Em 1933, o chefe de oficinas do ''Jornal de Abrantes'', afecto ao grupo político do dr. Manuel Fernandes, Bernardo Luís de Albuquerque vai preso.
Qual fora o crime?
Escrever à margem dum exemplar do ''Correio de Abrantes''
Abaixo os malandros!
Abaixo os gatunos!
O Tribunal entendeu que era um ataque à Ditadura!
Mas o leitor abrantino sabia que o Albuquerque chamava ''malandros e gatunos'' à seita de Henrique Augusto Silva Martins, Martins de Carvalho, do fidalgote de Alvega, ''conde Caldeira de Mendanha''', ao fascista do Rossio, Valente, e ao resto da tropa.
Apanhou 3 meses de cadeia remíveis a grossa soma
e o escárnio público de ser insultado em escandalosa parangona no ''Diário da Manhã'', orgão do fascismo
nota oficiosa do Administrador do Concelho, Costa Andrade.
Mudou o poder desde então?
Vejo processos crimes em autarquias (em Abrantes também, como o que foi movido contra Joaquim Ribeiro) contra críticos, que são deste género.
Tentar intimidar, como dizia o Diário da Manhã, quem é crítico.
Tinha razão o nobre Albuquerque (este sim era de fidalga ascendência, apesar de ser tipógrafo) contra os ''malandros'' ?
Tinha. Ponto Final
ma
Segundo as declarações de Maria do Céu Albuquerque, na sessão da CMA, de 3/4/2018, reportadas pela jornalista Paula Mourato, a cacique disse isto:
Estas declarações foram objecto de comentário aqui.
Estas declarações não constam da acta.
Já se informou então quem foram os privados que venderam os terrenos à Iniciativas, faltava apurar em que condições parte dum terreno que o Estado cedeu à autarquia, chegou às mãos da Iniciativas.
A área total do terreno onde está implantado o Teatro tem 775,36 m2 e foi adquirida pela Iniciativas à CMA a parca área de 119 m2 pela quantia de 14.365 escudos, o resto do terreno (antiga Igreja de S.Pedro, em má hora abatida pelo camartelo público) dado à Câmara pelo Estado,ficou nas mãos da autarquia.
A escritura foi celebrada em 30 de Janeiro de 1947.
A avaliação do terreno foi feita por uma comissão mista, com um perito nomeado pelo Tribunal , outro pela autarquia e outro pelas Iniciativas (ou seja uma comissão com maioria de representantes do sector público).
Nada a ver com negociatas feitas recentemente em que se venderam umas piscinas avaliadas em 800.000 euros....por 6.000€ e se entregou metade dum jardim público a privados a preço da chuva.
Portanto se circulavam rumores sobre este negócio, grande parte deste ruído saiu das declarações sem fundamento feitas pela cacique a 3 de Abril.
Estes rumores são tão velhos como a história do Teatro, por volta de 1947, numa carta dirigida aos bosses da União Nacional, Henrique da Silva Martins acusava a CMA de ter entregue os terrenos do S.Pedro à borla... à Iniciativas.
O homem tinha sido deposto do cargo de Presidente da CMA por corrupção, prisões ilegais etc.
E passara toda a sua vida pública a tentar impedir a construção do Teatro, do Hotel Turismo, etc....
mn
Em 1934, uma queixa enviada à tutela e ao Prof. Oliveira Salazar arrasava a gestão municipal de Henrique Augusto da Silva Martins/ França Machado e do seu grupo, que comandava todas as rédeas do poder abrantino, incluindo a Santa Casa donde tinham sido saneados Solano de Abreu e Manuel Fernandes.
A queixa acusa os visados de corrupção, abuso de poder, prisões ilegais, abusos sexuais ( praticados alegadamente pelo Administrador do Concelho, um fidalgote de Alvega), ilegalidades múltiplas, etc.
O principal visado é França Machado, mas o Provedor da Santa Casa, Dr.Henrique Martins de Carvalho não escapa.
Inclusive é posta em causa a sua probidade como Notário.
