Um amigo faz um reparo a este post. Duvida da amizade entre o major Luiz de Quillinan e Eça de Queirós.
A amizade foi constatada por Ernesto Guerra de Cal, o grande especialista na bibliografia eciana. (ver ''Língua e Estilo de Eça de Queirós'')
Eça era cônsul em Bristol e Quillinian adido militar em Londes.
Guerra da Cal anota que no seu arquivo particular consta uma carta do major a Eça em 1882, onde no sobrescrito se lê:
'' A. L. de Quillinan. Esq. Secretary of the Portuguese Legation. 12 Gloucester Place. Postman Square. London».
Já agora para os curiosos sobre o militar veja-se este número da Galeria Republicana,
ma
O Órgão do Cónego
Entrou o escrivão, todo empertigado na sua missão notarial. Vinha a mandos do Cónego buscar o órgão de Sua Excelência Reverendíssima. O Cónego bradara lá do alto do púlpito, que se os homens eram irmãos, as paróquias também o deveriam ser, as rivalidades velhas eram anti-ecuménicas e pouco pastorais, próprias de Jeovás e de Mórmons e não de católicos pós-conciliares, de colores e de ida anual a pé a Fátima no 13 de Maio como dizia no décimo-segundo mandamento. Porque o décimo-primeiro era sustentar o clero e as suas obras pias. Uma devota lembrou a Sua Excelência Reverendíssima que os mandamentos de Moisés eram só dez e o Cónego, sábio e teólogo, replicou, irado, que D.Moisés já não era Arcebispo-Primaz e que portanto os seus mandamentos tinham caducado. A beata fugiu, não fosse o Cónego obrigá-la ali mesmo a testar a favor da Comissão Fabriqueira, enquanto lhe aplicava a Santa Unção. Tenho netos e a minha fazenda é para eles, disse ela à vizinha, que a excomungou dizendo que ademais o Antigo Testamento era coisa de protestantes, obra pornográfica, como se podia ver por Sodoma e Gomorra......
O escrivão enfrentou o olhar marcial do sargento que policiava a Igreja a mandos do Cónego.
-O que é que você quer?
-Venho buscar o órgão do Senhor Cónego.
-O Senhor Prior não deixou cá nenhum órgão. O que está cá é da Igreja e você não o leva, porque Você não é cá da paróquia, é da concorrência....
-Ouça lá deixe-se de criancices, agora somo todos conciliadores....
O sargento abriu a gaveta e olhou para o que lá estava dentro. Quando a usara nunca ninguém o ousara contradizer, quanto mais um beleguim......
A coisa, uma Walter 7, 65, era uma recordação bélica do seu trabalho em prol da ordem republicana. O Cónego até a abençoara, recusando no entanto a dizer missa por São Walter, como lhe pedira o sargento, dizendo que esse tal Walter devia ser comunista como o Kalasnikov, no dia em que o sargento a empunhara, bravo e decidido, e apontara ao Anacleto e ao Baptista, respectivamente Presidente e Tesoureiro da Junta de São Macário, ex-legionários convertidos ao Bolchevismo pela Dona Fernandinha, a passionária local, que assim lhes garantira que não seriam saneados. Derramara água benta na canhota, o padre agradecido, só seria Cónego muitos anos depois, porque São Walter o livrara duma soberana sova, à conta de defender que a casa da falecida Felismina era da Paróquia e não da Junta.
O gesto marcial aterrorizou o escrivão que debandou, para se ir queixar ao Cónego, que não conseguira reaver o órgão de Sua Excelência Reverendíssima.
Todo o beatério, especialmente o Apostolado da Oração, os Neo-catecumunais, a Juventude Vicentina, a Tertúlia do Espírito Santo (era o ano da pomba, dissera Roma), os Drogados pelo Catolicismo, A Casa de Santa Quitéria e o Bispo Resignatário D. Apolinário Pardal ficaram muito aborrecidos por nesse domingo a Missa Cantada não ter ao seu serviço o órgão do Cónego e o escrivão por mais que agitasse a batuta não conseguia afinar o coro. Sem o órgão do Cónego nem sequer a Fátima, a barítona gorda e desgrenhada da Ameixeira conseguia dar o dó de peito.
