Paisagens sonoras abrantinas
por
Dr. Paulo Falcão Tavares
O ensino da música em Abrantes, teve inicio, no Mosteiro de Santa Maria da Consolação de Abrantes que era feminino, e foi fundado ainda no século XIV, por iniciativa de Dom Fr. Vasco de Lamego, bispo da Guarda, como casa de monjas de clausura da Ordem de Santo Agostinho.
Já em meados do século XVI, estas monjas mudam-se para novo Mosteiro, no rossio da vila, com o apoio dos monarcas, já sob a tutela da Ordem de S. Domingos, mantendo muito activo o ensino da música em geral, como provam os inúmeros documentos coevos.
Vários charameleiros profissionais e tocadores de gaitas de foles, acompanham as diversas procissões da vila, e outras manifestações musicais, documentados na época quinhentista.
A Ordem de Cristo, promovia o ensino musical do órgão, na Igreja de S. João, pois num alvará de 7 de Setembro de 1776, em que se estatuiu que o vencimento do artista organista fosse de quinze mil réis, pagos pelo rendimento da comenda da mesma Ordem de Cristo, em dinheiro, por cada ano. Desde os tempos da restauração de Portugal, que este mesmo templo tinha seu órgão em pleno funcionamento.
Abrantes teve um relevante e famoso compositor, professor musical, António Leal Moreira, nascendo no ano de 1758. Assinou 14 óperas, escreveu 4 Sinfonias, produziu 11 responsórios, criou 4 Missas, 2 Magnificat, 5 vilancicos entre outros…
Até 1891, no Mosteiro de Nossa Senhora da Graça (Ordem de S. Domingos) a música e o canto tiveram uma escola muito relevante, produzindo pautas musicais, Livros de cantochão manuscritos, tendo mesmo diversas cantoras, no seio de uma comunidade feminina de quase 100 religiosas. Destacamos a Cantora Mor, Madre Soror Mariana Baptista, da velha nobreza local, no inicio do século XVIII.
Não podemos esquecer, a musica da cariz marcial, que as dezenas de regimentos militares tocavam ao longo dos séculos...
Na notável vila de Abrantes, nos fins do século XIX, o Padre Gusmão de Almeida, ensinava música a quem queria, graciosamente, tocando publicamente, sobretudo comemorando o dia 1 de Dezembro, dia da independência, tão caro aos portugueses.
A inauguração da capela da Villa Maria Amélia, no Vale de Roubam, foi inaugurada com musica tocada por um gaiteiro de foles, da Abrançalha, de nome bem conhecido.
Desde que, em 1929, se criou o Orfeão de Abrantes, designado por “Pinto Ribeiro”, que até aos dias de hoje, se tem divulgado a música na cidade, atingindo o seu auge em 1932, quando por intermédio do Comendador António Falcão, se realizaram diversos concertos fora da cidade, e o Presidente Carmona condecora a mesma instituição abrantina com a Ordem de Cristo, pelos serviços culturais prestados.
Outras manifestações musicais existiram, como a Orquestra Ligeira de Abrantes, e ainda outros pequenitos núcleos, que promovem o ensino musical, de forma amadora.
A 1 de Outubro de 2020, a maestrina e professora de música (licenciada pelo Conservatório do Porto), Ana Paula Beleza, inicia a sua actividade, a título pessoal e empresarial, aos seus alunos de piano, com a colaboração da Academia Tubuciana de Abrantes (fundada em 1802).
As paisagens sonoras abrantinas estão ainda por estudar…
(Texto escrito a 29 de Setembro de 2020)
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devida vénia à Academia Tubuciana