Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010

ECÇÃO: Colunistas


2 Nov, 07:37h

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Um texto de José J. Cabral

INVENTÁRIO DO PATRIMÓNIO CULTURAL

Há ocasião própria para tudo debaixo do céu: Eclesiastes 3:1-8: Tempo de nascer e tempo de morrer, de plantar e de arrancar o que se plantou, de ferir e de curar, de derrubar e de edificar…

Com base nesse pressuposto, se calhar eu nem tivesse razão para me preocupar com este assunto. Afinal há um tempo próprio, até para se fazer o inventário do património cultural.

Não sendo teólogo, assiste-me alguma complacência, relativamente à compreensão que tenho de determinadas disposições bíblicas. Não entendi bem, aquilo que vem fixado em Eclesiastes, ou seja, que devemo-nos sentar, estender as pernas e passivamente esperar pela chegada dos tempos. Julgo que, para determinados fenómenos (nascer, morrer,…) nada mais há a fazer que sentar e esperar. Para outros, não acho correcto. Há que os fazer acontecer. Logo, não me sinto obrigado a aguardar passivamente à chegada do tempo de se fazer o inventário do património cultural de minha terra. E, porque, há tempo de estar calado e tempo de papiar… tal como estatuído no mesmo princípio, decidi papiar.

E o que vou dizer é o seguinte: Temo que muita coisa se terá perdido quando o inventário do património acontecer. É claro que o tempo sempre chega, todavia, como disse Machado de Assis, há ocasiões, em que o tempo chega fora do tempo.

As Nações Unidas em 1972, e o Governo de Cabo Verde através da lei 102/III/1990, deram conta dessa necessidade, e tomaram medidas, tendentes à inventariação e preservação do património.

O que se fez de então a esta parte?

Há uns anos, iniciei como pude, por cá na minha terra Saninklau, à minha maneira, se calhar sem os rigores que se exige, o meu inventário. Já agora não só o material, mas sobretudo o imaterial, que mais rapidamente desaparece com as “partidas” mais que eminentes das muitas “bibliotecas” armazenadas nas mentes de nossos anciãos.

Qual “caçador de heranças”, - não escondo-o, apropriei como pude, de muito desses “arquivos” vivos. E porque não sou egoísta, expus o que coube dessa herança, no “Sodade de Nhâ Terra Saninklau”. O resto guardado, não a sete, mas a 14, quem sabe, 21 chaves.

Não se zanguem se pedir agilidade. Tornei-me assim nos últimos tempos, quando em causa está a preservação do património. E não me perguntem porquê, pois nem eu sei explicar. Deduzo que decorre da importância que descobri, que se dá noutras paragens. A fundação Mário Soares (Deportados da Revolta do Estado Novo). Uma Câmara Municipal de Portugal que editou meu livrinho (Sodade de Nhâ Terra Saninklau), a Rádio Antena Livre (Vale do Tejo), a Rádio Vaticana (Onde fui entrevistado em 2007), Uma universidade Americana (Pesca da Baleia), são algumas entidades que nos têm batido à porta, a propósito dessas pseudo-investigações culturais. Até a Secretaria Regional de Educação e Cultura da Madeira, através do Centro de Estudos de História do Atlântico pediu a minha anuência para incluir meu nome na lista dos investigadores … “Estamos preparando uma lista de investigadores insulares ou que trabalham sobre esta temática. Caso esteja interessado em que o seu nome figura agradecemos que nos envie as seguintes informações:

1. Nome completo; 2. Instituição; 3. Ilha; 4. url da página para podermos fazer o link. Todas as informações ficarão disponíveis em: http://www.madeira-du.pt

E não é que eu, atrevidamente, estou a considerar a possibilidade de aceitar?