Telefonaram para a Sé, ameaçaram levar o caso ao Tribunal eclesiástico, contactaram a jurista da Obra, mas desistiram assarapantadas quando o colega do escritório disse que a Doutora se divorciara, ela que não fazia divórcios porque era pecado, Amem, já não podemos pedir-lhe que nos dê o órgão do Senhor cónego....
O Decano do Cabido disse que era um assunto muito delicado, que devia ser pelo menos resolvido pelo Senhor Bispo, mas o problema era que não havia Bispo, só restava o Administrador Apostólico, que estava na Terra Santa chefiando uma peregrinações de ex-seminaristas e catequistas, onde havia nada mais que três Presidentes, oito vereadores, as respectivas comadres, excepto a Teresa do Céu que o Bispo expulsara da excursão por levar debaixo do braço, a ‘’Relíquia’’ do bacharel José Maria Eça de Queiroz, conhecido ateu e libertino. E Roma ? O Santo Padre está na Austrália bradando contra os padres pedófilos, aqui o Decano benzeu-se, e tentando converter a prima octogenária que é Jeová.....
Já me parecia que este Papa não é boa rês, o Sr. Cónego não tem nenhuma prima nem sequer afilhada dessa ralé. São gente do pior....
O Decano prometeu telefonar ao Cónego, para impedir que a beata continuasse a descompor o Santo Padre e acabasse por ter de lhe dar tratamento de choque. Nessa tarde, depois do chá das 5, estavam todos em amável tertúlia na sede dos Drogados pelos Catolicismo, velho chalé queirosiano que uma beata rica deixara à Fábrica da Igreja.
-É como o TGV-disse D.Josefa-tenho a certeza que foi inspirado pelo Demónio! Não o digo a rir. Mas vejam aquele fogaracho, aquele fragor! Ai arrepia!
O padre Amaro galhofou-assegurando à srª D.:Josefa que era ricamente cómodo para andar depressa! Mas, tornando-se logo sério, acrescentou:
-Em todo o caso é incontestável, que há nessas invenções da ciência moderna muito do Demónio. E é por isso que a nossa Santa Igreja as abençoa, primeiro com orações e depois com água benta. Hão de saber que é o costume. Com água benta para lhes fazer o exorcismo, expulsar o Espírito Inimigo; e com orações para resgatar do pecado original que não só existe no homem, mas nas coisas que ele constrói. É por isso que se benzem e se purificam as locomotivas....Para que o Demónio não se possa servir para seu uso.
D.Maria da Assunção quis imediatamente uma explicação. Como era a maneira usual de o Inimigo se servir do TGV?
O padre Amaro esclareceu-a com bondade. O Inimigo tinha muitas maneiras, mas a habitual era esta: fazia descarrilar um comboio de modo que morressem passageiros e como essas almas não estavam preparadas pela Santa Unção, o Demónio ali mesmo, zás, apoderava-se delas!
-É de velhaco-rosnou o Cónego, com uma admiração secreta por aquela manha tão hábil do inimigo.
Nisto tocou o seu telemóvel. Soou a musiqueta do carrilhão de Fátima, sinal de que era da Sé que falavam. O Cónego, coçou as partes e pôs-se ao aparelho. Depois duma fala demorada, desligou-o e disse radiante: Vamos ter órgão!
A D.Maria da Assunção, feliz e curiosa, perguntou: Então Vossa Excelência Reverendíssima vai voltar a ter órgão. Como é isso?
-Monsenhor Laranjeira, o Decano, vai mandar-nos o Padre Reparaz, um exorcista de fama para fazer com que o Sargento volte à razão. Se os Diabos fogem quando chega este Padre, o Sargento vai ter de me devolver o órgão.
-A D.Josefa, lânguida e espiritual, deu um suspiro de alívio. Ah Felizmente já poderei voltar àquela Igreja e vou aproveitar para mudar a cabeleira da Nossa Senhora das Dores. Então há uns anos o Sargento não lhe pôs uma peruca loura ?
