Fala o deputado Jerónimo de Sousa:
(...)O Orador: - Se um dia quiser, Sr. Deputado, muito amigavelmente, vamos à Marinha Grande, vamos ao Tramagal, vamos a Valongo, vamos à sua zona do Algarve, vamos conhecer as realidades objectivas e talvez o senhor compreenda quanto é injusto carregar sobre homens com fome, à coronhada e à bastonada.(...)
Continua a discussão:
Fala outro deputado do PCP Dias Lourenço: (...)
A situação que me proponho abordar é a que se vive na vila operária do Tramagal.
Na freguesia do Tramagal - a segunda do concelho de Abrantes, com mais de 5000 habitantes e mais de 2500 famílias constituídas -, nas 3 empresas mais importantes que garantem a subsistência da maioria da população trabalhadora local, a situação assume aspectos pungentes.
Nas 3 empresas, 2 têm unidades fora do distrito: a Metalúrgica Duarte Ferreira, com cerca de 2400 trabalhadores e unidades no Porto e em Lisboa, e a SOMAPRE, onde laboravam 117 trabalhadores com outra unidade em Alverca do Ribatejo. A terceira - Neo-Cerâmica - é apenas local, com os seus 40 trabalhadores.
Na MDF, uma das maiores empresas metalúrgicas do País, há 4 meses que não são pagos salários. 200 trabalhadores da unidade de Lisboa já receberam aviso de despedimento, 300 vão ser compulsivamente reformados e projecta-se o despedimento de mais 500 para reduzir de 200 000 contos a massa salarial como condição admitida pela administração para a viabilização da empresa.
Na unidade do Porto os 470 trabalhadores receberam apenas 10 contos relativos ao mês de Outubro, nada receberam em Novembro e Dezembro e de Janeiro é-lhes ainda devido 30 % do salário.
A Sr.ª Zita Seabra (PCP): - É uma vergonha!
O Orador: - Na SOMAPRE não são pagos os salários há 8 meses, a administração impôs condições de remuneração inaceitáveis e, em consequência, vários dos 117 operários debandaram em busca de trabalho em qualquer lado.
Na Neo-Cerâmica os 40 trabalhadores também não recebem salários há 3 meses.
Pelos vistos, na opinião do Sr. Ministro do Trabalho isto é demagogia do PCP ...
Os deputados comunistas pelo distrito de Santarém têm procurado acompanhar de perto a situação destes trabalhadores, têm chamado para eles a atenção do Governo nas diversas formas regimentais desta Assembleia da República.
No caso da MDF, sendo verdade que se verifica uma má gestão da administração, casos que o Sr. Ministro do Trabalho justamente refere, cabe, porém, ao Governo as maiores responsabilidades e é preciso que as assuma.
No último fim de semana, convidado, como o foram os deputados dos outros partidos com representação parlamentar pelo distrito de Santarém, dos quais apenas compareceu 1 deputado do PS, participámos
numa sessão pública de iniciativa das organizações representativas dos trabalhadores das empresas do Tramagal, onde foi feita uma informação da situação dramática existente na localidade.
Pelos vistos, outra demagogia do PCP ...
O desespero começa a invadir os lares com a miséria e a fome. Fome mesmo, Sr. Deputado Marcelo Curto!
O que ouvimos é profundamente angustiante. Os pequenos comerciantes do Tramagal - que acusam a queda brusca do poder de compra da população local e a quem os fornecedores só fornecem a dinheiro - não fiam já artigos que são essenciais ã alimentação, principalmente das crianças, como o pão e o leite.
Nas famílias operárias do Tramagal são já visíveis as marcas da miséria e da fome.
O Sr. Ministro do Trabalho sacudiu a água do capote quanto à parte do Governo, que consideramos fundamental nas responsabilidades pela situação criada.
Por exemplo, no caso concreto da Inspecção do Trabalho poderíamos talvez questionar o Sr. Ministro do Trabalho sobre se se inspecciona a Inspecção do Trabalho da responsabilidade do seu Ministério.
Conhecem-se casos em que os inspectores do Ministério do Trabalho têm feito o levantamento das situações existentes e das suas causas, mas não se conhecem, porém, quaisquer sanções aplicadas no Tramagal contra verificadas transgressões aos contratos de trabalho.(....)
continua
(...)O Sr. Dias Lourenço (PCP): - O Sr. Deputado Jorge Lacão esteve nessa reunião comigo e ao ouvi-lo agora fiquei à espera que pronunciasse uma palavra de solidariedade, de compreensão quanto ao drama dos trabalhadores do Tramagal. Mas não se ouviu uma única palavra nesse sentido e eu tenho que registar esse facto!(...)
Fonte: Diário da Assembleia da República
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