restauro e conservação deste túmulo histórico do último morgado dos «Cabraes de Constância».
Da memória local dos «Cabraes» temos aí a rua Cabral Moncada e, agora, o «Largo Cabral Moncada». A história da estranha posse deste largo por parte da edilidade é matéria para outro artigo, se for o caso.
Ruínas de um forno de cerâmica do século XVII, no sítio do solar Cabral, ruínas escondidas pelo actual edil. (1)
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