O Padre Amaro benzeu-se e disparou: Que bruto é esse mamarracho. Toda a gente sabe que Maria não pintava o cabelo.....
Enquanto se aguarda a chegada do Senhor Padre Reparaz, agradece-se o contributo involuntário dum pobre homem da Póvoa do Varzim a esta crónica. Era filho do Conselheiro Teixeira de Queiroz e estava casado pela Igreja, o grande hipócrita, com Dona Emília de Resende. Mas do que ele gostava, o sabujo, de era de correr atrás das Lolas com D.Carlos de Bragança e de dizer heresias. Como estas em que difamou o Padre Amaro, pilar da Igreja e apóstolo de Leiria. Mas pior que isso, foi dizer mal do Cónego Dias. Pior que ele, só o sargento. Porque é que não terão também exorcizado Eça de Queiroz?
Autor: Marcello de Noronha
publicado por Edite Fernandes
Repomos os comentários em dia, apesar da preguiça estival, diz-nos o Sr.Dr. Velez:
Comentário no post A Expulsão da Anabela
.Falou-se de GENTE DAS NOSSAS GENTES, que alguns como eu ainda tiveram oportunidade de conhecer; o que será uma mais valia para nós próprios...Claro que sim, o Sr. Capitão Andrade; claro que sim os Caldeira de Mendanha; claro que sim o Comendador Dr. Francisco Soares, prestigiado cirurgião a exercer em Coimbra, que ao longo de toda a sua vida só fez o bem aos seus amigos e concidadãos, mas gratuitamente, nunca tendo sido amigo da Liga do filho do outro...sempre jogando com ligas verdadeiras, tanto nas mulheres como com as da vida, mas definitivamente nunca gostou de rezas e pendões, nem da padralhada e foi um dos homens que influênciou a minha maneira de ser.Num dos Natais pós 25 de Abril, disse-lhe que me filiei na J. Centrista. Respondeu-me irado: és doido ou comes merda ? Oh Xico ! Hoje não é dia para isso. Nunca virou a casaca e eu também não, mas ainda hoje me questiono o que lhe devia ter respondido.Sobre ele e brasões, também podia dizer umas coisas, mas não me apetece.Sobre outros brasões, até posso falar: mais nêsperas e menos caroços.A mulher de César não pode dar baldas e sobre ela não se deve dizer: salto na cabra e vendo-a.Amigo Xico Soares: fazes cá falta.
António Velez
Caro António:
Virar a casaca é, muitas vezes, próprio de oportunistas. Já os conhecemos. Às vezes há oportunistas com brasões. O Visconde da Abrançalha tinha um Tio que o protegia, o levava ao Café Marrare e a Paris a instruir-se e a ver as coristas, chamava-se D.Álvaro....
As casacas do D. Álvaro, não lhe foram viradas, a família vendeu-as em leilão, mais os livros, que os alfarrábios queimam as pestanas e as obras de Bocage são impróprias de beatos,
PARA UM DICCIONARIO
dos
PÒRTÜGUEZES NOTÁVEIS DO MEU TEMPO
D. ÁLVARO
(..)
Bocca arqueada, enorme, mas fresca,
entreaberta sempre, como a rosa que
elle usava na lapella da casaca,— de
qualquer das quarenta casacas que tinha, pretas
urnas, outras verde garrafa, outras azues de botoes
amarellos, outras de panno forte a duas costuras
para de dia, outras de abotoar, outras com
botões de bronze representando cabeças de bichos,
outras...
Quarenta casacas, emfim I
Das quaes se fez leilão.
E, por signal, no leilão, o pregoeiro deixandose
ir na toada de annunciar as obras de Bocage,
que o Lopes livreiro da rua do Oiro acabava
de reeditar prefaciadas pelo Rebello da Silva, e
de gritar:
Mais dois volumes do mesmo autor!
Mais outro volume do mesmo autor!
Mais trez volumes do mesmo autor!
Passou ás casacas, e:
—,Mais quarenta casacas do mesmo autor!
gritou.
Grande elegante, o D. Álvaro.
