Segunda-feira, 20.02.12
  Publicado em 22 Jun 2008 (1376 leituras)
 
IN MEMORIAM E EVOCAÇÃO
 
Major‑General Médico
Professor Doutor José Manuel Carrilho Ribeiro
 
O Major‑General médico Carrilho Ribeiro nasceu em Abrantes, em 23 de Novembro de 1933, e faleceu em Lisboa, em 27 de Dezembro de 2007. Era Sócio Efectivo da Revista Militar, desde 1982, com o nº 227.
 
Aluno brilhante e premiado no Liceu de Santarém, ingressou na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se licenciou em 1959, com a elevada classificação de 18 valores. Em 1957 foi incorporado para a frequência do COM, sendo promovido a Asp Of Mil Médico e colocado no 1º Grupo de Companhias de Saúde (1º GCS). Mercê da elevada classifi­cação na licenciatura, foi bolseiro do Instituto Português para a Alta Cultura, em Itália, com estágios, em 1959/60, nas Universidades de Génova e de Roma, onde pôde beneficiar do saber e experiência de especialistas de renome no domínio da gastrenterologia e familiarizar‑se com as tecnologias mais avançadas da época.
 
Pouco depois de concluir, com brilho, os Internatos Geral e Comple­mentar, foi mobilizado, em 1961, para Moçambique, como Ten Mil Médico, integrado na CArt 179 sob o meu comando. Aí desenvolveu, com enorme entusiasmo e generosidade, um notável programa de assistência médico‑sanitária, às populações nativas, numa vasta área e, por vezes, sob difíceis condições meteorológicas ou de terreno. Esta acção foi potenciada pelo facto de ter sido nomeado delegado de saúde na circunscrição, em acumulação com as suas funções militares. E a forma atenta, dedicada e eficaz como desempenhou estas últimas funções granjeou‑lhe o respeito, o apreço e um extremo reconhecimento, não só de todo o pessoal militar, mas também, mais tarde, dos familiares, que o manifestavam exuberantemente nas reuniões anuais de confraternização, das quais era presença assídua. Assim, desde os primeiros passos da sua carreira profissional evidenciou algumas das qualidades que o exornavam: competência técnica, alto sentido ético e do dever, grande sensibilidade humana, generosidade e especial atenção aos mais desfavorecidos. E, cativado pela experiência de um saudável ambiente militar, que se compaginava com os valores por que se regia, decidiu concorrer, em 1962, ao QP do Serviço de Saúde Militar (SSMil), vindo a ser classificado em 1º lugar. Ficou afectivamente ligado a Moçambique, onde lhe nasceu um filho. E, ao longo da sua actividade profissional, foi frequentemente procurado, no seu consultório, por naturais daquele País, os quais, invocando memórias e ligações várias (tantas vezes imaginadas…) iam em busca de apoio e auxílio e eram quase sempre generosamente atendidos.
 
Aprovado, em 1965, como especialista em gastrenterologia, foi mobilizado para Angola nesse mesmo ano, desempenhando durante 3 anos as funções de chefe do Serviço de Gastrenterologia do Hospital Militar de Luanda. Aí desenvolveu uma acção de grande relevo, reconhecida por um expressivo louvor do Ministro do Exército. Finda esta comissão, foi colocado no HMP, onde, ainda Capitão, assume as funções de chefe do serviço de Gastrenterologia, em período de grande afluência de doentes. Desempenhou aquelas funções durante 12 anos, até ser nomeado, já Coronel, Director do HMP. Exerce este cargo por duas vezes, como Coronel e Major‑General, num total de 7 anos (caso único nos anais do HMP). Promovido a Major‑General em 1988, foi ainda Director do Serviço de Saúde do Exército, de 1991 a 1993, ano em que transitou para a situação de Reserva.
 
Nos longos anos de serviço prestado no HMP, levou a efeito uma acção relevante e altamente prestigiante, que lhe valeu vários louvores. Profundo conhecedor do Hospital, soube, apoiado no seu prestígio no meio da classe médica, proceder, com tacto, bom senso e determinação, aos reajustamentos internos impostos pelas novas realidades político‑militares e orçamentais e, ao mesmo tempo, recuperar instalações e equipar o HMP com tecnologias de ponta, de forma a garantir‑se a eficácia, a autonomia e o prestígio daquele Órgão. Mereceu‑lhe sempre especial atenção a Família Militar e, de tal forma que, na área de influência do Hospital não havia praticamente um militar do QP que não devesse uma expressão de reconhecimento a este médico e amigo.
 
Regista‑se ainda que o Major‑General Carrilho Ribeiro, sempre atento, por um lado, ao prestígio e valorização do HMP e do SSMil e, por outro, à salvaguarda, tanto quanto possível, da qualidade profissional dos novos médicos, impulsionou em 1976, acompanhado por outros oficiais médicos, a integração do ensino médico pré‑graduado da Faculdade de Ciências Médicas nos serviços do HMP, numa altura de forte perturbação do ensino universitário oficial. Foi coordenador geral desse ensino durante 22 anos.
 
Data desta experiência a sua percepção de que a resolução do problema do recrutamento de oficiais médicos para o QP passava pela criação, na Academia Militar, dos cursos de Medicina, com vista à obtenção de oficiais em quantidade desejada, com qualidade e bem motivados. Bateu‑se por essa solução em várias oportunidades e teve a satisfação de a ver concretizada.
 
