SANTARÉM DE LUTO E INDIGNADA !!!
Ontem vivi, com a minha Mãe, e irmãos, o momento mais surreal das nossas vidas.
O meu Pai faleceu. E isso é devastador. E faleceu num momento em que não nos podemos reunir e abraçarmo-nos e chorar juntos, e isso é devastador.
Mas toda a realidade que vivemos não tem adjectivo qualificável possível que exprima ao que fomos sujeitos.
O meu Pai faleceu, dia 21 de Março, perto das 10 da manhã, perto do carro, quando tentava deslocar-se ao hospital porque se estava a sentir mal. O 112 foi célere a enviar as equipas de socorro, Bombeiros e INEM, que o assistiram e fizeram todas as manobras de reanimação possíveis, já sem êxito. O seu corpo ficou no chão e a médica do INEM verificou o óbito, com causas desconhecidas, e deu-nos os pêsames. Taparam-no com um lençol.
Ficámos, eu a minha Mãe e uma amiga que vendo-nos da janela desceu para acudir e esteve connosco desde o primeiro minuto, a aguardar que, dentro dos trâmites legais normais, o Ministério Público fosse contactado, dando seguimento ao processo para que a Delegada de Saúde Pública de serviço, viesse ao local declarar o óbito e o corpo pudesse ser conduzido à morgue desencadeando todos os outros pormenores de entrega à família, contacto com a agência funerária e funeral.
As equipas de emergência e a PSP, que entretanto tinha chegado ao local e vedado o espaço delimitando um perímetro de segurança, permaneceram connosco.
Entretanto ficámos no local tratadas com bastante suspeição, por um dos sintomas do meu Pai ser febre, ao ponto de não podermos abandonar aquele local sequer para ir à casa de banho. O INEM abandonou o local ficando os Bombeiros e a PSP.
Perto das 12h30 foi nos comunicado pela PSP que o corpo tinha sido liberado à familia, que a Delegada de Saúde não viria ao local, ao contrário do que se esperava. A equipa dos bombeiros foi liberada, inclusivé pela linha da Saúde 24, e abandonou o local, ficando nos, familiares entregues ao nosso destino.
Sem perceber muito bem o que se estava a passar, entrámos em contacto com a agência funerária que, percebendo que não havia declaração de óbito nada podia fazer, não tinha forma legal de recolher o corpo.
Telefonemas para trás e para a frente, tentámos entrar em contacto com Delegada de Saúde, Director Regional de Saúde, Estado Maior do Exército, Procurador Geral, Presidente da Câmara Municipal de Santarém. O Senhor Presidente da Câmara ordenou à Delegada de Saúde que fosse ao local declarar o óbito. Esperámos achando que estaríamos a fazer alguns avanços, e passadas duas horas soubemos que se recusava a vir ao local.
Desde esse momento houve algumas pessoas que não saíram mais do local, acompanhando-nos e garantindo que a situação se resolvesse com a maior brevidade possível, como a Vereadora Inês Barroso, também ela vizinha, que fez todos os telefonemas entre o Presidente, PSP, Comando dos Bombeiros, Agência funerária, tentando também ela perceber o que estava a falhar.
Sim, falhar, porque a sensação de abandono é indescritível.
Como pode um corpo, no meio da via pública, ser entregue à família? Seria suposto sermos nós a fazermos ali mesmo o seu enterro? Revolta, vergonha, humilhação, desprezo, alguns dos sentimentos que sentíamos naquele momento mas na realidade o Meu Pai foi sendo velado ali pelos amigos que foram aparecendo e prestando-nos toda a sua solidariedade.
Contactámos uma segunda agência funerária que compareceu no local e foi incansável em contactos, procedimentos e explicar às autoridades presentes que as informações que chegavam ao local não eram suficientemente dotadas da legalidade precisa que os permitissem levantar o corpo. As equipas de PSP foram, durante todo o dia, 5 no total, tendo sidos acompanhados no final do dia pela própria comandante da esquadra.
Soubemos entretanto que a delegada de saúde declarou o óbito perto das 17h00, morte por causas desconhecidas, e que o corpo seria entregue à familia, novamente. O Procurador Geral declarou que não haverá autópsia, não sendo esse o nosso desejo, e até duvidando da legalidade de uma imposição dessas tendo em conta as causas desconhecidas da morte do meu Pai.
Ordenaram também que o corpo seria levantado por uma ambulância própria para transporte de cadáveres, vinda de Benavente. Aguardámos até às 20h, noite cerrada, quando a ambulância chegou e a equipa, devidamente equipada, fez o levantamento do corpo ao fim de 11 horas deitado na via pública.
Muita vergonha deste País que o meu Pai serviu é o que sinto agora. Entregaram-nos à nossa sorte, o Estado não nos soube proteger.
A paranóia do Coronavirus apoderou-se das pessoas e sobretudo das instituições que, alegando estarem a trabalhar de forma extraordinária, não cumprem o seu papel com os cidadãos, negligenciando tudo e todos.
Se vivemos num Estado de Emergência de Saúde Pública expliquem-me como se abandona um corpo à sua família por 11 horas na via pública? Onde esteve a saúde pública a ser considerada? Se não tivesse questionado as autoridades presentes ninguém se teria lembrado sequer de limpar o local depois da remoção do corpo.
Que Deus nos salve porque esta Pandemia é definitivamente da estupidez humana e não teremos outra forma de sobreviver a isto estando entregues a nada para além da nossa sorte.
Quero agradecer a todos quantos estiveram connosco no local,equipas médicas, PSP, CMS, agência funerária, por todas as tentativas que efectuaram e a forma respeitosa com que nos acompanharam.
Agradecer à CMTV pelo respeito e dignidade com que foram noticiando o insólito momento mais marcante das nossas vidas.
Agradecer sobretudo a todos os amigos que nos ajudaram em contactos, nos ampararam, nos acarinharam e se mantiveram de pedra e cal junto de nós, os presentes, que ainda foram bastantes, e os que ligaram e mandaram mensagens durante todo o dia. Apesar da distância, sentimos verdadeiramente todo o vosso carinho, amor, admiração que sentem pelo meu Pai e é disso que este momento se trata, prestarmos-lhe a devida homenagem pelo Grande Homem, Ser Humano, Profissional, Marido, Pai, Avô, Irmão, Tio, AMIGO!
Peço-vos em meu nome, da minha Mãe, das minhas Irmãs e do meu Irmão, e restante família, que acendam uma vela em vossa casa e possamos todos rezar à sua alma, fazendo-lhe a justa homenagem que ele merece.
Até sempre Pai!
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