Segunda-feira, 16.08.21

''Os ingleses estão experimentando, no seu atribulado império da Índia, a verdade desse humorístico lugar comum do sec. XVIII: «A História é uma velhota que se repete sem cessar».

O Fado e a Providência, ou a Entidade qualquer que lá de cima dirigiu os episódios da campanha do Afeganistão em 1847, está fazendo simplesmente uma cópia servil, revelando assim uma imaginação exausta.

Em 1847 os ingleses, «por uma Razão de Estado, uma necessidade de fronteiras científicas, a segurança do império, uma barreira ao domínio russo da Ásia…» e outras coisas vagas que os políticos da Índia rosnam sombriamente, retorcendo os bigodes - invadem o Afeganistão, e aí vão aniquilando tribos seculares, desmantelando vilas, assolando searas e vinhas: apossam-se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; colocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e, logo que os correspondentes dos jornais têm telegrafado a vitória, o exército, acampado à beira dos arroios e nos vergéis de Cabul, desaperta o correame, e fuma o cachimbo da paz… Assim é exactamente em 1880.

No nosso tempo, precisamente como em 1847, chefes enérgicos, Messias indígenas, vão percorrendo o território, e com os grandes nomes de «Pátria» e de «Religião», pregam a guerra santa: as tribos reúnem-se, as famílias feudais correm com os seus troços de cavalaria, príncipes rivais juntam-se no ódio hereditário contra o estrangeiro, o «homem vermelho», e em pouco tempo é tudo um rebrilhar de fogos de acampamento nos altos das serranias, dominando os desfiladeiros que são o caminho, a estrada da Índia… E quando por ali aparecer, enfim, o grosso do exército inglês, à volta de Cabul, atravancado de artilharia, escoando-se espessamente, por entre as gargantas das serras, no leito seco das torrentes, com as suas longas caravanas de camelos, aquela massa bárbara rola-lhe em cima e aniquila-o.

Foi assim em 1847, é assim em 1880. Então os restos debandados do exército refugiam-se nalguma das cidades da fronteira, que ora é Ghasnat ora Kandahar: os afegãos correm, põem o cerco, cerco lento, cerco de vagares orientais: o general sitiado, que nessas guerras asiáticas pode sempre comunicar, telegrafa para o viso-rei da Índia, reclamando com furor «reforços, chá e açúcar»! (Isto é textual; foi o general Roberts que soltou há dias este grito de gulodice britânica; o inglês, sem chá, bate-se frouxamente). Então o governo da Índia, gastando milhões de libras, como quem gasta água, manda a toda a pressa fardos disformes de chá reparador, brancas colinas de açúcar, e dez ou quinze mil homens. De Inglaterra partem esses negros e monstruosos transportes de guerra, arcas de Noé a vapor, levando acampamentos, rebanhos de cavalos, parques de artilharia, toda uma invasão temerosa… Foi assim em 1847, assim é em 1880.

Esta hoste desembarca no Industão, junta-se a outras colunas de tropa índia, e é dirigida dia e noite sobre a fronteira em expressos a quarenta milhas por hora; daí começa uma marcha assoladora, com cinquenta mil camelos de bagagens, telégrafos, máquinas hidráulicas, e uma cavalgada eloquente de correspondentes de jornais. Uma manhã avista-se Kandahar ou Ghasnat; e num momento, é aniquilado, disperso no pó da planície o pobre exército afegão com as suas cimitarras de melodrama e as suas veneráveis colubrinas do modelo das que outrora fizeram fogo em Diu. Ghasnat está livre! Kandahar está livre! Hurrah! Faz-se imediatamente disto uma canção patriótica; e a façanha é por toda a Inglaterra popularizada numa estampa, em que se vê o general libertador e o general sitiado apertando-se a mão com veemência, no primeiro plano, entre cavalos empinados e granadeiros belos como Apolos, que expiram em atitude nobre! Foi assim em 1847; há-de ser assim em 1880.

No entanto, em desfiladeiro e monte, milhares de homens que, ou defendiam a pátria ou morriam pela «fronteira científica», lá ficam, pasto de corvos - o que não é, no Afeganistão, uma respeitável imagem de retórica: aí, são os corvos que nas cidades fazem a limpeza das ruas, comendo as imundícies, e em campos de batalha purificam o ar, devorando os restos das derrotas.

