Era 15 de Janeiro 1923. O deputado monárquico Artur Virgínio de Brito Carvalho da Silva increpa o Governo:
(...)Aproveito ainda, Sr. Presidente, a ocasião para protestar contra os factos que se passaram em Abrantes e Oliveira de Azeméis a quando da posse das câmaras municipais, em que teve de intervir a fôrça pública para impedir que os eleitos do povo tomassem conta dos seus lugares.(...)
Que se passara???
Segundo o Eduardo Campos (1): Justo Rosa da Paixão
que fora Presidente anterior da Câmara e era um dos homens do Partido Democrático, é eleito presidente da Assembleia Deliberativa mas recusa-se a dar posse à Vereação com o pretexto de questões sub judice acerca da inelegibilidade dalguns dos candidatos.
O Administrador do Concelho manda 12 GNRs evacuar a sala, face aos protestos dos eleitos da Oposição Monárquica, dos radicais da extrema-direita do Integralismo Lusitano, cujo chefe político era....
Henrique Augusto da Silva Martins.....
Tudo cheira a golpada do delegado dos democráticos, Justo da Paixão.
As eleições tinham sido ganhas pelos democráticos, sendo António Farinha Pereira o mais votado. Além dos candidatos do PRP, houve candidatos liberais e integralistas (dr.David Serras Pereira,França Machado, João Henrique Alves Ferreira e Henrique Augusto Silva Martins.)
Mas havia acusações de fraude eleitoral nas Mouriscas, alegadamente praticada pelos integralistas e este homem assaltara a Câmara, para roubar documentação entregue pelos integralistas.
Pelo qual o Senado da Câmara o declara impossibilitado de ser Vereador. Trata-se do célebre Valente da Pera, que ainda seria militante do PS abrantino, já muito velhinho, depois do 25 de Abril.
Era face a esta confusão, que António Maria da Silva
Presidente do Conselho, é interrogado e promete '' Sr. Presidente: pedi a palavra para declarar que ouvi com atenção as considerações feitas pelo Sr. Carvalho da Silva, relativamente à posse de algumas Câmaras Municipais, e devo dizer que o Governo vai apurar o que há de verdade a tal respeito, pedindo depois as responsabilidades a quem de direito e nos termos legais.''.
A 22 de Janeiro a crise parece sanada, António Farinha Pereira é eleito Presidente, mas toda a política da época vai ser atribulada, com tiros e agressões inclusive.
Os nomes da Oposição integralista são os nomes do futuro. Excepto David Serras Pereira que morre cedo, os outros irão governar Abrantes nos anos 30 e durante metade da década de quarenta.
Ainda não encontrámos o apuramento de responsabilidades prometido por António Maria da Silva.
mn
(1) Seguimos a Cronologia do Eduardo Campos para o ano 22 e 23. É o único estudo decente que há sobre a época. O resto não é grande coisa. A Cronologia do Eduardo Campos (Cronologia de Abrantes no século XX, Abrantes, 2000) continua a ser a base de dados necessária para começar a esclarecer qualquer questão abrantina desta época. E a nossa dúvida nasceu das acusações lançadas pelo Carvalho da Silva ao ''premier'' da época
Esta magnífica tese A bomba explosiva no Porto 1920-1927 retrata o boom bombista na Invicta e o papel dos amigos do abrantino e grande empresário João Augusto Silva Martins, conhecido por Martins Júnior, no uso do dinamite como forma de acção política. As acções bombistas visaram sobretudo padarias e indústrias de moagem. Mas houve azar, em 11 de Setembro de 1923 foi pelos ares a sede portuense do P.Radical porque os incautos enganaram-se a dosear as doses de pólvora.
Martins Júnior com Afonso Costa, 1910, foto Josua Benoliel, ANTT
O autor, Rui Miguel Lamas Pais, salienta que foram apreendidos explosivos, propaganda revolucionária e houve 3 mortos e foram feitas várias prisões. Objectivamente o bombismo tripeiro não pode ser só atribuído aos amigalhaços do poeta Martins Júnior. Andaram por esse campo sindicalistas revolucionários, anarquistas, membros da Legião Vermelha, etc.
As ligações entre o Partido Radical, Martins Júnior e o PCP de Carlos Rates aliás já estão estudadas.
Um dos atentados bombistas tripeiros mais curiosos foi contra a Santa de Arcozelo, já agora toda a bibliografia sobre a miraculosa, citada na Wikipedia, é obra dum ex-colunista do Jornal de Abrantes,Humberto Pinho da Silva.
O mais divertido de tudo é que o milionário Martins Júnior era um dos donos da Companhia de Moagem de Abrantes, a meias com o mano Henrique Augusto.
O que resta da moagem Afonso XIII da família Silva Martins
mn
finalmente: a tese citada faz um levantamento exaustivo dos bombistas tripeiros a partir de fontes primárias: os arquivos policiais, os nossos parabéns ao Autor
Rocha Martins in Fantoches
Agora já terão percebido porque é que o abrantino, na foto de Josua Benoliel, ao lado de Afonso Costa (1910-Arquivo T.Tombo/O Século), foi ''apagado'' nas histórias abrantinas da República.
Porque denunciou, entre outras coisas, as escandalosas negociatas feitas durante a 1ª Grande Guerra. Enquanto os soldados morriam como tordos na Flandres, alguns políticos enchiam a pança.
No Coisas de Abrantes, há nova contribuição para ressuscitar a memória do revolucionário abrantino, que já sabemos que terminou ao lado do golpe do 28 de Maio.
A corrupção perdeu a República e abriu as portas ao fascismo.
ma
Em 1923 o Alfredo da Silva e a União Fabril processavam a CMA e o seu Presidente António Farinha Pereira. Não sei quem ganhou, tenho de ver o processozinho. Era um recurso na Relação e a CMA e AFP tinham ganho na primeira instância.
Já que vou ver o processo, verei outro do AFP contra o pai do Sr.Fernando Simão, por causa das vistas dumas janelas nas casas dos dois que confrontavam em Alferrarede.
Esta gente de 1920 adorava litígios
Um grande cliente dos Tribunais foi Martins Júnior, quando estava com stress, porque não havia revoluções, lá dizia para consigo mesmo vamos pró litígio.
ma
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