Isto já tinha sido escrito aqui. Volta-se a escrever. O Zé Bioucas foi imposto como Vereador por oficiais spinolistas que exigiram a saída da Comissão Administrativa da CMA de Abílio Monteiro (reputado anti-fascista) e do Dr. Mário Pissarra porque eram ''perigosos''.
Eram muito perspicazes, como me comentou um empregado abrantino do General Carlos Galvão de Melo, ''sanearam' dois cidadãos ordeiros e capazes e deixaram lá ficar o Afonso Campante que foi apanhado com as mãos na massa.
Sobre isto há uma curiosa entrevista feita ao Zé Bioucas pelo Jorge Lacão. Não tenho à mão o recorte.
Perguntava porque deixavam a mulher do Vereador preso usar a boleia dum veículo da CMA ,para ir a Lisboa, ver o marido na cadeia.
A pergunta inserida numa campanha eleitoral, era feita para criticar este homem
que tinha sido suficientemente generoso para deixar a mulher dum preso político apanhar umas boleias para matar saudades.
O Zé Bioucas naturalmente safou-se da pergunta e não criticou a acção do Dr.. Correia Semedo.
Um dos spinolistas está vivo. Acham que há segredos em terras pequenas? Nasceram ontem.....
ma
As malhas que o Prec teceu (e tece)
Correio atrasado (1): O velho PREC abrantino
No seguimento da referência ao meu pai, permita-me só mais alguns apontamentos e esclarecimentos.
Não sei se o nome do meu pai foi vetado para integrar a comissão administrativa da CMA ou se foi ele que não lhe agradou algumas das companhias e o rumo que as coisas estavam a tomar...passo a explicar.
Abrantes era naquela altura uma cidade pequena em que toda a gente se conhecia e todos sabiam que era do regime, quem era da oposição e quem era indiferente à politica. O Café Primor e a Antiga Casa Vigia
eram locais de reunião dos oposicionistas, ao passo que o Pelicano era o centro dos apoiantes do Governo. Ainda havia o bar do Hotel Turismo, mas isso era só para alguns dos "ricaços" locais. Ainda assim, todos se davam com todos e tanto assim é que foram raros os importunados pela PIDE. Naturalmente que havia alguns mais extremistas ( especialmente gente nova à beira de ir para a tropa ou já nas faculdades) mas era levando a título de fulgores da juventude. Abrantes tinha ainda um aspecto curioso: a existência do Orfeão Abrantino e dos Amadores de Pesca de Abrantes (importantes na vida social e recreativa da cidade) e a Liga dos Amigos de Abrantes ( em menor escala) favorecia a convivência entre os contra e os a favor do Estado e do estado das coisas. Eram instituições importantes na convivência e no viver em sociedade. Sendo manifesta e publicamente do contra, o meu pai sempre respeitou e sempre foi respeitado pelos apoiantes do Estado e até por alguns informadores/agentes da PIDE (que os havia também na cidade). Nos dias imediatos ao 25A, há todas aquelas manifestações pró-de democracia, umas mais genuínas, outras mais recentes, mas começa também a haver algumas conversas sobre "acertos de contas." Na altura, o já falecido Dr. Estrela (sogro do Maggiolli Gouveia) que sempre fora um homem do antigamente, antigo professor do Liceu e que era administrador do hospital da Misericórdia ( julgo que foi saneado pouco depois...), e que sempre mantivera relações cordiais com o meu pai, num dos dias imediatos ao 25a é alvo de perseguição nas ruas e tentativa de linchamento popular por parte de alguns revolucionários e alguns funcionários do hospital. E não era a brincar! Tanto que foi o meu pai que recolheu e abrigou o Dr. Estrela em casa durante algumas horas até que as coisas acalmassem. Um segundo episodio tem a ver com uma exposição de fotografias, organizada por revolucionários, no que era, julgo, a sede (ocupada) da União Nacional, frente ao café Pelicano. A exposição retrata as "barbaridades" das tropas portuguesas colonialistas na guerra de Africa e onde surgem alguns militares naturais ou residentes em Abrantes. Tudo com o claro intuito de acicatar a população contra aqueles. Um dos visados seria - tanto quanto julgo saber- o então capitão Terras Marques, pessoa que o meu pai conhecia, bem como a esposa deste. Foram episodios desta natureza que poderão ter levado o meu pai a repensar uma actividade politica mais participativa, uma vez que não queria estar associado aos extremismos que se adivinhavam. O ser um homem moderado e sensato permitiu-lhe, por exemplo, manter relações sociais e de boa vizinhança mesmo com quem tinha ideologias e pensamentos opostos aos dele. Talvez por ter vendido a República noutros tempos, sempre foi cliente da gelataria Flor de Liz e sempre se deu com o Sr. Paulo Dias, apesar deste ser um apoiante do antigamente e facultar aos clientes o Diabo da Vera Lagoa, quando este era um jornal reaccionário.