E de tanto sangue, tanta agonia, tanto luto, que resta por fim? Uma canção patriótica, uma estampa idiota nas salas de jantar, mais tarde uma linha de prosa numa página de crónica…

Consoladora filosofia das guerras!

No entanto, a Inglaterra goza por algum tempo a «grande vitória do Afeganistão» - com a certeza de ter de recomeçar, daqui a dez anos ou quinze anos; porque nem pode conquistar e anexar um vasto reino, que é grande como a França, nem pode consentir, colados à sua ilharga, uns poucos de milhões de homens fanáticos, batalhadores e hostis. A «política» portanto é debilitá-los periodicamente, com uma invasão arruinadora. São as fortes necessidades dum grande império.

Antes possuir apenas um quintalejo, com uma vaca para o leite e dois pés de alface para as merendas de verão…»

(«Cartas de Inglaterra»)

José Maria Eça de Queirós, cônsul em Bristol 


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Quinta-feira, 01.04.21

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Em 1862, ardia a Universidade de Coimbra e o incendiário era o estudante açoriano, Antero de Quental, que dirige a agitação contra  aquele, a quem Eça chama, o ''czar de borla e capelo'', Basílio de Sousa Pinto, o Reitor, depois Visconde de S.Jerónimo.

Antero funda uma sociedade secreta, a ''Sociedade do Raio'', a que aderem múltiplos estudantes, entre eles Eça de Queirós e pelo menos um abrantino, João Freire Themudo de Oliveira Mendonça, mais tarde conhecido como Visconde do Tramagal.

A ''Sociedade do Raio'' encabeça múltiplas e célebres formas de protesto contra as autoridades académicas e contra o ''czar''.

Desde levantamentos na Sala dos Capelos, em dias de sessão solene, que era o 8 de Dezembro, festa da padroeira da Universidade, quando se atribuíam os galardões académicos, até um projecto frustrado de rapto do Sousa Pinto.

Entre os fundadores da agremiação está João Freire Themudo de Oliveira Mendonça, que assina o manifesto, redigido por Antero, ao lado de muitos estudantes.

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Com a dissolução da Sociedade, em 1863, parte dos estudantes, constituiu uma loja maçónica, '' A Reforma'', onde foi iniciado João de Oliveira Mendonça, com o nome de Irmão ''Passos José.''

A biografia de Oliveira Mendonça,  que seria Visconde do Tramagal, grande proprietário rural, político progressista em Abrantes  e fora (tenho ideia que foi Governador Civil de Portalegre), empresário dado a investimentos financeiros e bancários, um dos concessionários da Ponte do Rocio de Abrantes é relativamente conhecida. Aqui fica um apontamento juvenil duma militância radical ao lado de Eça e Antero.

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visconde do tramagal.jpg

 

bibliografia: Mário Brandão, Estudos Vários, Universidade de Coimbra 1974, António Nóvoa, ''Em nome da Liberdade, da Fraternidade, e da emancipaçao da Academia: um importante inédito de Antero de Quental, redigido no âmbito da Sociedade do Raio, : (Coimbra 1861-63),Revista de História das Ideias, nº13 Coimbra 1991; Documento de afirmação da Sociedade do Raio escrito por Antero de Quental, PT/MVNF/AS-AS/1-1.1-1.1.1/000024, Arquivo Alberto Sampaio (extracto da assinatura).

imagem do Mendonça : gamada ao Joaquim Ribeiro

 

  

 



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Domingo, 06.12.20

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Quem é que podia resistir à mais demolidora dupla de geniais fabricantes de tiradas sarcásticas?

Quem podia resistir a Eça de Queirós e a Ramalho, nas ''Farpas''?

O deputado abrantino Cunha Belém ficou de rastos....

Uma sonora gargalhada percorreu o país...

No Grande Oriente, onde o Belém era Venerável, nas Cortes onde fazia de Acácio, nos Quartéis onde era figura de relevo, nas   boticas abrantinas onde se fazia a política, todos concordaram que era uma falta de respeito infame, que a prosa do Bacharel Queirós e da ramalhal figura ofendesse, venenosa, um Pai da Pátria.

Dr._Cunha_Belém_-_O_Occidente_(30Set1904).png

As reproduções são da 1 edição do mefistofélico

230px-AsFarpas_cover.png

 

 

folheto da mais talentosa dupla do jornalismo lusitano.

