Sábado, 13.02.21
Ontem, no ''Expresso'', Miguel Sousa Tavares arrasava a política agrícola da ex-cacique de Casais de Revelhos. Com a devida vénia ao autor, reproduzem-se uns excertos:
''MARIA DO CÉU ANTUNES
Não sabe quem é, pois não, leitor? É a ministra da Agricultura, mas não admira que não saiba, pois ela própria parece não saber que o é. Ou seja: na minha nula experiência destas coisas, presumo todavia que, quando alguém chega a ministro de uma qualquer pasta, pelo menos sabe ao que vem, tem ideias sobre o assunto e políticas a implementar. No caso da agricultura e no caso português, o principal de qualquer política à partida está limitado por um recurso essencial e que, entre nós, é escasso e que todos sabem que cada vez irá ser mais escasso em dois terços do território: a água. Qualquer ministro da Agricultura responsável estaria em pânico com o que se está a passar no Alentejo com as culturas superintensivas de olival e amendoal à conta da água do Alqueva e com as estufas do Sudoeste à conta da exaurida barragem de Santa Clara ou com a recente moda devastadora do abacate no Algarve: tudo culturas predadoras de água instaladas nas regiões do país mais carentes dela. Mas a ministra não se incomoda. Assim como não se incomoda a tentar explicar se tem alguma política agrícola que não o deixar fazer, deixar andar, e também, olhando para os lençóis intermináveis de água que agora caem do céu, não vê necessidade alguma de se incomodar com a falta de água no horizonte. De facto, se 2020 já foi um ano de abundante chuva, permitindo que o Algarve não ficasse seco nas torneiras no Verão e que o ministro Cabrita fizesse reeleger o Presidente Marcelo, este está a ser o ano mais chuvoso desde há muitos. Para a ministra, por exemplo, não interessa que ande tudo à maluca a plantar um fruto exótico como o abacate no Algarve, em grandes plantações intensivas que secam os poços e os furos dos agricultores locais — interessa é que “a evolução tecnológica na gestão da água permite reduzir os consumos”, pelo que tudo é bem-vindo. E, além disso, tudo contribui para as exportações, não interessando saber também se, nos olivais do Alqueva ou nas estufas do Mira, todos os trabalhadores são estrangeiros e a maior parte das empresas também, tirando partido de infra-estruturas pagas pelos contribuintes portugueses, de água subsidiada pelos contribuintes portugueses e de subsídios ao investimento com dinheiro europeu do qual parte é nossa. Mas seria de facto curioso fazer as contas e perceber quanto do saldo final dessas exportações representam lucros que ficam cá, impostos e contribuições sociais que se pagam aqui. Para que desta agricultura industrial não fique apenas o rasto de uma situação social que nos envergonha e um desastre ambiental e paisagístico como aquele que cada vez mais vai crescendo no Alentejo.
Esta agricultura e este desprezo pelo ambiente vai matar tudo à volta por falta de água. Já não bastavam os eucaliptos e os golfes, os olivais e os amendoais, agora chegaram também os abacates. Santos Deus, não podíamos viver sem abacates? (....)''
Sábado, 14.11.20
A CNA-Confederação Nacional da Agricultura desmontou as mentiras da Ministra da Agricultura acusando-a de torturar os números para ocultar os dados reais da lavoura nacional.
Assistimos ontem, 10 de Novembro, no âmbito da discussão do Orçamento do Estado para 2021 na Assembleia da República, ao ensaiar da já velha teoria do “oásis na Agricultura”, por parte da Senhora Ministra da Agricultura.
Exibindo dados das exportações e alguns aspectos positivos, o Governo tenta esconder a grave crise que milhares de pequenos e médios agricultores atravessam, e que tende a agravar-se, face à evolução da pandemia e das medidas insuficientes para a controlar.
A verdade é que as actuais políticas nacionais apenas valorizam quem tem dimensão e capacidade exportadora, desprezando quem alimenta o mercado nacional. Exemplo disso é a actual proposta de Orçamento do Estado, o Plano de Recuperação e Resiliência ou Agenda de Inovação para a Agricultura para a próxima década, apresentada pela Ministra da Agricultura, onde se diz claramente que se destina tão e somente aos agricultores designados “inovadores e competitivos à escala global”, ou seja, quem produz para alimentar o mercado local, regional ou nacional, não é prioridade no contexto desta Agenda.
Os resultados estão à vista: um estudo da Universidade de Aveiro dá conta que “mais de 70% dos alimentos que comemos vêm de fora; a Comissão Europeia revela que o rendimento médio dos agricultores portugueses, mesmo contabilizando as ajudas da PAC, é de cerca de metade do rendimento médio dos demais cidadãos; dados do INE mostram que o Valor Acrescentado Bruto da produção nacional se mantem quase estagnado.
A CNA recorda que já assistimos ao mesmo tipo de discurso quando, em 2012, uma subida no emprego agrícola, ocorrida apenas num trimestre, serviu de base para escamotear muitos dos problemas existentes e que hoje persistem e se tornaram mais visíveis com a crise pandémica.