Um dos príncipes do Chiado, e de S. Carlos;
um dos soberanos do Marrare. Em Paris, n'uma
viagem com seu sobrinho, hoje visconde da
Abrançalha, cuidava estar ainda no Chiado, no
Marrare, e, sempre á vontade, combinava com
este cavalheiro:
Ás cinco horas no café Montmorency; o
primeiro que chegar, espera pelo outro.
O primeiro que chegava perguntava a algum
dos moços:
O meu tio veiu?
Já appareceu por cá o meu sobrinho?
O moço nunca sabia. ''
é o que conta Mariano Pina na
já não tendo casacas familiares para vender, há quem pura e simplesmente vire a única que tem.
Mariano Pina era amigo de Eça,
devia ser meio anarquista para se meter com os vende-casacas.
mn
foto do Mariano: Biblioteca Nacional
Quem brinca aos tribunais, queima-se.
É como aqueles meninos que brincam com fósforos!!!!!
Toda a cena que levou a sucessivas manifestações de jericos nos Paços do Concelho, além de ter servido para desprestigiar esta edilidade, (e a anterior) e infelizmente uma cidade prisioneira de políticos incapazes e duma sociedade civil acomodatícia, teve hoje o início do seu desfecho judicial no Tribunal Administrativo e Fiscal da bela Cidade onde Eça foi Administrador do Concelho e onde meteu o Cónego em amores pecaminosos à sombra duma Sé onde muitas vezes ouvi missa.
A figura do Administrador era a de um Funcionário nomeado pelo Governo Central para velar pela Ordem Pública (polícias, etc) e zelar para que as edilidades cumprissem as Leis. Imagino como seria José Maria Eça de Queiroz fiscalizando estes executivos que perdem minutas e o tráfico de muares pelas ruas em pleno século XXI.
Que matéria-prima para um magnífico romance!!!!
Escreveu Eça: ''O jornal exerce todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ubiquidade; e é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia."
Hoje certamente diria que em Abrantes esta satânica missão cumpre aos blogues, porque os jornais estão amordaçados. E ter uma imprensa amordaçada é como transformar Belzebu num animal doméstico, um lindo lulu com cornos, da maioria.
Cumpra-se pois o mandato de Eça de Queiroz e espalhe-se a discórdia!
Foi distribuído no Tribunal citado, na levítica Leiria, não o processo de separação litigiosa entre o Rev.Amaro e alguma concubina rural (que era o processo que o dr. Vasco da Gama Fernandes jurava na pastelaria Soraya que adoraria patrocinar), mas este
onde a CMA é
Ré:
261525 | Entrada: 11-06-2013 Distribuição: 11-06-2013 | Autor: CONSTRUÇÕES JORGE FERREIRA & DIAS, Lda. Réu: Município de Abrantes | Unidade Orgânica 1 | 842/13.7BELRA Valor: 6.693.719,68 € | Acção administrativa comum - forma ordinária |
6.693.719,68 € ou seja a parca soma de
É a nossa contribuição para as festas municipais,
abrilhantadas pelos nossos garbosos bombeiros!!!!
Fica pois notificada como representante legal da CMA
a senhora doutora Maria do Céu!!!!!
Nelson Carvalho
Hace 3 horas
O amiguismo rói e corrói o Estado, as instituições,
a acção e as escolhas públicas,
O amiguismo funda uma rede de minifúndios de poder,
de padrinhos e afilhados, que se substitui ao Estado e
o mina e o desvirtua.
O amiguismo progride e tem terreno fértil ...
Ver traducción
Me gusta · · Compartir
A 5 personas les gusta esto.
Ellvira Felicidade Tristão O amiguismo está por todo o lado e
todos se queixam dele, praticando-o e acusando os políticos disto.
Ver traducción
Hace 3 horas · Me gusta · 1
Primo Brasílio - Conselheiro Acácio, rejubiloso fico eu também! Ora quem diria! O grande talento nacional, o nosso ilustre orador, o nosso célebre Conselheiro Acácio!
Conselheiro Acácio - Não me faça V.Exª corar, a mim, um indigno servidor da Nação... Humílimo servo do bem público... Mas eu já sabia que V.Exª estava em Lisboa, li-o nas interessantes notícias do jornal da Politécnica! E então como decorreu a vida, lá pelo Brasil?
