Estava o Tio Vasco (1) a almoçar no Gambrinus na sala à esquerda quando se entra, que é para gente decente como eu e ele, que a do fundo é para betinhos não fumadores como o Tó Zé Seguro,e olhava para todos os lados.

Nunca se sabia se podia entrar o Tio Miguel (2) que quando está com os azeites é um gajo lixado e resolve tudo à chapada.

No meio duma garfada de carne de porco à alentejana o Tio Vasco quase se asfixiou com uma amêijoa. Para recuperar acendeu um Malboro com o Dupont de ouro. Rapidamente as amêijoas ficaram envolvidas numa nuvem de fumo.

Nisto entrou o Tio Cardeal (3) acompanhada pela Tia Isabel (4) e atravessaram a nuvem e foram cumprimentar o Tio Vasco.

Assustado o Tio Vasco acendeu outro Malboro. Tinha um aceso agora em cada mão. Pensara que a Tia Isabel o vira quase a bater a bota e o quisera salvar da asfixia, fazendo-lhe respiração boca a boca.

Com os seus botões dissera: Não sou um pobrezinho para salvar, sou um cliente do Gambrinus. Nem em bebé me meteram na pia (5) porque vem o clero chatear-me?

-Querido Vasco, meu filho, disse o Tio Cardeal, estás no bom caminho. Ainda serás um dia editorialista na Rádio Renascença ou no Observattore Romano.

-O Natal faz bem às pessoas, disse a Tia Isabel, o teu artigo, querido Vasquinho, estava cheio de caridade cristã. Vejo-te Director da Voz de Fátima.

-Não vás tão depressa, Isabel, minha filha, o Vasquinho no próximo domingo deve escrever um artigo a explicar que não há pedófilos na Igreja portuguesa. Com essa obra de caridade ganhará o Céu.....

-O Vasquinho é muito bom. Acho que agora anda a ler a obra completa da Ana Cabral, aquela mística de Évora que espalha a Boa-Nova em Abrantes....

 MA

(1) Correia Guedes

(2) Andersen Tavares

(3) Poli Carpo

(4) Xoné

(5) Baptismal