As dificuldades com o escoamento da produção continuam (o sector da castanha é bom exemplo disso), os preços à produção permanecem em baixa na generalidade das produções, chegando a cair 30% em algumas situações, a diminuição das produtividades também é uma realidade, seja na pêra ou, como se perspectiva, também no olival. De facto, não está tudo bem no sector, e por mais que a Ministra da Agricultura e o Governo torturem os números a realidade é bem diferente.
A CNA continua a defender e a reclamar outras políticas agrícolas
Neste contexto, a CNA e os Agricultores continuam a propor e a reclamar outras e melhores políticas agrícolas e de mercados capazes de assegurar o escoamento a melhores preços à produção nacional e de, também assim, assegurar a melhoria dos rendimentos da Lavoura e dos Agricultores.
- Defendemos a concretização do Estatuto da Agricultura Familiar (EAF), que mais de dois anos depois continua sem medidas concretas. Afirmamos que a Agricultura Familiar, como a CNA a define, como está consagrado no EAF e é defendido pela ONU, é aquela em que pelo menos 50% do trabalho é feito pelo agregado familiar. Rejeitamos o que parece ser a nova tendência deste Governo de alterar o EAF, mesmo antes de o implementar, para um estatuto apenas da pequena agricultura, aquela que, pela PAC e pelas políticas nacionais, foi excluída de quaisquer apoios;
- Defendemos uma outra PAC, mais justa, mais inclusiva, que apoie quem de facto produz e que incorpore os princípios da Soberania Alimentar. Da intervenção da Ministra, fica claro que o Governo tem como prioridade fechar o acordo para a nova PAC durante a presidência Portuguesa, mas tal não pode concretizar-se sacrificando os agricultores nacionais;
- Defendemos um período de transição onde o Regime da Pequena Agricultura suba para 1250€ por agricultor, e que novos agricultores possam aderir a este apoio já em 2021;
- Defendemos um Orçamento do Estado para 2021 que reconheça o papel da agricultura, concretamente da Agricultura Familiar, no desenvolvimento do País, o que a actual proposta está muito longe de concretizar. A suborçamentação crónica dos serviços continua e mais uma vez nem sequer a comparticipação nacional para o PDR2020 está, desde já, assegurada. Dos 150 milhões de euros necessários, apenas são considerados 97 milhões, sendo o resto intenções e possibilidades de transferências;
- Defendemos um sistema de seguros agrícolas que proteja de facto os Agricultores e as suas produções, e um regime fiscal e de Segurança Social adequado à Agricultura Familiar;
- Defendemos uma política florestal que promova uma floresta multifuncional, sustentável e ordenada, que tenha na base o rendimento dos pequenos e médios proprietários e produtores florestais, o que não é possível com uma política agro-florestal espartilhada e obedecendo apenas a uma lógica supostamente ambiental.
A CNA não pode deixar de se pronunciar e de demonstrar o seu total repúdio pela medida, vinda a público, de aumento da taxa do IVA nos adubos e fertilizantes não-orgânicos. De facto, os maiores prejudicados vão ser os Agricultores de menor dimensão que não estejam no regime de IVA e, como tal, não o recuperam, passando esse mesmo IVA a ser mais um custo em factores de produção. Para os restantes, a medida acaba por ser inócua por poder ser contrabalançada, por exemplo, a nível da fiscalidade em sede de IVA.
Não faz sentido virar as preocupações ambientais contra a pequena e média produção agrícola, que tem um papel fundamental na ocupação do território, garantindo e preservando o seu património ecológico, paisagístico e cultural. Não é desta forma que se promove uma agricultura mais amiga do ambiente.
Coimbra, 11 de Novembro de 2020
A Direcção da CNA
Sexta-feira, 08.05.20
com a devida vénia. O Mauro é o cartoonista de Il Manifesto e é um craque
Segunda-feira, 27.04.20
Quinta-feira, 12.12.19
A Associação de Agricultores de Portalegre critica sem rebuços a Antunes dos Eucaliptos, a Ministra de Casais de Revelhos.
'' A Associação dos Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP) considerou hoje um “absurdo” a decisão do Governo de restringir os apoios às medidas agroambientais a uma medida por beneficiário até ao próximo quadro de fundos comunitários.
“Isto é um absurdo, isto nunca aconteceu, não houve uma reunião com as confederações ou com as associações a explicar isto previamente. Sai isto assim à má fila”, disse à agência Lusa a presidente da AADP, Fermelinda Carvalho.''
ler aqui
Agricultores já têm saudades da Cristas
Terça-feira, 10.12.19
A CNA arrasa a política neo-liberal da cacique '' detalha que, assim, uma exploração "em que predomine a policultura, com cinco ha [hectares] e que detenha olival tradicional e raças autóctones, fica impedida de manter o apoio para estas duas produções, mas já uma exploração com 500 ha de monocultura de olival superintensivo em modo de produção integrado, poderá manter os níveis de apoio".
ler na Economia ao Minuto
Esta política de favorecer os grandes interesses é o seguimento a nível nacional da aliança com o capital especulativo, já tecida em Abrantes.