Primo Brasílio - Sobrevivi, eis-me viril, saudável, forte...
Conselheiro Acácio - A vida é um bem inestimável. Sobretudo nesta era de grande prosperidade pública! E que diz V.Exª ao progresso nacional e científico depois de tão larga ausência?
Primo Brasílio - Mas porque é que os ingleses não tomam conta disto tudo?
Conselheiro Acácio - Exª! Exª! Estamos numa era de grande prosperidade pública!
Primo Brasílio - Desde que cheguei a Lisboa que a minha oração é esta:Meu Deus, manda-lhe outra vez o terramoto!
Conselheiro Acácio - Exª! Exª! Estamos numa era de grande prosperidade pública!
Primo Brasílio - E não há meio de o terramoto chegar!...
Conselheiro Acácio - Senhor Basílio de Brito, ainda alguém há-de pensar que V.Exª não é patriota, português, ilustre descendente do nosso infinito Viriato! Portugal atravessa uma era de grande prosperidade pública!
Primo Brasílio - Meu Deus, manda-lhe outra vez o terramoto!
(in o Primo Basílio)
Nós dizemos ao humilde servidor do Sr. Barão do Vale Curtido, que era melhor ocupar a reforma a fazer coisas úteis, por exemplo aquários:
1º Passo um : Aqui tem o Sr. Comendador os materiais:
* Galões de 20 litros também podem ser usados, mas serão necessários 20 litros de água.
Concretizando
Foi há 136 anos, no Carnaval de 1871, num baile de máscaras que Eça de Queirós foi apanhado numa trama amorosa! O romancista envolveu-se com uma bela fidalga, da fina roda leiriense, e não tardou que a alta sociedade de Leiria se apercebesse do facto. Tanto quanto se sabe, pensa-se que esta tenha sido a sua primeira relação com uma mulher casada.
região de leiria
Terá sido na noite de 21 de Fevereiro, que o Barão do Salgueiro organizou um baile de Carnaval em sua casa, no Palácio do Terreiro e ao qual Eça compareceu, despudoradamente, vestido de Cupido, com um fato de malha muito justo, com aljavas cheias de setas e com asas de cambraia. Depois de ter dançado uma quadrilha com a baronesa de Salgeiros, ousou perseguí-la para fora dos salões entrando numa das divisões íntimas da residência. O par foi encontrado abraçado pelo cocheiro da casa e Eça acabou a ser lançado, violentamente, para fora de casa, pela escadaria abaixo. Quando chegou a casa, a coxear e com o fato todo esfarrapado disse ao seu amigo Júlio Teles: “Consummatum est – olha sou um Cupido desasado!”.
Sé de Leiria (in Dentro de ti, ò Leiria)
Este episódio ao qual Eça não achou graça, ficou-lhe atravessado nas suas memórias de Leiria, tendo mesmo comentado ironicamente: “O que chocou aquela boa gente do tempo de D. Dinis, não foram os excessos da autoridade administrativa… foi o trajo de tirôles! Se me encontrassem aos abraços à Senhora, vestido de Cónego da Sé, todos teriam achado muita graça!”.
Este acontecimento está retratado na sua obra Os Maias, onde João de Ega aparece desasado devido à grande toza semelhante àquela em que o escritor apanhara em virtude de uns amores adúlteros com a Gouvarinho..''
in abcissa h
http://abcissa_h.blogs.sapo.pt/
Nota: Convém acrescentar que o Cupido era Administrador do Concelho de Leiria (isto é uma espécie de mini-governador civil....) e o Sr.Barão cornudo, para usar palavras do goto do bravo General Bernardes, ou ''cocu'' era o chefe político local José de de Faria Pinho e Vasconcelos Soares de Albergaria, sendo a feliz Madame Bovary, não qualquer Ema, mas a Excelentíssima Senhora Dona Luísa da Silva e Ataíde, da Casa do Terreiro.
Lamentamos que Eça não tenha ido em excursão a Lagarelhos ou ao Souto para ''chercher la galega'' ou ''chercher la campónia'', mas até agora não se descobriram documentos que o provem.