A par da sua actividade militar e na esfera privada, o Major‑General Médico Carrilho Ribeiro desenvolveu uma notável carreira académica.
 
Mercê do renome que já alcançara na área da sua especialidade, foi nomeado, em 1969, assistente de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Lisboa, passando a professor associado convidado em 1976. E aliando uma excepcional força de vontade às qualidades, já sobejamente afirmadas, de superior inteligência, brio e grande capacidade de trabalho e de organização, doutora‑se em Medicina em 1983, com distinção e louvor, e sem prejuízo do normal desempenho das suas funções militares.
 
Observador arguto, com grande sensibilidade clínica e humana, cuida­doso, calmo, afável sem familiaridades, com uma presença tranquilizante e que reflectia saber e inspirava confiança, sabia criar, rapidamente, uma grande empatia com o doente. E profissional distinto e prestigiado, culto, com uma diversificada curiosidade intelectual, de esmerada educação e fino trato, com uma postura naturalmente distinta, falando com fluência quatro línguas estrangeiras, o Major‑General Médico Carrilho Ribeiro alcandorou‑se a uma posição de elevado relevo, em termos profissionais e sociais, com vasta projecção nacional e internacional no campo da gastrenterologia e afins. Assim, foi:
 
– Secretário‑Geral, Vice‑Presidente e Presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (1976/84).
 
– Presidente e organizador do Congresso Internacional de Gastrenterologia, realizado em Lisboa em 1984, e que se tornou o maior congresso médico realizado no País.
 
– Presidente da Sociedade Europeia e Mediterrânea de Gastrenterologia (1984/88).
 
– Presidente do Grupo Português de Ultrassonografia (1989/95).
 
– Secretário Cientifico da Sociedade Europeia de Endoscopia Digestiva (1988/96).
 
– Presidente do “Internationale Duodenal Club” – Itália (1999/2003).
 
 
– Pioneiro, em Portugal, da Fibroendoscopia Digestiva e Polipectomia Endoscópica e da Ecotomografia Abdominal.
 
– Docente da Escola Europeia de Ultrassonografia da Sociedade Europeia de Ultrasons em Medicina e Biologia (1988/98).
 
– Conselheiro da Organização Mundial de Endoscopia Digestiva (1993/99).
 
– “Fellow” do American College of Gastroenterology (1980/94).
 
– Membro do “Comité d’ Endoscopie Digestive” do Conselho da Europa (1988/95).
 
– Membro do “International Advisory Committee” dos Congressos Mun­diais de Gastrenterologia.
 
– Representante português da Saúde Militar, dos 3 Ramos, nos plenários da EUROMED, em 1992/94.
 
– Editor‑Chefe da Revista “Gastric Protection” – Milão (1999/2003).
 
Foi ainda membro de outras sociedades científicas. Teve presença activa em mais de 100 reuniões e congressos médicos, nacionais e estrangeiros, e publicou mais de 30 trabalhos científicos em revistas especializadas, nacionais e estrangeiras. É co‑autor da obra “A Ultrassonografia Abdominal”.
 
Em virtude da sua capacidade técnica, experiência, prestigio e dimensão humana, o Major‑General Carrilho Ribeiro foi convidado para Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, em 1993, funções que aceitou com a habitual disponibilidade para o serviço público, apesar de ser sabedor das situações difíceis que iria encontrar, não só no campo financeiro e político, como no dos interesses e vaidades pessoais. Houve‑se com o habitual brilho e pundonor “em defesa dos valores da humanidade, imparcialidade, neutralidade, independência, voluntariado, unidade e universalidade”, conforme foi reconhecido em louvor do MDN.
 
Sempre generoso para com os mais desprotegidos, era Presidente, desde 2002, do Centro Hellen Keller.
 
Tendo sabido combinar harmoniosamente a condição do cidadão‑médico, voltado para o ser humano em geral, com a especificidade da condição militar, bem como aliar a curiosidade, inquietação e rigor do professor com a capacidade de iniciativa e de realização, a combatividade e o pragmatismo do homem de acção, o Major‑General Médico Professor Doutor José Manuel Carrilho Ribeiro foi uma personalidade de especial relevo na medicina do seu tempo, e que prestigiou e marcou de forma indelével o Serviço de Saúde Militar na segunda metade do Séc XX.
 
Foi agraciado com as seguintes condecorações:
 
– Comendador da Ordem Militar de Cristo;
 
– Medalha de Ouro de Serviços Distintos;
 
– Duas Medalhas de Prata de Serviços Distintos;
 
– Medalha de Mérito Militar de 3ª Classe;
 
– Medalha de Ouro de Comportamento Exemplar;
 
– Duas Medalhas Comemorativas das Campanhas do Ultramar (Angola e Moçambique).
 
Tenente‑General Abel Cabral Couto
Sócio Efectivo da Revista Militar
 
 
A Direcção da Revista Militar reitera à Família enlutada do seu Ilustre Sócio a expressão do seu grande pesar.

 

 

com a devida vénia retirado da Revista Militar-

 

posto por Marcello de Noronha  

 

(já chega de comédias, falemos dos grandes abrantinos, dos pequenos fala a Voz do Betão) 



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