Caro Duarte,
Obrigado pelo seu testemunho precioso.
Aqui temos o dr. Estrela rodeado por alguns vultos do regime e não só. A foto foi divulgada pelo jovem Eduardo Castro que é um dos rapazes com o uniforme da MP. Também há pessoas ligadas à educação na foto porque o terceiro à esquerda na última fila é o Irmão Luciano Paciente, 1º Director do La Salle, excelente pessoa, espanhol, como a maioria dos ''frades'' e confesso admirador do Generalíssimo Franco....
Para mim é uma novidade a história da tentativa de linchamento do dr. Estrela, que conheci bem e que foi depois do 25A um dos que montaram o CDS em Abrantes.
Há algum pormenor que me deixa confuso quando fala do edifício ocupado face ao Pelicano, penso que se está à referir à Assembleia de Abrantes, ocupada em meados de 1975, por um conjunto de personalidades locais, entre elas um deputado dado à agulha e ao dedal (conta o Miguel Serras Pereira na Vida Mundial) e alguns jovens. A Assembleia nunca foi sede da UN e eu desconheço onde era a sede da União Nacional, tenho de perguntar ao Vice-Presidente da ANP da época, o snr. eng. Ruivo da Silva, genro do construtor civil Apolinário Marçal.
Nesta foto da Época (órgão oficioso da ANP) a reunião abrantina parece ser no edifício velho da CMA, na Raimundo Soares....
A minha ignorância nesse campo (sede da ANP) é parecida com a do último Presidente da Ditadura, o dr. Esteves Pereira, depois colega nas mesmas listas na Assembleia Municipal que o dr.Armando Fernandes. Dizia o dr. Esteves Pereira pouco depois do ''golpe'' que não sabia onde era a sede da Legião....
Também não sei, mas a sede da MP, a popular ''Bufa'' era numa ruazinha que vai para o Castelo, perto da casa do António Castel-Branco e da tipografia Águia de Ouro.
Outro dia estive a beber um copo com um velho amigo militar que me contou que no início dos anos 60 era instrutor da Legião abrantina....com o Maggiolo Gouveia...
A sua explicação acerca da hipotética recusa do seu Pai em fazer parte da Comissão Administrativa pode ser certa, mas posso adiantar que os 2 Vereadores que não foram ''eleitos'' pela reunião no Convento de São Domingos, foram impostos ao MDP/CDE (que na prática estava morto em Abrantes e só ressuscitou no dia 26 de Abril de 1974) pela autoridade militar spinolista. Foram eles o eng.Bioucas e o sr.Graça Vieira.
A outra hipótese, aventada por militares dessa época, é que houve um veto spinolista ao seu Pai e ao dr. Pissarra. Alguns protagonistas estão vivos. E se contassem a história?
Resta referir que a democracia se constrói com homens dialogantes, como o senhor Seu Pai. Os fanáticos e os vira-casacas são dispensáveis. Lembro-me dum informador da Pide, que no dia 26 de Abril já andava de emblema do MDP-CDE....
A democracia faz milagres....
Muitos cumprimentos
M. Abrantes
No post sobre a Comissão Administrativa da CMA há uma referência sobre a escolha de Abílio Monteiro para fazer parte da dita em 7 de Maio de 1974.
Abílio Monteiro era o senhor meu pai, já falecido. Foi comerciante em Abrantes, proprietário da Ourivesaria Palma, que ainda hoje existe. Foi membro de MDP-CDE julgo que em 1969/1970. Em 1972 e apesar de ser ourives, era ele quem vendia o jornal A República em Abrantes, então o único jornal da oposição. Aderiu ao PS logo em Abril de 1974, juntamente com Manuel Dias, sendo um dos fundadores da secção do partido em Abrantes. Teve participação política activa na época, embora sem ocupar qualquer cargo. Por ocasião do 25 de Novembro, colaborou com alguns militares do RI 2 com vista a garantir que a unidade não actuasse às ordens do COPCON. Retomada a normalidade democrática, manteve-se filiado no PS até meados dos anos 80.