Não se podem queixar eventuais descendentes do Barão, porque não houve filhos deste matrimónio.
Portanto como Eça foi infeliz em Leiria na sua actividade de ''chercher la Athayde'', viria a emigrar para Paris onde se dedicou a ''chercher la Bovary...''
Notas de Marcello de Noronha
João Abel Manta
José Maria de Eça de Queirós continua sempre actual. Se estivesse vivo, aí estaria ao nosso lado assinando a petição contra a barbárie.
Talvez escrevesse um conto ''O Suave Milagre, Maria do Céu destrói Abrantes''.
Mas se a sua prosa está viva, o escritor goza dum merecido descanso em Tormes.
O Dr.Marcello de Noronha resolveu fazer um pastiche da obra-prima do bacharel Queirós. Pegou no Crime do Padre Amaro e resolveu pensar como se poderia adaptar a verve eciana aos novos tempos.
O Miguel Abrantes quando leu o texto, bradou sacrilégio! Ele que é ateu!!!!!
Eu a quem me cabe hoje a organização editorial deste blogue aviso que a última do texto é quase plagiada de Eça.
O Órgão do Cónego
Entrou o escrivão, todo empertigado na sua missão notarial. Vinha a mandos do Cónego buscar o órgão de Sua Excelência Reverendíssima. O Cónego bradara lá do alto do púlpito, que se os homens eram irmãos, as paróquias também o deveriam ser, as rivalidades velhas eram anti-ecuménicas e pouco pastorais, próprias de Jeovás e de Mórmons e não de católicos pós-conciliares, de colores e de ida anual a pé a Fátima no 13 de Maio como dizia no décimo-segundo mandamento. Porque o décimo-primeiro era sustentar o clero e as suas obras pias. Uma devota lembrou a Sua Excelência Reverendíssima que os mandamentos de Moisés eram só dez e o Cónego, sábio e teólogo, replicou, irado, que D.Moisés já não era Arcebispo-Primaz e que portanto os seus mandamentos tinham caducado. A beata fugiu, não fosse o Cónego obrigá-la ali mesmo a testar a favor da Comissão Fabriqueira, enquanto lhe aplicava a Santa Unção. Tenho netos e a minha fazenda é para eles, disse ela à vizinha, que a excomungou dizendo que ademais o Antigo Testamento era coisa de protestantes, obra pornográfica, como se podia ver por Sodoma e Gomorra......
O escrivão enfrentou o olhar marcial do sargento que policiava a Igreja a mandos do Cónego.
-O que é que você quer?
-Venho buscar o órgão do Senhor Cónego.
-O Senhor Prior não deixou cá nenhum órgão. O que está cá é da Igreja e você não o leva,, porque Você não é cá da paróquia, é da concorrência....
-Ouça lá deixe-se de criancices, agora somo todos conciliadores....
O sargento abriu a gaveta e olhou para o que lá estava dentro. Quando a usara nunca ninguém o ousara contradizer, quanto mais um beleguim......
A coisa, uma Walter 7, 65, era uma recordação bélica do seu trabalho em prol da ordem republicana. O Cónego até a abençoara, recusando no entanto a dizer missa por São Walter, como lhe pedira o sargento, dizendo que esse tal Walter devia ser comunista como o Kalasnikov, no dia em que o sargento a empunhara, bravo e decidido, e apontara ao Anacleto e ao Baptista, respectivamente Presidente e Tesoureiro da Junta de São Macário, ex-legionários convertidos ao Bolchevismo pela Dona Fernandinha, a passionária local, que assim lhes garantira que não seriam saneados. Derramara água benta na canhota, o padre agradecido, só seria Cónego muitos anos depois, porque São Walter o livrara duma soberana sova, à conta de defender que a casa da falecida Felismina era da Paróquia e não da Junta.
O gesto marcial aterrorizou o escrivão que debandou, para se ir queixar ao Cónego, que não conseguira reaver o órgão de Sua Excelência Reverendíssima.