É um crime ecológico, favorece a desertificação e o fim do mundo rural tradicional.
A cacique quer o campo transformado em grandes explorações de capital intensivo, trabalhado por emigrantes em regime de exploração atroz (como os nepaleses no Baixo Alentejo), que esgotam os recursos disponíveis.
ma
Quinta-feira, 19.07.18
Depois do bloquista Rui Rio (bloquista, porque apoia bloco central) ter dado ordens para que o grupo parlamentar salvasse o governo e lixasse os proprietários e autarquias, quando se votava uma proposta do PC que pretendia ''indemnizar proprietários pela limpeza de faixas de combustível'' , mudando repentinamente a posição laranja, os deputados do Distrito, ''Duarte Marques, Nuno Serra (que faz parte da comissão de agricultura), Teresa Leal Coelho'' e outros fizeram uma declaraçao de voto em que dizem que ' “esta iniciativa visava corrigir uma enorme injustiça criada pelo Governo''
Ler mais no Observador
A informação e as expressões assinaladas são retiradas do artigo de Rita Tavares.
mn
Quinta-feira, 06.07.17
E X P O S I Ç Ã O
Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, Senhor Ministro,
erguemos até vós, humildemente,
uma toada uníssona e plangente
em que evitámos o menor deslize
e em que damos razão da nossa crise.
Senhor: em vão, esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Falta a matéria orgânica precisa
na terra, que é delgada e sempre fraca!
- A matéria, em questão, chama-se caca.
Precisamos de merda, Senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Se os membros desse ilustre ministério
querem tomar o nosso caso a sério,
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade.
E mijem-nos, também, por caridade!
O Senhor Oliveira Salazar
quando tiver vontade de cagar
venha até nós solícito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo com sossego,
ajeite o cú bem apontado ao rego,
e... como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho!
A Nação confiou-lhe os seus destinos?...
Então, comprima, aperte os intestinos;
se lhe escapar um traque, não se importe,
quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?
Quantos porão as suas esperanças
n'um traque do Ministro das Finanças?...
E quem vier aflito, sem recursos,
Já não distingue os traques dos discursos.
Não precisa falar! Tenha a certeza
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos n'elas.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...
Tragam-nos merda pura, do bispote!
E todos os penicos portugueses
durante, pelo menos uns seis meses,
sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente nos despejem trampa!
Terras alentejanas, terras nuas;
desespero de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sente a paixão nostálgica da merda...
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa
das inúteis retretes de Lisboa!...
Como é triste saber que todos vós
Andais cagando sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura
mandem vir muita gente com soltura.
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.
Venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade.
Formas normais ou formas esquisitas!
E, desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia à grande bosta,
de tudo o que vier, a gente gosta.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa."
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Roubado ao Dr.Veiga Maltez -Exposição de João de Vasconcellos e Sá a Salazar, devido a haver um Ministro Leovigildo Queimado Franco de Sousa, que pastoreava a Agricultura e tratava mal os Agricultores alentejanos. Naturalmente estava em causa os adubos.
Terça-feira, 23.06.15
A Revista de Estudios Extremeños destacou há tempos (2012) uma importante inovação na técnica agrária da região de Badajoz. Num artigo de Juan José Viola Cardoso conta como praticamente até meados do século XIX se manteve inalterável na região raiana a forma de arar os campos. Durante 2.500 anos quase não houve mudanças nas técnicas.
A introdução duma charrua moderna ou ''charrueco'' foi feita em grande parte a partir de ''importações'' de Portugal, realizadas através do contrabando e destacam-se as alfaias contrabandeadas a partir da Duarte Ferreira.
Essas charruas ou arados foram extremamente populares nos campos de Badajoz e foram responsáveis por uma mini- revolução agrícola na zona.
Imagens do excelente artigo do investigador Juan José Viola que se recomenda ler.
mn
Quinta-feira, 26.03.15
ESTÓRIA E MORAL: o plano tecnológico das hortaliças
Estória«
Ontem, em Abrantes, depois das 19.00, um grupo de agricultores/comerciantes apressa-se para descarregar as frutas e as hortaliças, junto do mercado.
Será Portugal um país atrasado tecnologicamente? Para os que constantemente respondem afirmativamente a esta questão, vejam lá esta foto, onde a facturação é passada na hora, com um portátil e uma impressora em pleno parque de estacionamento. Tirei eu a foto com o tlm.»
(de um email de MV, que ilustra um fenómeno tão extraordinário como a aparição da Virgem aos pastorinhos)
MoralTudo como dantes, quartel-general em Abrantes.
(Desabafo tornado popular por volta de 1808 pela fraca reacção à ofensiva de Junot. Este, por essa altura, passeava-se por entre as viçosos nabiças de Abrantes, depois de ter assistido à fuga da Corte portuguesa para o Brasil. A coisa levou 7 anos a resolver e só começou a resultados práticos quando o futuro duque de Wellington meteu mãos à obra que começou aqui e concluiu em Waterloo.)
NR-Nessa época o mercado ainda não tinha sido fechado pela ASAE
mn