Bem, dizia: Aprendi a admirar e valorizar aspectos históricos da nossa cultura, e decidi que não ia ficar pelos triviais, que constam em qualquer manual; A arquitectura atraiu meu interesse. Hão de perguntar, mas porquê arquitectura? É muito simples; Consequência do relacionamento com Djosa ou Zé de senhor Norberto, esse Patchê despretensioso, que mesmo por isso, não se dá nas vistas, com quem partilhei habitação no Brasil. Os catedráticos da Universidade Federal da Paraíba onde ele pós-graduou-se, que estiveram à sua procura quando, por amor à terra decidiu vir morar em Cabo Verde, falaram-me da elevada intelectualidade das qualidades e do arrojado projecto de pesquisa que ele desenvolvia. Mas foi sobretudo em decorrência a partilha de pontos de vista que despertaram ao menos a minha sensibilidade, e hoje, gabo-me de conhecer e poder diferenciar o verdadeiro significado de “arquitectura”, discernir entre a boa e a má, seu valor histórico-cultural e até simbólico.

Disso, decorre a dor que me vai na alma por ver”Lombinho”, em estado de derrocada eminente a que chegou. Não é por ter lá morado alguns meses, não é por ter sido residência de minha madrinha (Ricardina Barros). É pelo seu valor arquitectónico, história que encerra, pelo simbolismo associado aos tempos áureos de minha terra Saninklau.

 

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Observem esta relíquia. Apreciem-na? Terá por aí dois séculos, sei lá. O que sei é que a estrada de lombinho nem sequer estava lá. Transitava-se por lombinho de baixo que dá para Maiamona e por Lombinho de riba, que desemboca no largo da enfermaria.

 

Hasteadas a então bandeira nacional (Portuguesa) e a Inglesa. Inglesa? Inglesa sim! A que propósito? É que a casa pertenceu a Edmund St Aubyn. Inglês de Chelsea.

Descobriram porquê homem de Saninklau tem mania de papiar inglês quando está fusco? E porquê, Marê Lili, era tida como “colega-grande”, colega de “Djack Santóba” (St Aubyn, de que por exemplo, o Dr. Jorge Figueiredo presidente de Sal é descendente )?

Mas há mais: as Ruínas da Pesca da Baleia, o Talhão dos Judeus no cemitério de Tabuga (que por acaso está preservado), ao contrário do Cemitério de Marica que se perdeu sob as casas edificadas na Marica, onde certamente jaze boa parte da história da ilha.

 

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E já nem falo das ruínas da primeira Colónia Prisional de Cabo Verde, porque após a intervenção e chamadas de atenção, de ter abortado a alienação do terreno deliberado pela Câmara do ex-presidente B. O., acredito já não ousarão tocar no local, que todavia, espera por intervenção de fundo.

 

COLÓNIA PRISIONAL DA ILHA DE SÃO NICOLAU – A PRIMEIRA DE CABO VERDE

 

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O esquema abaixo, constitui o único arquivo do que foi aquela colónia. É propriedade da Fundação Mário Soares, produzido por um ex-preso.

 

 

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Cais Cadório – Por onde a pesca, que até então era feita de forma quase primitiva, entrou em Cabo Verde, pelas mãos dos irmãos António e José Madeirense.

 

A CASINHA ONDE NASCEU BALTASAR LOPES NO CALEIJÃO, E QUE SERVE DE INSPIRAÇÃO PARA A CASINHA DE CHIQUINHO.

“ … Como quem ouve uma melodia muito triste, vi a casinha em que nasceu Chiquinho no Caleijão no estado em que a foto documenta.

 

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E a casinha onde cresceu Baltasar (o autor) também.

 

VILA DA RIBEIRA BRAVA

Serão património, deverão constar do inventário? Não tenho certeza. O que sei é que encerram, parte significativa da história e cultura da ilha, logo de Cabo Verde. Já por isso, merecem preservação.

RUÍNAS DOS DEPÓSITOS E OUTROS VESTÍGIOS DA PESCA DA BALEIA QUE TEVE IMPORTANTE NESTA ILHA - A pesca da Baleia, sobre que escreveu o capitão Roberts, súbdito de Sua Majestade, registado em seu diário de bordo, preservado em museu Londrino, a propósito dos Matutos e Tabaréus extremamente fiéis e dóceis, do Carriçal, que o auxiliaram no desencalhe e reparação de seu navio baleeiro, e ainda ofereceram-lhe um delicioso caldo de peixe.

 

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A simpática igreja de Queimadas.