Todo o beatério, especialmente o Apostolado da Oração, os Neo-catecumunais, a Juventude Vicentina, a Tertúlia do Espírito Santo (era o ano da pomba, dissera Roma), os Drogados pelo Catolicismo, A Casa de Santa Quitéria e o Bispo Resignatário D. Apolinário Pardal ficaram muito aborrecidos por nesse domingo a Missa Cantada não ter ao seu serviço o órgão do Cónego e o escrivão por mais que agitasse a batuta não conseguia afinar o coro. Sem o órgão do Cónego nem sequer a Fátima, a barítona gorda e desgrenhada da Ameixeira conseguia dar o dó de peito.
Telefonaram para a Sé, ameaçaram levar o caso ao Tribunal eclesiástico, contactaram a jurista da Obra, mas desistiram assarapantadas quando o colega do escritório disse que a Doutora se divorciara, ela que não fazia divórcios porque era pecado, Amem, já não podemos pedir-lhe que nos dê o órgão do Senhor cónego....
O Decano do Cabido disse que era um assunto muito delicado, que devia ser pelo menos resolvido pelo Senhor Bispo, mas o problema era que não havia Bispo, só restava o Administrador Apostólico, que estava na Terra Santa chefiando uma peregrinações de ex-seminaristas e catequistas, onde havia nada mais que três Presidentes, oito vereadores, as respectivas comadres, excepto a Teresa do Céu que o Bispo expulsara da excursão por levar debaixo do braço, a ‘’Relíquia’’ do bacharel José Maria Eça de Queiroz, conhecido ateu e libertino. E Roma ? O Santo Padre está na Austrália bradando contra os padres pedófilos, aqui o Decano benzeu-se, e tentando converter a prima octogenária que é Jeová.....
Já me parecia que este Papa não é boa rês, o Sr. Cónego não tem nenhuma prima nem sequer afilhada dessa ralé. São gente do pior....
O Decano prometeu telefonar ao Cónego, para impedir que a beata continuasse a descompor o Santo Padre e acabasse por ter de lhe dar tratamento de choque. Nessa tarde, depois do chá das 5, estavam todos em amável tertúlia na sede dos Drogados pelos Catolicismo, velho chalé queirosiano que uma beata rica deixara à Fábrica da Igreja.
-É como o TGV-disse D.Josefa-tenho a certeza que foi inspirado pelo Demónio! Não o digo a rir. Mas vejam aquele fogaracho, aquele fragor! Ai arrepia!
O padre Amaro galhofou-assegurando à srª D.:Josefa que era ricamente cómodo para andar depressa! Mas, tornando-se logo sério, acrescentou:
-Em todo o caso é incontestável, que há nessas invenções da ciência moderna muito do Demónio. E é por isso que a nossa Santa Igreja as abençoa, primeiro com orações e depois com água benta. Hão de saber que é o costume. Com água benta para lhes fazer o exorcismo, expulsar o Espírito Inimigo; e com orações para resgatar do pecado original que não só existe no homem, mas nas coisas que ele constrói. É por isso que se benzem e se purificam as locomotivas....Para que o Demónio não se possa servir para seu uso.
D.Maria da Assunção quis imediatamente uma explicação. Como era a maneira usual de o Inimigo se servir do TGV?
O padre Amaro esclareceu-a com bondade. O Inimigo tinha muitas maneiras, mas a habitual era esta: fazia descarrilar um comboio de modo que morressem passageiros e como essas almas não estavam preparadas pela Santa Unção, o Demónio ali mesmo, zás, apoderava-se delas!
-É de velhaco-rosnou o Cónego, com uma admiração secreta por aquela manha tão hábil do inimigo.
Nisto tocou o seu telemóvel. Soou a musiqueta do carrilhão de Fátima, sinal de que era da Sé que falavam. O Cónego, coçou as partes e pôs-se ao aparelho. Depois duma fala demorada, desligou-o e disse radiante: Vamos ter órgão!
A D.Maria da Assunção, feliz e curiosa, perguntou: Então Vossa Excelência Reverendíssima vai voltar a ter órgão. Como é isso?
-Monsenhor Laranjeira, o Decano, vai mandar-nos o Padre Reparaz, um exorcista de fama para fazer com que o Sargento volte à razão. Se os Diabos fogem quando chega este Padre, o Sargento vai ter de me devolver o órgão.