Caro Duarte:
Obrigado pela sua informação. Obrigado por nos dar notícia da actividade do Sr.Abílio Monteiro a favor da Democracia em Abrantes tanto antes do 25 de Abril como depois.
A sua informação ajuda-nos a fazer mais um bocadinho da história de Abrantes. A história faz-se assim, acumulando pequenos retalhos de informação, que nos permitem completar o ''puzzle'' dum passado cuja memória vai desaparecendo ao ritmo em que desaparecem os protagonistas e se evaporam os testemunhos que podiam ter dado.
Não sabemos quase nada do que foi a República em Abrantes (1910-1926) nem do que foi a Ditadura.
Também me informam que a Drª Fernanda Pereira já não pertence ao número dos vivos. Outro testemunho que perdemos. Faleceu no ano passado. Aproveito para deixar aqui as nossas condolências aos seus familiares que são nossos amigos.
O nome da D.Fernanda, que voltarei aqui outro dia a recordar ,foi evocado pelo Dr.Eurico Consciência numa entrevista ao Martinho Gaspar da Zahara de Dezembro de 2004 (''curiosa'' publicação'') mas o nome dela desapareceu (1)...., nesse mesmo número há outras declarações do dr. Mário Pissarra onde o seu sectarismo ( que eu acrescentarei ser comunista ortodoxo) é anotado.
Regresso ao sr. Abílio Monteiro. Tenho por aqui uma entrevista, publicada há anos na imprensa local, que hei-de colar aqui, dum dono da maior papelaria abrantina da época e onde o dono diz que era democrata desde 1958. Contudo pelo vistos o diário ''República'' do dr. Rego, tinha de ser vendido numa ourivesaria....pelo Sr.Monteiro.
Curiosamente as revistas ''Seara Nova'' (ao tempo alinhada com o PCP) e o ''Tempo e o Modo'', cuja 2ª série já estava controlada pelo MRPP, eram vendidas na ''Casa Portugal'', na R.Monteiro de Lima, cuja propriedade andava ligada à Moagem de Abrantes e à família Silva Martins, que controlava também o ''Correio de Abrantes'' e cuja cabeça política visível era o eng.António Silva Martins, ligado ao grupo de tecnocratas do caetanismo e a Miguel Caetano, filho de Marcello, que trabalhara na MDF.....(2) no Tramagal....
Curiosamente já vimos que o Sr. Anacleto Baptista já sustentou que na Casa de Santa Maria funcionava um ''grupo de reflexão' católico progressista, ou seja um dueto composto por ele e pelo Carlos ''Batata'' Gil. Lá também havia uma livraria. Pelos vistos a reflexão foi tanta que não lhes deu ocasião para colocarem a República do saudoso maçon (e ex-seminarista) Raul Rego à venda.....
Certamente destoaria entre os enxovais para a primeira comunhão e as Virgens de Fátima...
Continuamos sem saber quais as razões da tropa para vetarem o Sr.Monteiro, que pela descrição do filho era um homem moderado (um democrata do PS) na Comissão Administrativa, bem como o dr. Pissarra.
Mas sabemos graças à informação que nos dá que ajudou os militares anti-gonçalvistas a desarmarem a corja que se munira de G-3 para sovietizar Abrantes. O curioso seria alguém dar-nos os nomes dos bravos ''otelistas'' e verificar onde param agora.
Sei o nome de um, que já morreu, bom rapaz, que nesse dia (25 de Novembro) tomou umas cervejas a mais na Império e como consequência certamente da euforia revolucionária se estampou com uma carrinha carregada de armas.
Regresso ao sr. oficial Morgado : pode explicar-nos como é que a tropa deixou o Campante na Comissão Administrativa e vetou o sr. Monteiro e o dr. Pissarra?????
Não me diga que foi aquele sólido raciocínio spinolista que achava que meter o Cunhal no 1º Governo Provisório e o Costa Martins na pasta do Trabalho garantia a ordem pública e um comportamento aburguesado das ''amplas massas''....
De forma que fico à espera que o oficial Morgado nos explique as razões do veto....
Agradeço ao Duarte Monteiro o seu esclarecimento precioso.
Miguel Abrantes
(1) O Martinho Gaspar meteu os pés pelas mãos a explicar o miraculoso desaparecimento.
(2) Por exemplo José Pedro Castanheira, Jorge Sampaio, Nelson de Matos/Porto Editora, Lisboa 2012
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