O Prof Marcello insurge-se na carta contra a prisão de Adriano Moreira, por ter redigido a queixa-crime contra o Tenente-Coronel Santos Costa pelo homicídio do General José Garcia Marques Godinho.
Marcello considera o teor jurídico da queixa escrita por Moreira como ''parvo'' mas diz ''(...)Que segurança temos nós, os que andamos nos caminhos da vida pública, se podemos ser demitidos sem defesa prévia, ver destruídos os nossos contratos por discordância de opinião de um governante e ser detidos ou antes presos por nos queixarmos à polícia (...)?'' 8-4-1948
Pela mesma época, Caetano escreve a Salazar indignado com a expulsão dum catedrático da função pública e em 1949 defende um seu ex-aluno de Direito, militar, sacerdote protestante, contra a ameaça de Santos Costa o deportar para Cabo Verde ou pior....por ser protestante....
A carta foi publicada por José Freire Antunes, ''Salazar e Caetano, Cartas Secretas 1932-1968'', Lisboa, 1994
O tenente-coronel Santos Costa com a típica parafernália da besta fascista. A foto do Botas e o crucifixo.
Arrumando o arquivo imagem RTP ''Antes da Pide''
''O falecido general Marques Godinho, comandante-em-chefe- do movimento, estava de relações cortadas com o seu colega Ramires, mas aceitou o concurso deste, condicionando-o, porém, a que uma vez vencedora a Revolução, ele fosse a Conselho de Guerra para prestar contas da sua actuação nos Açores ''para que não se diga que nós protegemos bandalhos. Os serviços que preste à Revolução servir-lhe-ão apenas de atenuante''
Coronel Fernando Queiroga, Portugal Oprimido (Factos e Nomes da Ditadura Salazarista)
Já assim dividida a cúpula militar da Abrilada de 1947, como queria vencer?
Queiroga alega que Carlos Ramires pediu mais de mil contos para participar na Revolução (a pagar se a coisa corresse mal), não andava mal acompanhado, Francisco Franco também exigiu um pagamento adiantado de 20 anos de salários, a depositar numa conta de Londres, em nome da mulher, que lhe foi feito por Juan March.
''Se perco, fuzilam-me. Se ganho, toca-me a mim fuzilar os vencidos. Devo cuidar da viúva e da minha filha''.
Salvaguardados os brandos costumes lusitanos, seria o que pensava Carlos Ramires, segundo Queiroga.
O livro de Fernando Queiroga traz amplos pormenores sobre um golpe, cujo epicentro foi a Região-Militar de Tomar e onde foram protagonistas muitas figuras militares da região.
Relata a afrontosa morte do General Marques Godinho, a prisão dos filhos e da viúva D. Palmira Godinho e culpa Salazar e Santos Costa.
Carlos Ramires não foi preso, alegadamente porque tinha cartas comprometedoras de Santos Costa, que manifestavam simpatias nazis, e tê-las ia entregue em troca da Liberdade.
O chefe civil, dr. João Soares tinha sido o capelão do Quartel abrantino de Caçadores, onde conhecera o tenente Godinho.
mn
A edição brasileira é da Germinal, uma editora anarquista do Rio, muito ligada ao exílio português. A 1ª edição lusa é de ''O Século'' (1974) e leva uma nota introdutória de Vasco da Gama Fernandes
Fico a saber que o General Marques Godinho organizou um golpe de estado, a Abrilada de 1947, apenas porque antipatizava com o alegado ''corrupto'' de Alcachafe.(1)
Como bibliografia, o Serrão, cita, equânime, umas memórias auto-justificativas do homem que nunca deu um tiro, ou seja do Santos Costa, que como o Óscar ( Carmona) tinha alergia às batalhas.
Bastava-lhe ter consultado os arquivos da UN de Santarém, o distrito dele, para verificar que as denúncias contra o Major Marques Godinho, por conspirador reviralhista eram velhas.
