Pequenos subsídios para a história da colectividade e da vila

 

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Estrela Verde de Constância

o Clube saído da Revolução

No 45º aniversário do C.E.V. - Clube Estrela Verde de Constância, recordemos os movimentos populares que estão na sua origem, em tempos revolucionários. Tempo ainda que trazer a lume a polémica do auto de fé em torno do espólio da Legião Portuguesa...

No período que medeia entre a Revolução de Abril de 74 e os idos de Março de 75, surgiram dois movimentos populares na vila de Constância de carácter associativo e que estarão na génese da criação do Clube Estrela Verde de Constância. Um era constituído por Acácio Horta da Luz, Pedro Nogueira e José Augusto Pinheiro, pelo menos. No antigo café do bairro alinhavaram um projecto inicial de estatutos. Concomitantemente surgia um outro movimento, desta feita constituído por Cesaltina Jofre e Rui Jofre ao que julgo saber e me é familiar. A ponte entre os dois movimentos e fusão de facto num só ocorreu e, aí está o Clube, o nosso Clube.

A entrega das chaves de acesso ao edifício da actual sede aconteceu pela mão do então Engenheiro Pinheiro, responsável pela Comissão Liquidatária da então Legião Portuguesa instalada desde os anos 50 pelo menos, no 1º andar, divisões que se destinavam por testamento a moradia das professoras da Aula Falconina (e aqui recordo de memória registos vários entre os quais a nota do testamento que o padre Drake nos dá e informações do Ministério das Finanças que obtive do antigo presidente José Ramoa Ferreira). Com efeito, Jacinto da Silva Falcão terá feito testamento para usufruto do edifício para o ensino feminino. Sobre o cumprimento ou incumprimento do testamento e reversão dos bens (edifício) para os herdeiros da referia família teríamos matéria sem fim, do ponto de vista jurídico. A legislação revolucionária tudo diluiu e a ocupação do edifício aconteceu de facto. Durante o PREC – Processo Revolucionário em Curso. Para mim foi uma ocupação, ainda que sem o arrombo de portas e sem o uso de violência. E não estou a emitir juízos de valor. É um facto. A gestão do 2º andar não seria algo alheia à Delegação Escolar. Sabemos, por exemplo, que em 1966/67 ali funcionava uma turma masculina. Em 1973/74 havia ali uma turma a funcionar.

A posse administrativa do edifício por parte do Estado e a sua ocupação por parte do C.E.V. parece caso decidido pois o tempo tudo cura e até o mesmo já foi adquirido/comprado… ao Estado…

Estas coisas geram sempre interpretações, quiçá diversas. O importante não é ter a razão toda…mas apresentar o pensamento e os factos que lhe subjazem.

E foi assim que por impulso popular em tempo do PREC, se criou o CEV. No dia da inauguração lá estava sentado numa carteira antiga da escola primária a personagem do Tenente Soares, antigo edil, com o seu sobretudo característico. À sua frente, uma das mesas baixas com pernas de cortiça que ao tempo se engendraram. Entre o registo da colectividade em 25 de Março de 75 e a abertura à população, procedeu-se a um melhoramento geral do edifício, com pinturas, arranjo de portas, etc.

No 1º ano da instalação terá havido duas administrações. Por lá passaram inicialmente outros nomes para além dos já citados, casos de Joaquim e Fernando Santos, Gabriela Lemos, Armando Val Quaresma, António Mateus, Benjamim Val Quaresma, Fernando Filipe, José Augusto (filho do «salcheiro»), em particular.

Vem ao caso citar um episódio muito curioso o da tentativa de auto de fé do espólio da Legião Portuguesa. Aconteceu então uma tremenda discussão ideológica à volta da mesa do bilhar. De um lado estaria Liberdade da Pátria Livre (comunista), afilhada do republicano Bernardo Machado e, Joaquim Santos (simpatizante do PCP então), do outro, por exemplo, Acácio Horta da Luz. Apagadas as chamas e obtido consenso lá foi o arquivo para o sótão. Um auto de fé terá ocorrido muito mais tarde, mormente, com material de arquivo que se encontrava no sótão em que o historial do grupo cénico foi destruído.

Na época terão vindo máquinas da Engenharia e parte do Pinhal cedeu lugar ao campo de futebol acaso constituído por três parcelas, uma do antigo presidente da Câmara, Mendes Lopes, outra que veio a ser do sr Adriano e uma última de Santa Bárbara? Um berbicacho que levou tempo para ser resolvido (?).

Tempo para dizer ainda que logo no início se fizeram uns bailes e um teatro, aquando da fundação.

A história do C.E.V. terá de ser feita necessariamente do cruzamento das fontes escritas e orais. Com este artigo apenas pretendo contribuir para esse objectivo. Não vejo necessidade de citar fontes explícitas, porque sim…

PS – Por vezes fala-se do Sargento Porto, entusiasta da criação do C.E.V. Sei que Manuel Porto (outro «Porto») esse sim, já tinha pertencido ao antigo Sport Club Estrela Verde. Do meu primo (Sargento Porto), segundo as minhas fontes, afinal, não haverá memória nos corpos associativos da fundação. O que há, ao que sei, é uma colaboração mais tardia, salvo desconhecimento meu.

José Luz (antigo dirigente do C.E.V.)