 

Mandada construir pelo Bispo D. Jacinto Valente, que também suportou as despesas, foi inaugurada em 1745. Quase caía. Felizmente houve quem metesse mãos à obra, depois de Padre João ter feito a última remodelação em 1910, conforme carta por ele assinada, encontrada sob o já podre assoalho, durante o restauro.

 

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Preguiça – Inegavelmente um património, dentro do qual existem outros;

 

Fortaleza do Príncipe Real na ilha de São Nicolau … 1819.10.12 – Inicio da construção.

se calhar fosse melhor referir aos restos do Forte, pois, como é sabido, em anos idos, um ilustre Delegado do Governo mandou servir do que era a muralha para edificar a escola mesmo ao lado. Ainda assim, do que restou é impossível visitar. Cada passo para ler as várias inscrições gravadas nas peças ali existentes, transforma-se numa aventura, pois corre-se o risco de “empastar os pés em … mérda. É isso mesmo, mérda. Peço desculpas a quem escandalizar possa, porém, a minha revolta é neste caso, maior do que o meu pudor. Já disse. Está dito. Quis trocar por sinónimos como “púpú”, “côcô”, “cáca”, mas é mérda mesmo. O que está ali, a enfeitar um dos mais emblemáticos cartões-postais da ilha é mérda.

A capela dos navegantes esta mereceu a intervenção de restauro da Câmara. A anterior. (erguida em homenagem a Antónia Pusich, filha do então intendente da Marinha – António Pusich, que se tornaria governador da província – Antónia Pusich, por si só um monumento. Simplesmente a primeira Jornalista Portuguesa. É verdade. É natural de São Nicolau, a primeira mulher lusófona, que assinou artigo de jornal como jornalista e directora de periódico), o monumento aos descobrimentos (que sinaliza a passagem de Pedro Alvares Cabral a caminho do Brasil)…

E creio haver mais; O pequeno cais, construído por e com material doado pelo médico Doutor Júlio.

 

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Ruínas da casinha de Doutor Julio José Dias. Este que é cronologicamente o primeiro médico Cabo-verdiano. Nascido em Chã de Abrantes, na Stancha, sua memória aguarda recuperação. Doutorado na Sorbonne, a melhor universidade de então, estamos no ano de 1830, foi quem entre vários feitos altruísticos em prol de São Nicolau, “cedeu a sua mansão solarenga, para que se instalasse o seminário-Liceu, transferindo-se para uma modesta casinha em Cacháço, onde acabaria por morrer”;

 

Ficaria por cá a enumerar, mas…

Ainda há o “El Chuchumbé”, as “Divinas”, Os “cantares P’ras almas”… (patrimónios imateriais, em quase desuso, mas que também guardo).

A Lenda do “Caminho-de-pau”, Tarrafal na II Guerra Mundial - Submarinos em Tarrafal.

E porque não falar dos “nossos” deportados da revolta do Estado novo?

A farinha-de-mandioca, a que apelidaram de pau. Será património? O laranjal de Ribeira dos Calhaus, um dos dois primeiros plantados em Cabo Verde (o outro foi na cidade velha) … Persiste.

Minha contribuição despretensiosa

José J. Cabral

 

in O Liberal publicação de Cabo Verde (ver aqui )

 

Nota : como não somos censores deixámos ficar as referências à Rádio Antena Livre. O primeiro esposo que aprenda o que se chama Liberdade.

 

Que aprenda a Câmara e as freguesias desta cidade e do concelho com a saborosa prosa do patrício de Cabo Verde.

 

Se não preservamos o que temos, não seremos nada.

 

Amanhã verificaremos como a Câmara de Salamanca declarou ''no grata'' a associação de defesa do património local por defender a Cidade, património da humanidade dum artiquecto-estrela, Mestre Siza Vieira.

 

E como venceu a associação a luta contra o poder autárquico!!!

 

E isto (que também veremos) que Mestre Siza é um homem muito mais consciente do valor do património que o licenciado de Portalegre.....

 

Curioso o que sublinhámos, o topónimo Chã de Abrantes em Cabo Verde



publicado por porabrantes às 23:55 | link do post | comentar

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