-A D.Josefa, lânguida e espiritual, deu um suspiro de alívio. Ah Felizmente já poderei voltar àquela Igreja e vou aproveitar para mudar a cabeleira da Nossa Senhora das Dores. Então há uns anos o Sargento não lhe pôs uma peruca loura ?
O Padre Amaro benzeu-se e disparou: Que bruto é esse mamarracho. Toda a gente sabe que Maria não pintava o cabelo.....
Enquanto se aguarda a chegada do Senhor Padre Reparaz, agradece-se o contributo involuntário dum pobre homem da Póvoa do Varzim a esta crónica. Era filho do Conselheiro Teixeira de Queiroz e estava casado pela Igreja, o grande hipócrita, com Dona Emília de Resende. Mas do que ele gostava, o sabujo, de era de correr atrás das Lolas com D.Carlos de Bragança e de dizer heresias. Como estas em que difamou o Padre Amaro, pilar da Igreja e apóstolo de Leiria. Mas pior que isso, foi dizer mal do Cónego Dias. Pior que ele, só o sargento. Porque é que não terão também exorcizado Eça de Queiroz?
Autor: Marcello de Noronha
publicado por Edite Fernandes
Na António Botto está uma exposição sobre a vida e obra deste homem
foto Wikipedia
Organizada pelo I.Camões e hospedada pelo Dr. Chico Lopes a quem saudamos pelo bom gosto da iniciativa.
Fazem favor de ir lá visitar o ''pobre homem da Póvoa do Varzim'', o dandy que satirizou o progresso pimba na Cidade e as Serras visto através do monóculo mais cáustico que a Lusitânia produziu.
Mas depois a melhor homenagem é regressar à melhor prosa que alguma vez a língua portuguesa albergou.
Voltar a ler isto:
O ideal era numa edição com as realistas e duras ilustrações de Paula Rego
in http://sonhar1000.blogspot.com/
Paula Rêgo, O Crime do Padre Amaro - O embaixador de Jesus
Ou voltar a ver isto
Rogamos à Juventude Vicentina de Alferrarede que organizem umas visionalizações públicas da série.
O Nicolau, que já está melhor, esteve soberbo....
E o Ruy de Carvalho?
Mas cá eu gostei mais do Cónego Dias, essa velha raposa clerical
E agora, o meu anti-clericalismo leva-me a Mestre Fradique Mendes:
O Comum a Todas as Religiões
''Para a vasta massa humana, em todos os tempos, pagã, budista, cristã, maometana, selvagem ou culta, a Religião terá sempre por fim, na sua essência, a súplica dos favores divinos e o afastamento da cólera divina; e, como instrumentação material para realizar estes objectos, o templo, o padre, o altar, os ofícios, a vestimenta, a imagem. Pergunte a qualquer mediano homem saído da turba, que não seja um filósofo, ou um moralista, ou um místico, o que é Religião. O inglês dirá:—«É ir ao serviço ao domingo, bem vestido, cantar hinos». O hindu dirá:—«É fazer poojah todos os dias e dar o tributo ao Mahadeo». O africano dirá:—«É oferecer ao Mulungu, a sua ração de farinha e óleo». O minhoto dirá: —«É ouvir missa, rezar as contas, jejuar a sexta-feira, comungar pela Páscoa». E todos terão razão, grandemente! Porque o seu objecto, como seres religiosos, está todo em comunicar com Deus, e esses são os meios de comunicação que os seus respectivos estados de civilização e as respectivas liturgias que deles sairam, lhes fornecem. ''
Eça ( texto e foto de http://www.citador.pt (um senhor blogue!!!)
Miguel Abrantes
História
grândola- escavação Igreja São Pedro
montalvo e as ciência do nosso tempo
Instituto de História Social (Holanda)
associação de defesa do património santarém
Fontes de História Militar e Diplomática
Dicionário do Império Português
Fontes de História politica portuguesa
história Religiosa de Portugal
histórias de Portugal em Marrocos
centro de estudos históricos unl
Ilhas
abrantes
abrantes (links antigos)