 

  

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Sexta-feira, 22.03.19

Outubro 1871.

– Deixai vir ter comigo as crianças, abençoadas são elas! elas sabem muitos segredos que os sábios ignoram.

Parece que ultimamente o clero não tem esta consoladora ideia de Jesus. O Sr.Encomendado de Santos-o-Velho, no dia de Finados, depois da missa conventual, paramentado, sobre o degrau do altar, voltou-se para o povo, e repreendeu as mães que levavam consigo as crianças à missa! E aí estão enfim as crianças expulsas da Igreja, não podendo ao menos ir uma vez por semana erguer as suas pequeninas mãos para

Aquele que foi outrora, nas sombras da Galileia, o seu amigo imortal!

Respeitamos profundamente esta opinião católica do Sr. Encomendado de Santos-o-Velho. sem dúvida mais moral que as mães levem seus filhos à taberna, e lhes ensinem cuidadosamente – mostrando-lhes, em lugar de uma cruz, uma navalha de ponta – esta máxima salutar: esfaquiai-vos uns aos outros! Assim se formam os justos. E seria mesmo conveniente que a opinião do Sr. Encomendado tivesse uma realização prática: que houvesse na Igreja, para as crianças, a mesma polícia que há para os cães: e que, ao lado do respeitável funcionário enxota-cães, se perfilasse do outro lado da porta o meritório empregado enxota-crianças. E o culto alcançaria, definitivamente limpo do ladrar dos cães e do chorar das crianças – o mais alto grau de pureza.

Realmente as crianças que choram à missa cometem um desacato. Segundo afirma a teologia casuística, os manuais de inquisidores, as dissertações dos dominicanos,

(Chicotes, Lanternas, Fustigações, são os títulos destes livros pios) e ainda segundo as profundas obras de Nieder, Sprenger, Spina e Bodin, o ilustre legista de Angers, as crianças trazem dentro de si o demónio, e quando choram nas igrejas é porque Satanás pretende insultar o culto e o sacerdote. De sorte que o Sr. Encomendado de Santos-o-Velho ainda nos parece tolerante; porque deveria talvez, com a sua autoridade de sacerdote e de teólogo, ordenar às mães que quando à missa as criancinhas lhes chorem ao peito – imediatamente lhes esmaguem as cabeças no lajedo, para abafar a voz do

Maligno!

O Sr. Encomendado referia-se apenas às crianças pobres. Às crianças ricas não imporia ele, sacerdote de Jesus, esse aristocrático mestre, uma exclusão irrespeitosa. – E essas mães pobres podem talvez dizer-nos:

Que são pobres; que não têm quem lhes fique em casa a tomar conta dos filhos;

Jesus, quando não sofria ainda aquela áspera melancolia que lhe deu mais tarde a presença de Jerusalém branca e dura, era um meigo rabi, que percorria perpetuamente, no infinito enlevo do seu sonho, a sua tranquila e humana Galileia, ora a pé, ora num desses pequenos burros que têm os olhos tão grandes e tão doces e que vêm da alta Síria. Entrava nas sinagogas; e, comentando os velhos papiros da lei, ensinava o Deus novo. Parava nos casais, sentava-se às portas, sobre os bancos encanastrados de vime, debaixo dos sicômoros. As mulheres davam-lhe mel, vinho de Safed, e diziam: – «fala, rabi, fala!» As crianças tomavam-lhe as mãos, ou puxando-lhe pelas compridas pontas do seu couffie, amarrado por uma corda da pele de camelo, queriam ver o fundo dos seus olhos. Os discípulos afastavam as crianças. Mas o Mestre murmurava sorrindo: que os não querem deixar sós no berço, chorando no isolamento, ou, se são mais crescidos, ao pé do lume, arriscados ainda a caírem, a ferirem-se, a virem para a rua, a serem atropelados; que enfim não se querem separar deles, e que, como são pobres, sem pão farto, desgraçadas neste mundo, só lhes resta na Igreja o sonho consolador de um

Céu que repara! Isto é talvez assim (ainda que se percebe que estas razões são inspiradas por Satanás). – Mas também é verdade que os Srs. Encomendados não podem ser interrompidos na sua missa pelas crianças que rabujam, e que se torna de toda a justiça que sejam excluídas da Igreja, como perturbadoras da ordem, da decência e do respeito – as mães que ousem vir rezar com o seu filho ao colo!

