Li por aí que havia fome. E que os esfomeados gritavam.

Parece que um tal Graça, presbítero e não fabricante de cubos  resolveu avisar o povo.

Foi na Barca.

Não me parece que seja verdade, João Pico está cada vez mais gordo e é o maior pobre de espírito do Souto, disse-nos o Vigário.

Também encontrei outro pobre oficial, consta da lista dos que recebem rendimento não sei quantos, a assistência social não é o meu forte e o homem tem um Mercedes último modelo que diz que é necessário para distribuir o pó ao domicílio.

A minha Avó tinha um pobre particular ao domicílio. Era muito disciplinado e recusava-se a aceitar esmolas de outras senhoras, porque a minha Avó se podia ofender.

De maneira que resolvi que o meu pobre particular ao domicílio era o do Mercedes. Queria um com Jaguar, mas não havia.

Perguntei ao meu pobre se costuma gritar de fome.

Disse o gajo: só grito quando há uns caloteiros que não pagam o pó. Mas grito por pouco tempo. E mostrou-me um utensílio que usava para combater o caloteirismo.

É uma Ak-47. Se não é, o Cidadão Abt faz favor de corrigir.

Voltando ao meu pobrezinho, disse-me o homem: ò doutor precisa que eu convença alguém a assinar a petição?

Por exemplo, a D.Maria do Céu....

Ò Jeremias, tem calma, toma lá 100 € para as munições e deixa os amigos do Carrilho da Graça sossegados.

O Jeremias respondeu: Sim, senhor doutor e foi à vida. Ou melhor vender pó....

Marcello de Noronha