Dizem existir nas obras de Paula Rego uma história a ser contada, o suspense, para lá da obra em si – origjnal – que lhe serve de inspiração. As histórias alimentam-na e ela alimenta-as, por sua vez. Ainda que de forma efémera e subtil, o poder da arte está presente nas criações artísticas, com as suas influências no ser humano.
Capa do catálogo da XI Exposição Primavera, da «Galeria de Constância», 1991.
A criadora Paula Rego, é sabido, tem-se inspirado desde cedo, na literatura oral ou escrita, nas artes pictórica, musical ou mesmo cinematográficas. Em 1990 aceitou ser a primeira artista associada da «National Gallery» londrina.
No ano anterior a esta sua ascensão esteve exposta na «Galeria de Constância» de boa memória, a sua obra «Ring-a-Ring o’Roses (1989). As imagens, fortemente desenhadas integram o portefólio de «Rimas do berçário» decorrente dos desenhos que Paula Rego criou para o segundo aniversário da sua neta Carmen.
As rimas inspiradoras…
«Ring a Ring O’ Roses,
A pocketful of posies,
Atishoo! Atishoo!
We all fall down!»
Traduzindo
Ring-a-ring o’Roses
Um bolso cheio de «posies»
A-tishoo! A-tishoo
Todos nós caímos (1)
Acredita-se que esta rima foi uma paródia macabra alusiva à Grande Peste que varreu as Ilhas Britânicas em 1665.
Segundo o sumário da obra «Ring-a-Ring o’Roses (1989)», a autora já em pequena terá sentido um prazer especial em ver as gravuras de Gustave Doré, do «Inferno» de Dante…
''Ring O’ Roses''1( 1989) de Paula Rego, exposto na «Galeria de Constância» em 1991.
Existem pelo menos três versões diferentes da música para «Ring a Ring o’ Roses». Todas elas construídas numa lógica de quadratura simples, de roda. Melodias simples, assim como letras fáceis e padrões silábicos, ajudam a música a ficar na nossa mente. A imagem daquele quadro também ficou na minha mente, desde o primeiro momento…
A sua autora continua ainda hoje a suscitar tanto a admiração quanto o embaraço.
Desde a sua primeira exposição em Lisboa nos anos 60 na Sociedade Nacional de Belas Artes que se encontram presentes nas suas criações, de forma subjacente, leia-se, alguns princípios de que serão exemplos: desmontar jogos de poder, denunciar o autoritarismo dos políticos, a hipocrisia, expor o sofrimento no amor e a sexualidade encapotada, exaltar o poder feminino, entre outros.
«Se tivesse ficado em Portugal possivelmente teria sido uma bêbada profissional» (sendo homem, claro, teria sido um bêbado importante). Palavras que Paula Rego «desenhou» ´para uma entrevista a Livingstone, então comissário da retrospectiva realizada no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, em 2007. Eu acrescentaria até: se tivesse ficado em Portugal e em particular na vila de Constância, onde expôs em 1991 a sua dança macabra, a autora teria sido uma autarca ou, quiçá, consultora cultural municipal.
Ocorre-me aqui citar bem a jeito, algumas sentenças escritas pela saudosa amiga, Manuela de Azevedo, fundadora da Associação da Casa de Camões. (2009), cuja divulgação devemos ao Museu Nacional da Imprensa em particular. É assim que, sem meias palavras e de forma assertiva, a antiga escritora e jornalista, dizendo o que lhe vai na alma sobre a actualidade política da vila de Constância, diz também muito do que é a visão limitada e por vezes corporativa dos meios pequenos em que vigora com alguma facilidade o caciquismo tradicional. Razões de uma outra grande mulher que, ao invés de ter sido acolhida por um país estrangeiro, persistiu em ficar por cá…
Oiçamos:
«O programa cultural da Casa de Camões em Constância merecia que as duras turbulências políticas dos últimos anos o não atingissem. Todavia sempre vai havendo verba para festivais de música «pop», a que ocorrem milhares de festivaleiros, fortalecendo o que de mais minimizante possui a cultura de um povo deixando sem resposta a boa vontade do esforço de quem tenta que Portugal suba a par do conceito das nações civilizadas. Na verdade, valham-nos os cérebros portugueses que no estrangeiro sobem ao grau de classificação dos primeiros».
Não sabemos se a nossa fundadora estaria a citar a Paula, mas pode depreender-se que não a excluiria do seu pensamento, por certo. A «Galeria de Constância» ficava mesmo ali ao lado da Casa-Memória. A obra de Paula Rego esteve exposta na Primavera de 1991. Tratou-se de mais uma exposição colectiva, em que participaram ainda: Cruzeiro Seixas, Raúl Perez, Sérgio Telles, Augusto Barros, Lucília Moita e Santos Lapa. A década de 90 foi uma espécie de período dourado cultural, em que estiveram muito activos quer a «Galeria de Constância» de José Ramôa Ferreira, quer o Centro Internacional de Estudos Camonianos. Foi também a década da emergência e explosão da comunicação social local.
Manuela de Azevedo, já no final da sua vida activa cultural, continuava a sonhar com uma comissão de especialistas e mecenas, «capaz de transformar a formosa Constância num grande centro de estudos e turismo como o é hoje Stratford-upon-Avon capaz de envergonhar uma senhora da actual Direcção da Associação da Casa-Memória ao dizer que esta é uma obra do 25 de Abril…». 2009 !
Hoje (!) como ontem, sempre podemos cantar, dançando, para evitar as pragas…
«Ring a Ring O’ Roses,
A pocketful of posies,
Atishoo! Atishoo!
We all fall down!»
José Luz
(Constância)
José Luz
(Constância)
PS – Não uso o dito AOLP. A Fundação Mário Soares capturou no seu início, a vários bancos, as verbas que poderiam ter sido destinadas à futura Fundação da Casa-Memória de Camões (revelação de M.A nas suas memórias). O conceito cultural e turístico que existe na Casa-museu de Shakespeare, gerida por uma sociedade, foi discutido na associação de Constância por diversas vezes. Infelizmente, os intentos da Manuela de Azevedo e de outros membros dos órgãos sociais, de se criar um conceito local semelhante para Camões, não chegaram a ser realizados nunca. A Manuela foi substituída e outros já se afastaram, de cansaço. Não há cultura colaborativa. Sem predisposição pessoal para a inovação, nunca haverá mudança. Nem com influências dominantes ao sabor dos partidos políticos. A cultura não pode estar ao serviço das ideologias. Esse erro paga-se caro.
(1) Há quem afirme que a rima do berçário ‘Ring-a-ring-o’-roses’ é sobre a praga londrina de 1665:
-As “rosas” são as manchas vermelhas na pele.
-Os “posies” são as flores que as pessoas carregavam para tentar afastar a praga.
-“Atishoo” refere-se aos ataques de espirro de pessoas com peste pneumónica.
-“Todos nós caímos” refere-se a pessoas morrendo.
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