Pobres pequenos! consolai-vos! Jesus, o vosso amigo, também não é mais feliz: há muitos séculos que ele procura erguer a pedra do seu túmulo – e há muitos séculos que o seu clero carrega na pedra para baixo!''

 

Eça de Queiroz, in Uma Campanha Alegre

 


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Quinta-feira, 28.03.13


Em Abrantes - segundo informações de um amigo nosso, jurisconsulto ilustre - sucede este estranho caso:

Pela lei de 10 de Julho de 1843 só são obrigados ao imposto do pescado os pescadores que exercem a sua indústria em água salgada - e naquela parte dos rios somente até onde cheguem as marés vivas do ano.

Ora em Abrantes entende-se de um modo largamente torpe esta acção do fisco sobre a pesca. Vinte homens, extremamente miseráveis, que pescavam no rio - onde não podiam chegar marés vivas - e alguns mesmos que de todo não pescavam, foram obrigados a pagar o imposto do pescado! Uns não se defenderam desta extorsão por pobríssimos: outros não se defenderam em virtude da ideia popular na província - de que, com o fisco, paga-se sempre e nunca se questiona, porque naturalmente depois é-se obrigado a pagar mais.

Isto constitui puramente, numa linguagem talvez plebeia, mas exacta, um roubo. Obrigar um pescador do rio a pagar o imposto do pescador do mar, é (além de uma confusão deplorável do velho e respeitável Oceano com qualquer fio de água que murmura e foge) um sistema extremamente parecido com o que empregam as pessoas estimáveis que nos metem a mão na algibeira e levam para casa o nosso lenço. Nós não desejamos embaraçar os negócios fiscais. Somente nos parece que impor a qualquer cidadão, mesmo quando não pesque, o imposto do pescado, é um expediente sumamente complicado. E o fisco, que deve ser parcimonioso do seu tempo e dos seus recursos, tem um meio mais singelo e mais expedito, que consiste em se aproximar de qualquer, e gritar-lhe pondo-lhe uma carabina ao peito:
— Passe para cá o que leva na algibeira!

Estes processos do fisco, que se repetem arbitrariamente em toda a província e que são sem dúvida um dos recursos do Estado, parecem-nos imprudentes - porque estabelecem confusão. Há por essas estradas isoladas, em certas vielas de cidades mal policiadas, nos pinheirais, nos sítios ermos e amados da sombra, uma espécie de cidadãos, de resto singularmente diligentes, que se deram por missão suspender por um momento as pessoas que passam, e pela maneira mais delicada tirar-lhes o dinheiro, os relógios e outras insignificâncias. Por seu lado o fisco costuma deter os cidadãos, e sob qualquer pretexto (como por exemplo no caso de Abrantes, por serem pescadores de água salgada) exigir-lhes uma quantia e entregar-lhes um recibo. Estes dois processos, o do fisco e o dos senhores ladrões, oferecem uma tal similitude que pedimos ao Governo que distinga por qualquer sinal (um uniforme por exemplo), estas duas estimáveis profissões; para que não suceda que os cidadãos se equivoquem e que vão às vezes lançar a perturbação na ordem social, confundindo o facínora e o funcionário - apitando contra o fisco e pedindo humildemente recibo ao salteador!

Eça de Queiroz, O fisco na província (Uma Campanha Alegre, vol. I, cap. XLVIII)


retirado de http://dias-com-arvores.blogspot.com.es/2010_06_01_archive.html


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publicado por porabrantes às 12:29 | link do post | comentar

Segunda-feira, 29.11.10

Se este blogue reivindica no plano cultural abrantino o magistério moral e cultural de personalidades como Duarte de Ataíde Castel-Branco, Manuel Fernandes, Diogo Oleiro e o seu filho João Manuel Bairrão Oleiro, João Nuno Serras Pereira, João Manuel Esteves Pereira,  e João de Castro Solla Soares Mendes e ainda de muitos outros, de que nos podem separar divergências políticas mas em que reconhecemos amor e defesa da cultura desta cidade como é o caso do saudoso Eduardo Campos.

Também temos as nossas referências no campo de entender como se escreve uma publicação periódica (como é um caso de um blogue) e por isso reivindicámos já aqui a herança de Camilo (o imbatível polemista), de Eça (o jornalista impiedoso das Farpas) e queremos agora assumir outra herança de monumental relevo na caricatura e na sátira política do século XX.

