Sexta-feira, 5 de Junho de 2015
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Para começar o “intelectual”, como autoridade moral e consciência do público letrado, desapareceu. O último, Eduardo Lourenço, serve intermitentemente de ornamentação a várias cerimónias sem sentido: e, fora isso, já não abre a boca. O que resta – sob o nome de economistas, politólogos, psicólogos, sociólogos, “críticos” disto e daquilo e de coisa nenhuma – é uma vozearia de acaso a que ninguém liga. O colapso do “socialismo real” arrastou como seria de prever as suas variações, incluindo o “socialismo”, que só em relação a ele se definiam. Até a linguagem da “esquerda”, falada ou escrita, deixou de aparecer, excepto por hábito e por erro. O que sobrou não passa de um lamento pela pobreza e pelo desemprego, que, demonstrando bons sentimentos, não leva a nada e, principalmente, a um plano de acção.
A devoção pelo papa Francisco, que se tornou hoje numa das grandes personagens do “progresso”, é o perfeito atestado da dependência cultural do que dantes se chamava a “esquerda”: para lá de um certo ponto a caridade e a solidariedade começam a não se distinguir. Em 1970 ou mesmo em 80, nenhum “marxista” de nenhuma espécie aceitaria esta amálgama (...)
Vasco Pulido Valente , no Público com a devida vénia