E se fosse às fontes secundárias, por exemplo as memórias de Gonçalo Pimenta de Castro, já aqui citadas, veria que já o identificava como democrático nos anos 30
Mas não para o Veríssimo, o Godinho chateou-se com o Santos Costa e por isso insubordinou a Região Militar de Tomar e preparou uma bernarda.
Só faltou dizer que foi a Fátima fazer uma promessa à Virgem ( desesperado com as exigências do Ramires do Tramagal, que só se revoltava se lhe pagassem umas massas) antes de se ''pronunciar'', em vez de invocar o Deus dos homens livres, o Supremo Arquitecto.
Mau dia para recordar isto?
ma
(1)ver as alegações na colecção de panfletos militares da Fundação Mário Soares
quando se recorda a data da morte de Delgado, convém recordar a impunidade de Santos Costa, acusado de homícidio na pessoa do General Marques Godinho, por D. Palmira Godinho.
Manifesto de militares anti-salazaristas, 7 de Maio de 1948
O capitão Godinho no front da Flandres, o Santos Costa nunca entrou em campanha.
ma
As memórias do coronel Gonçalo Pimenta de Castro, são uma fonte essencial para a história político-militar lusa e abrantina.
Um dia nas suas funções de inspeção do Exército mandou prender o Comandante do Quartel de Infantaria de Abrantes, coronel João Gordo e depois demitiu-o.....
O escândalo foi monumental.
No entanto, o coronel Pimenta de Castro não deixa de elogiar, pelas suas qualidades militares, oficiais abrantinos que estavam nas antípodas da sua opinião política (era monárquico) e naturalmente incompatibilizados com o Coronel Gordo, pela sua falta de aprumo militar.
Marques Godinho tinha sido colega na 1ª Guerra Mundial do então Major João Gordo, que era de Castelo de Vide.
mn
Sabemos muito pouco sobre a história da Oposição à ditadura em Abrantes. Boa parte do que se foi publicando, saiu neste blogue. Mesmo o que a Zahara publicou sobre o General Marques Godinho, foi em parte daqui retirado.
Aquilo que se publicou no blogue refere-se sobretudo à história da Oposição da campanha do General Delgado para cá (1958) e anda associado a nomes como o dr. Vergílio Godinho, dr.Orlando Pereira, dr.Correia Semedo, dr.José Vasco,
arq. Duarte Castel-Branco, drª Maria Fernanda Corte Real e Silva (que provavelmente teve mais importância entre 1960-1974 que muitos dos citados) e que com o marido passara já pelos cárceres da ditadura, e que com Mário Soares e Salgado Zenha estivera na direcção nacional do MUD Juvenil.
Além disso fora clandestina nas redes do PCP.
Estas ligações propiciaram a que Salgado Zenha convidara o dr. Orlando Pereira para fundar o PS de Abrantes, em 1974, que ele recusou, por manter uma ligação ao PCP.
A história da Oposição nos anos 30 e 40 estava (e está por fazer) embora aqui se tenham evocado alguns nomes, como Fernando Farinha Pereira.
Saiu agora, da autoria da Drª Manuela Poitout, ''Raul Wheelhouse, médico, oposicionista e maçom - reviralho e maçonaria no Alto Ribatejo, ''publicado na revista Nova Augusta, nº29, que é um contributo muito importante para o estudo do ''reviralho'' na nossa zona e não só.
A autora, de créditos firmados na investigação regional, estuda o papel do prestigiado médico da Santa Casa sardoalense, na montagem (ou relançamento porque a informação que temos é que já havia outras redes maçónicas em Abrantes, a que esteve ligado por exemplo Diogo Oleiro) do Grande Oriente na região.
E o nome ao lado do médico que surge é o de Fernando Farinha Pereira
A partir do triângulo 331 do Entroncamento, Farinha Pereira vai ficar responsável por montar a maçonaria em Abrantes.
No triângulo do Entroncamento vai filiar-se também o Alferes Lobato Falcão, já aqui referido.
