Sexta-feira, 17 de Julho de 2009

A necessidade de afirmação dos políticos pela “obra” esconderá a capacidade de afirmação pela prática politica e pela boa governação? Nuns casos sim, noutros talvez não mas todos governam para ganhar a eleição seguinte. E assim se encheu o País de rotundas esplendorosas e agora de museus e centros culturais de coisa nenhuma com custos astronómicos de construção e de manutenção que vamos todos alegremente pagando sem nos queixarmos. A culpa é portanto nossa, de quem apoia esta política e de quem não apresenta alternativas.

 

Não quero discutir a necessidade do Museu Ibérico (qual Guggenheim Abrantino) nem a bondade da decisão.

 

Também não quero discutir a estética e a qualidade da arquitectura pois, nessa arte maior, como em quase tudo, pode-se defender com argumentos validos uma coisa e o seu oposto. É por isso uma discussão infértil saber se o edifício do Museu Ibérico se encontra desenquadrado em termos urbanísticos “afirmando-se” por contraste! Com isto não se pretende dizer que não seja por demais evidente a aberração e a escala desajustada do objecto. Infelizmente, há gostos para tudo... quando o “gosto” não é educado.

 

O problema que está aqui em causa é um problema de que o País enferma há muitos anos: o novo-riquismo. Fazem-se obras faraónicas ao lado de património arquitectónico em ruína. Construiu-se o Centro Cultural de Belém e pretende-se agora um Novo Museu dos Coches numa Cidade onde existem inúmeros Conventos e edifícios de elevado valor patrimonial em ruína. Basta viajar por este País fora para se ver, por todo o lado, o património em desgraça e ruína ao lado de obras sumptuosas, Centros Culturais, Museus, Casas da Cultura (de inegável valor arquitectónico em muitos casos) mas cheias de nada e de ninguém.

 

Quando eu era pequeno costumava brincar no castelo de Abrantes. Ficava fascinado com as escavações arqueológicas inacabadas e com os mistérios que tudo aquilo encerrava. Subia à torre de menagem de onde se vislumbrava todo o horizonte que os nossos olhos conseguiam com o Tejo a serpentear entre os vales. Ficava ofuscado com a grandiosidade de tudo aquilo. É ainda, para mim, um dos lugares mais maravilhosos deste pequeno País, tem uma dimensão inigualável pela grandeza do que se alcança.

 

Por outro lado inquietou-me sempre o estado de abandono e de ruína de tudo aquilo. Achava sempre que um dia iam terminar as escavações e então seria tudo arranjado e recuperado. Sempre se falou da sua recuperação, e da instalação de uma pousada, ou de um hotel, ou de um restaurante, enfim qualquer coisa que trouxesse vida. Os anos foram passando e a esperança foi-se perdendo e o estado de ruína e abandono foi-se agravando.

 

Quando pela primeira vez “vi” o Museu Ibérico não liguei à bestialidade da dimensão mas lembrei-me logo do Castelo. Onde melhor do que ali poderia estar um museu? ainda para mais de arqueologia! A oportunidade é única pensei eu, pois, ao que parece, agora há o dinheiro que nunca houve.

 

Infelizmente percebi rapidamente que ainda não era desta. É mais importante mostrar que se fez um obra nova do que, ao fazê-la, preservar o que de melhor temos.

 

É assim este País e a culpa é toda nossa.

 

Gil Serras Pereira



publicado por porabrantes às 00:34 | link do post | comentar

1 comentário:
De tramagalense a 18 de Julho de 2009 às 00:17
Pois eu já assinei a petição e pedi aos meus amigos para fazerem o mesmo.
Estou por Abrantes e pela sua beleza arquitectónica.

tramagalense.blogspot.com


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