Quem é que podia resistir à mais demolidora dupla de geniais fabricantes de tiradas sarcásticas?
Quem podia resistir a Eça de Queirós e a Ramalho, nas ''Farpas''?
O deputado abrantino Cunha Belém ficou de rastos....
Uma sonora gargalhada percorreu o país...
No Grande Oriente, onde o Belém era Venerável, nas Cortes onde fazia de Acácio, nos Quartéis onde era figura de relevo, nas boticas abrantinas onde se fazia a política, todos concordaram que era uma falta de respeito infame, que a prosa do Bacharel Queirós e da ramalhal figura ofendesse, venenosa, um Pai da Pátria.
As reproduções são da 1 edição do mefistofélico
folheto da mais talentosa dupla do jornalismo lusitano.
Diz o Médio Tejo, que sobe a 11, o número de mortos no Lar do Pego. A tétrica lista só nos faz alimentar pensamentos lúgubres (por enquanto) , e para traduzir isso, o melhor é dar voz ao poeta (1) ultra-romântico António Cunha Belém que escrevia, em 1877, no Almanaque das Lembranças, uma curta nota que saíu com o tétrico título ''Voz da Caveira''
(1) Foi militar como se nota, além de literato e deputado pela terra, até ser vencido por D.Miguel Pereira Coutinho, que era o candidato da esquerda liberal e grande proprietário em Alvega ......e na Bord'Água, Sintra etc
imagem da wiki ( do ''Occidente'')
Miguel Pereira Coutinho bateu Cunha Belém nas eleições de 1874 e foi eleito Deputado por Abrantes
O adversário de D.Miguel Pereira Coutinho
O amigo de D.Miguel Pereira Coutinho
O antecessor de D.Miguel em São Bento, um grande Deputado abrantino: Santos Silva
O funeral do deputado Santos Silva
gravura e biografia: Revista Occidente 1906
Foi Cunha Belém que cheio de ódio anti-jesuítico, ideário típico do liberalismo do XIX, que propôs ''canonizar'' Sebastião José
São dele estas imortais palavras, ditas em nome da soberania nacional:
Isto é um excerto do artigo de Romeiras, Francisco & Leitão, Henrique. (2012). Jesuítas e Ciência em Portugal. V - Os Colégios de Campolide e de São Fiel e a implantação da República. Brotéria. 174. 425-440.
O Cunha Belém foi escorraçado do lugar de deputado abrantino por um fidalgo de Alvega, D.Miguel de Azevedo Coutinho.
mn
Quem eram os dois caciques ''progressistas'' (1)? O Abreu era o pai do Dr.Eduardo Solano de Abreu e de Tiago Solano de Abreu, um dos homens mais ricos da terra, graças à herança de Brás Consolado, o sogro. O outro era o ex-miguelista Raymundo Soares, este
Entre os protagonistas há vários antepassados de muitos abrantinos actuais, uns pintados como ''bons'' (os amigos dos regeneradores) e outros como péssimos, os que sustentavam a candidatura de D.Miguel Pereira Coutinho.
Quando houver pachorra talvez se traçe a biografia de cada um. O José Sebastião de Almeida Beja nasceu em 1793 e casou-se com uma pessoa da família dos antepassados de D.António Castel-Branco, a D.Jacinta de Castro Ataíde. Era um liberal vintista e teve problemas com os absolutistas.....caso do Raimundo Soares.
Naturalmente deve ter-se em conta que isto é um artigo eleiçoeiro, que provém dos amigos do candidato Cunha Belém. A versão dos ''históricos'' deve estar no ''Diário Popular''.
Só uma achega mais, o Visconde da Abrançalha tinha sido convidado para candidato progressista e recusou. Como se sabe mais tarde seria um fiel partidário dos regeneradores.
Quando houver mais tempo tentar-se-á estudar este assunto com mais pormenores.
mn
Fonte: Diário Ilustrado-1874
(1) Partido Histórico Progressista, chefiado pelo Duque de Loulé. A cooperação política e militar entre a esquerda liberal e o miguelismo tinha marcado parte da política da época, veja-se a Maria da Fonte
A perfeita bandalheira política, o correspondente do jornal regenerador aproveita um fatal incêndio em que morre um miúdo para insultar D.Miguel Pereira Coutinho, o candidato histórico (progressista). Mas há na notícia matéria para todos os gostos, o combate aos fogos funcionava mal, a Mesa da Misericórdia fora saneada e o vigário de São Vicente não apresentava contas, coisa que nos lembra uma situação parecida.
Teremos de identificar algumas das personagens, porque à primeira vista só reconheço o padre Sá Pereira, que seria um protegido de Avellar Machado.
O Largo do Encontro é o actual Largo Ramiro Guedes, onde está a Ondalux.
Consultadas as Cronologias do E.Campos e do Candeias não falam nisto, mas o Eduardo diz que no final deste ano a Câmara deliberou comprar nova bomba de apagar fogos e deu a velha aos rossienses, certamente um reflexo do flop no combate ao fogo fatal no Largo do Encontro.
mn
PS- Era Presidente da Câmara o capitão Joaquim Ferreira, que me parece que era um avoengo do caríssimo Manuel Bougard
fonte: Diário Ilustrado, 1874
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A propaganda regeneradora alcançou em 1874 o delírio. Chegou a acusar o Coutinho de ser apoiado por miguelistas e republicanos, numa união sagrada. Ora ia o Coutinho pelo P.Histórico, cujo fundador era o Duque de Loulé, casado (embora vivesse separado) com a Infanta D.Ana Maria de Jesus, irmã do fundador do regime, el-Rei. D.Pedro IV. Era um liberal de esquerdas, Nuno Rolim de Moura Barreto, mas não era um republicano.
O Cunha Belém, alto-dirigente da maçonaria, era um reaccionário e terminou expulso do Parlamento por um desfalque. Mas na propaganda apresentada aos abrantinos, descreve paternalmente D.Miguel Coutinho como um inútil embora ''bom rapaz''.
E apresenta-se a si próprio como um homem de estudos ''científicos'' (o Coutinho estudara Filosofia e Matemática em Coimbra, mas não acabara o curso) e colaborador de todas as gazetas de Lisboa.
Estivera alguns anos em Abrantes, como militar, só faltou acusar D.Miguel de não ter feito a tropa.
Ou seja para o Cunha Belém e para o estado-maior regenerador abrantino, o aristocrata era um inútil, um parasita, um candidato pára-quedista a deputado (tinha mais raízes familiares no concelho que o outro) mas não lhe chamaram ladrão.
Quem se viu acusado de ''ladrão'' (1), foi o Belém quando o expulsaram do Parlamento, enquanto D.Miguel assistia à cena deliciado.
ma
(1) O Belém foi mais tarde ''reabilitado'' .
Vamos publicá-lo.
ma
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