José Vilhena de que temos publicado muitas ilustrações, mas que temos ignorado no valor da sua prosa demolidora. E Vilhena foi um prosador sarcástico, impiedoso e notável.

 

Vejam esta verve plenamente actual a página 161 deste livro de inícios do século XXI

 

''Padre Nosso que estais no Céu,
acima dos grupos económicos, dos lóbis e multinacionais; do Banco Mundial,
da Wall Street, do F.M.I. e das mafias internacionais.
Que sois muito maior do que o Belmiro, o Amorim, o Pinto da Costa, o Balsemão, o Chapalimaud, o Jardim Gonçalves e o Presidente da República,
(Por isso vos chamam Todo Poderoso) defendei-nos dos políticos corruptos e demagogos,
da globalização e das máfias do futebol.
Vós que mandais mais do que a polícia, os bancos, os tribunais, os partidos, a televisão e o Governo, ponde um travão nessa cambada
para que não maltratem o povo.
Perdoai, Senhor, as filha de putices que nos fazem.
Perdoai aos nossos irmãos transviados, e aos que nos querem foder, pois uns e outros não sabem o que fazem.
Não nos deixeis cair em fornicação sem preservativo e livrai-nos,
para todo o sempre, das doenças venéreas.
Amen."

 

É vernácula demais a linguagem?

 

Só quem não leu José Agostinho de Macedo é que pode corar como uma catequista a ler Vilhena e depois aplaudir as patacoadas insultuosas do primeiro esposo do concelho através duma rádio que já foi livre.

 

Resgatámos um texto abrantino de Mestre Vilhena que reproduzimos com a devida vénia para que os moralistas pensem duas vezes antes de começarem a uivar.

 

 

POR UMA BOA QUECA
Saudades da drª. Edite Estrela
POR FAVOR, NÃO FODAM A LÍNGUA PORTUGUESA!

 

Pedro Marques, esforçado dirigente da JSD de Santarém, endrominou uma moção de estratégia para o próximo Congresso do PSD a que chamou «Por uma boa queca».

Politicamente correcto, este título (pois a política anda cada vez mais rasteira), não o é quanto à semântica. De facto, a palavra queca não existe em português vernáculo. Não vem em qualquer dicionário. Alguns ignorantes usam-na sem saberem que se trata de uma corruptela da palavra queda, vocábulo antiquíssimo, do tempo em que foder acontecia quando a mulher estava em decúbito dorsal, quer dizer com os costados no chão e as pernas abertas pronta a levar a bela foda. Dizia-se então que estava em «queda», ou «caída».

Hoje isso está ultrapassado. As fodas, na grande maioria dos casos, não acontecem com a mulher naquela atitude (aliás ridícula). Há mesmo muitos fornicadores encartados que a desconhecem. As fodas, hoje, dão-se de pé, sentado, de cócoras, à canzana, enfim, numa das 32 posições bem explicadas no Kama Sutra e idênticos manuais (alguns admitem 36), raramente em queda (ou em queca).

Mal vai à JSD quando tem um dirigente que lança uma moção de estratégia sobre Educação Sexual e só sabe foder numa posição!...

Tudo isto nos faz sentir saudades do tempo em que a drª. Edite Estrela policiava os assassinos da língua portuguesa nas suas charlas da televisão. Ninguém melhor do que ela sabia que «queca» é uma aberração.

Infelizmente a ilustre especialista da língua já não se move nessa área. Mudou-se para a política, para Sintra, para o dolce far niente e todos ficámos a perder. Com ela, não haveria gaffes nas quecas.

 

BOAS QUECAS
O verbo correcto a usar na famigerada moção seria foder, que tem origem no latim – fodio, fodis, fododi, fodossum, fodere – e significa furar, picar. Por isso, a proposta do Sr.Pedro Marques devia intitular-se POR UMA BOA FODA. Ele pode dar umas boas quecas nas miúdas lá da JSD mas do que não tem direito é de foder a língua portuguesa.

 

José Vilhena in

Josevilhena.net

 

onde ficou imortalizado o ex-chefe do Pico, Sr.Dr.Pedro Marques.

 

publicado por Miguel Abrantes



publicado por porabrantes às 14:35 | link do post | comentar

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