As actividades maçónicas são em parte a cobertura para se montar uma rede conspirativa, dirigida entre outros pelo dr.João Soares e por militares. Pretendia-se criar um levantamento militar nacional contra a Ditadura.
Cria-se uma rede civil, particularmente activa no Rossio ao Sul do Tejo, inclusive com reuniões no Tramagal, em casa do médico da MDF, Correia da Fonseca, e ainda na do ex-deputado democrático dr. João Damas (Poitou,45)
Que no entanto na época estava já ligado ao grupo estado-novista do dr.Manuel Fernandes e em ampla discórdia com o cacique Henrique Augusto da Silva Martins.
Segundo a autora citada, o homem fundamental na conspiração na zona foi o guarda-livros da Casa Serrano, Manuel Jacinto, natural da Chamusca...., residente na Rua Avellar Machado, no Rossio....,
que terminaria deportado para os Açores (como o médico) e e só foi libertado em 1939.
Sete anos de presídio em Angra do Heroísmo.
Na conspiração estava previsto que o major José Garcia Marques Godinho liderasse o golpe em Infantaria, aboletada em São Domingos. (Poitout,47)
Boa parte das actividades do Jacinto, passaram-se no Rossio . E aí é ainda apontado o nome do dirigente comunista Manuel Alpedrinha, um dos poucos comunistas com filiação maçónica, na mesma loja lisboeta, a Rebeldia que Wheelhouse.
A autora refere ainda a posterior carreira do médico na tentativa de refundação do socialismo português.
Um dos primeiros autores a referenciá-lo foi o Doutor Jorge Santos Carvalho, in
''As Relações Jugoslavo-portuguesas (1941-1974)''. , Coimbra, 2012.
Só por curiosidade uma carta de António Sérgio em polémica com Wheelhouse
sobre a refundação do socialismo democrático português (1)
Portanto um estudo pioneiro e fundamental, o da drª Manuela Poitout para a História da Resistência ao fascismo na região.
A ler sem falta.
Aqui só se respigou o referente a Abrantes e muito resumidamente.
mn
(1) Arquivo António Sérgio
Foto do anti-fascista Manuel Jacinto, Torre do Tombo
Tarde e a más horas agradece-se a
esta simpática menção
Temos agradecimentos atrasados ....as nossas desculpas
mn
''(...)FPS- Sim.. vem na sequência de outras actividades. Em primeiro lugar, nós estivemos relacionados directamente com algumas actividades conspirativas, por exemplo, Teófilo Carvalho dos Santos, José Magalhães Godinho que eram da Resistência Republicana, o Barradas de Carvalho que foi sempre do Partido Comunista, em ligações com o general Godinho. Foi o Barradas de Carvalho que trouxe o general Godinho para a conspiração. Tivemos uma actividade com, relacionada com o brigadeiro Miguel dos Santos, aliás num livro que o José Magalhães Godinho vai publicar, vai ser lançado na segunda-feira, vem isso tudo referido, e depois constituímos à volta do Azevedo Gomes e do Jaime Cortesão e António Sérgio, mas sobretudo Jaime Cortesão e Azevedo Gomes constituímos o grupo que fez o Programa para a Democratização da República que se destinava a comemorar, (....)''
Quando Piteira foi preso pela PIDE pela época do Golpe Godinho, foi-lhe apreendido
D.L. Raby in Fascism and Resistance in Portugal: Communists, Liberals and Military Dissidents.in the Opposition to Salazar 1945-1974, Manchester University Press, Nova Yorque, 1988, p. 97
mn
devida vénia à Anti-Fascistas da Resistência para a foto de Piteira e às outras fontes citadas
Em 26-9-68 a Rádio Voz da Liberdade dedicava a Marcelo Caetano....e a Adriano Moreira estas considerações sobre a morte de Marques Godinho
a transcrição da emissão é da PIDE-DGS e encontra-se no processo político de Miguel Urbano Rodrigues.
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