O Zé Luz dá-nos uma preciosa evocação do dr.Elviro, um literato da velha Punhete, que marcou o ensino liceal e as nossas Letras e que os caciques analfabetos olvidaram......
Mostra a tua língua, 1988, Elviro da Rocha Gomes.
Para um Roteiro literário de Constância
Elviro da Rocha Gomes, ilustre constanciense, poeta, escritor, tradutor e publicista, é reconhecido como responsável pela divulgação no nosso país de poetas de língua alemã. Depois da nossa crónica sobre outro poeta de renome da mesma vila, Tomaz Vieira da Cruz, com honras na enciclopédia britânica, destaque para um outro literato, Elviro, filho e neto das nossas gentes, autor de diferentes géneros literários.
Elviro Augusto da Rocha Gomes nasceu em Constância em 28 de Outubro de1918 e faleceu em Agosto de 2009. Era filho de Isidoro da Silva Gomes (escritor e autor de «Ímpetos Naturais» sobre Constância) e de Georgina Rocha, filha do marítimo João Rocha, a qual terá falecido aos 36 anos de idade, em Macedo de Cavaleiros.
Dedicatória do escritor para o autor da presente crónica, em Setembro de 1989.
O autor licenciou-se em filologia germânica pela Universidade de Coimbra. Foi professor do Liceu em Lisboa, Coimbra, Funchal (para onde foi «desterrado» segundo alguns), Viana do Castelo e Faro (cidade onde se dedicou apenas à literatura).
Poesia, Ilusões, 1988, por Elviro da Rocha Gomes.
Elviro Gomes foi poeta, escritor, tradutor e publicista, tendo sido responsável pela divulgação no nosso país de poetas de língua alemã. Foi Director do Círculo Cultural do Algarve e dinamizador de ciclos de conferências que marcaram a vida cultural da região na primeira metade do século XX. Escreveu para jornais e revistas, realçando-se: “Diário do Norte”, “Aurora do Lima”, “Gazeta do Sul”, “Algarve Ilustrado” e “O Algarve”, entre outros. Segundo o Jornal «Região Sul, que vimos seguindo de perto, Elviro Gomes marcou, «pela sua forma diferente de ensinar, gerações de alunos que passaram pelo Liceu de Faro». Em 1990, foi-lhe mesmo atribuída a Medalha de Mérito, Grau Ouro, pelo Município, «pelos serviços relevantes nas áreas da educação e da cultura». De acordo com o mesmo órgão de imprensa, «Elviro publicou dezenas de obras de poesia, boa parte com ilustrações de capa de Vicente de Brito e de José Maria Oliveira, sempre em edições de autor, que pontualmente oferecia a amigos, com a devida dedicatória".
O literato Elviro da Rocha Gomes
No período de 1953 a 1969 terá beneficiado de uma bolsa de estudos no estrangeiro, através do Instituto de Alta Cultura.
Seguindo de perto a informação biográfico-literária do próprio autor (que procurei actualizar) com quem tive o prazer de trocar correspondência, podemos assim inventariar:
Com efeito, Elviro Gones é autor de vários livros, tendo cultivado os seguintes géneros:
Ensaio - «A alma nos grandes romances de Hermann Stehr, (1943).Albert Scheweizer (1957), O que eles disseram de Portugal, (1960), Vulpes Fabulosa (1960), Astros com luz própria (1961), Goethe (1962), A rosa na poesia (1962), Aves poéticas (1963), Apontamentos de literatura alemã (1966), Dificuldade de pensamento (1968), Impressões sobre poetas (1972), A ilha de Man (1973), Luz e lume na obra de Teixeira Gomes (1980), Hitler (1981), O riso de Fialho d’Almeida (1981), A crítica social na obra de Assis Esperança (1981, Enredando enredos (1982).
Poesia – Deixaste cair uma rosa (1955), Rua Longa (1956), José (1958), O longe e o perto (1960), O sul do meu país (1960), Helen Keller (1961), Entre parêntesis (1961), Bom tom (1963), Desenhos de alma (1964), Aceitar (1965), Sorridente (1968), Com licença (1969), O dia do pai (1969), A bruxa (1973), 25 de Abril (1974). Entender (1987). Ilusão (1988). Tréguas (2000).
Ficção em prosa – Libelinha (1962), Nem sempre (1967), Nel (1971).
Teatro – Crueldade (1959), Leopoldo Salvaterra (1959).
Estudos linguísticos – Glossário sucinto para compreender Emiliano da Costa (1956), Glossário sucinto para compreender Aquilino Ribeiro (s.d.), Como falam os alemães (1974), Mostra a língua (1982).
Traduções – Em Prosa: Educação e ensino nas escolas secundárias alemães (1943), A aranha negra, de Jeremias Gotthelf (s.d.), Um íntimo furor, de Kamala Markandaya (s.d.); em verso_ Ramo de flores exóticas (1959), Poetas que a guerra emudeceu (1964).
Inéditos – Henrique Verde (romance de Gottfried Keller (tradução), O jardim sem estações do ano (contos orientais de Max Dauthendey, (tradução), O candeeiro (Comédia).
No período de 1953 a 1969 terá beneficiado de uma bolsa de estudos no estrangeiro, através do Instituto de Alta Cultura.
Glossário sucinto para uma melhor compreensão de Aquilino Ribeiro, por Elviro da Rocha Gomes, (s.d.).
O meu interesse pela obra de Elviro Gomes surgiu a propósito de uma visita que fiz nos anos 80 (entre muitas) a uma saudosa amiga, Liberdade da Pátria Livre, amiga do autor e por acaso, afilhada da Republicano Bernardino Machado. A Dona Liberdade era uma mulher de esquerda, seguidora de Maria Lamas. Não estranhei a amizade com Elviro, ele próprio considerado como «homem de esquerda» por discípulos seus.
Foto em que surge ao centro e em grande plano, o professor Elviro da Rocha Gomes, retirada do blog de um dos seus filhos.
Da dona Liberdade recebi um poema de Elviro, em homenagem à Mónica Canhoto de Constância, publicado em "O Século", na rubrica "Pim, pam pum'".
Cá vai:
«Octopa, octopa!
Mónica canhoto,
mulher prazenteira,
era já velhinha
mãe trabalhadeira.
Sendo testemunha,
segundo se diz
lá no tribunal
disse-lhe o juiz:
-Em que é que se ocupa
Diga lá, mulher!
E então prontamente
pôs-se a responder:
-Ai, octopa octopa!
Que ofício esquisito!
(lhe diz o juiz)
Deve ser bonito!
Quê? Octopa? Octopa?
Em que é que trabalha?
Vai ela, explicou:
-Ó que topa! Ó calha.»
Elviro Gomes é considerado como um dos vultos incontornáveis da cultura farense. Tal reconhecimento levou à criação em 2019, pela União das Freguesias de Faro (Sé e São Pedro), Concurso Literário da União das Freguesia de Faro – “Elviro da Rocha Gomes”. O objetivo é, cita-se, «incentivar a criatividade e a produção literária em poesia e prosa, contribuindo-se assim para a defesa e enriquecimento da Língua Portuguesa e também para homenagear o poeta, professor e escritor Elviro da Rocha Gomes».
Jaime Gomes, filho do literato, tem procurado recolher e divulgar através do seu blog, a obra do pai. «Muitos são versos cómicos, com uma inocência e candura que espelham a personalidade única do autor, que adorava “entreter”. Mas também há os poemas sentidos, que nos fazem sonhar e os poemas críticos às injustiças do mundo que nos fazem pensar».
Exemplo desses versos cómicos? João Villaret leu na TV o poema «Vou de coche», de Elviro, que repesquei do blog de um seu sobrinho. Mas também há os poemas críticos que não perdem a sua actualidade…
«Os enganadores»
Agora os que nos mentem
e dizem que não mentem
os do conto do vigário,
os de lindas falas que induzem em erro
e os oráculos de Delfos
que eram vozes de pessoas escondidas:
a esses o desprezo.
Digam todos comigo:
Abaixo a exploração da boa fé!»
José Luz (Constância)
PS – não uso o dito AOLP. Na presente crónica procuro apenas compilar dados existentes e disponíveis.
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