O poder salazarista demorou a digerir a coisa e só uma inspecção desencadeada pelo Ministério do Interior, realizada por militares, em particular pelo tenente-coronel Castel-Branco, levou à dissolução compulsiva da autarquia e à entrega da gestão a militares, chefiados pelo capitão Machado. (1945)
Trataremos disto com vagar, mas desde já a lista dos abrantinos que subscreveram a queixa:
D.Luiz Cândido do Amaral Cardoso
Dr.Raimundo Soares Mendes
Dr.Guilherme Henrique Moura Neves (Médico e Lavrador, ex-Provedor da Santa Casa;
Dr.António Correia de Campos (Médico militar, genro de Ramiro Guedes)
Ramiro Guedes de Campos (Eng e Licenciado em letras, poeta, Professor universitário (IST), futuro chefe de Gabinete de Duarte Pacheco, )
Dr.António Campos Melo, Advogado
Armando Ferreira Matafome,Lavrador
José dos Santos Ruivo
João Pimenta de Almeida Beja
Dr.José Serra da Mota (Advogado)
Dr.Alfredo Pimenta de Almeida Beja (Veterinário)
Dr.Armando Moura Neves, Advogado e Lavrador
José Rosa de Sousa Falcão, Lavrador e Industrial
António Ferreira, Industrial
D.Luiz do Amaral Cardoso
António Serrão Burguete
Manuel Serra da Mota Ferraz, farmacêutico
José Joaquim Bairrão de Oliveira
Joaquim Rosado Rico, comerciante e industrial
Eduardo Dias da Silva
Manuel José Coelho
José Moura Neves, Lavrador
Jaime Pintasilgo, Comerciante
António Augusto Salgueiro, o mais antigo jornalista e comerciante da cidade
Joaquim Cipriano dos Santos
Joaquim Maria de Almeida Beja.
Foram eles que começaram a limpar Abrantes em 1934.
Devia haver uma lápide com estes nomes, à beira do monumento a Manuel Fernandes
Foram eles que o levaram onde chegou, ajudando a limpar a cidade duma gestão corrupta.
mn
O comunicado denuncia a fraude eleitoral deste homem
cometida em 1921, nas Mouriscas, onde 480 eleitores ''votaram'' neste caudilho
integralista (Henrique Augusto Silva Martins) e depois um assalto à CMA feito pelo futuro fascista Valente para fazer desaparecer documentos
O Manuel Lopes Valente Júnior era democrático mas tecera uma aliança com os integralistas
mn
créditos ; dr.João Nuno Alçada (comunicado) , para as datas :Cronologia do Eduardo Campos; foto do integralista :dr.Rui Lopes
O Major Ramiro Antunes Farinha Pereira não gostava de políticos. Dizia sempre: ''só mudam as moscas, mas a merda é sempre a mesma''
Também não gostava do Presidente da Câmara e naturalmente sovou-o quando este saía da Casa Portugal, que era debaixo da Casa do Major.
A vítima foi esta:
Porra, tinha-lhe mandado prender o irmão.
Assim sendo .....quando os políticos montaram um chavascal na Raimundo Soares...todas as casas estavam engalanadas, menos a dele.
Que era o nº 17 da Raimundo Soares.
Quanto ao processo pela sova no cacique, jaz nos arquivos.
mn
Como consequência da implantação da República deixou de haver Rainhas e passou a haver primeiras-damas......
Esta é uma primeira-dama democrática, mas houve disto no fascismo, caso da Veneranda Senhora Dona Gertrudes Thomaz
também houve pessoas que ficaram chateadas com a bernarda, caso de Henrique Augusto da Silva Martins, que se tornou assinante do ''Thalassa'', onde se falava de Abrantes e do pintor de Constância, José Campas
e onde Henrique Augusto, foi solidário com um preso político,
com ele, outros abrantinos, era 1913
mn
créditos: Augusto Cid, O Thalassa
A figura deste militar que participou no CEP e na batalha de La Lys, já apareceu uma ou duas vezes no blogue. Mas faltam nas publicações abrantinas retratos biográficos sobre personalidades que foram de alguma forma marcantes na época em que viveram. As informações ou estão dispersas pela imprensa (o mais das vezes em notícias de falecimentos) ou não existem. Pouco a pouco vai-se tentar colmatar essa falta.Publicarei ainda outra nota acerca da morte do capitão Serras Pereira, que foi adiante-se membro da facção de Henrique Augusto da Silva Martins (as coisas são para dizer). Agora apreciem a boa prosa do meu falecido amigo João Nuno.
mn
Há muita gente a sustentar que a Liberdade de Imprensa durante o fascismo foi nula.
É falso, o rigor da censura foi variável, e nos anos 30 ainda era relativamente leve, de forma que um Advogado, o dr. Borges do Pinho ainda pôde editar as peças processuais dum litígio sobre paternidade ilegítima,que envolveu o Presidente da Câmara abrantina, o fascista e industrial de moagem
Henrique Augusto da Silva Martins
O Advogado foi suficientemente sarcástico para intitular a peça '' A cada um o que é seu''
Havia na época o bom costume, que se prolongou até aos anos 70, mas cada vez menos com menor frequência, dos Advogados editarem as suas peças processuais.
De forma que o cacique teve de aguentar com isto.
Espero mais menos dia espetar aqui a sentença, que nos dirá de quem era a paternidade.
Estou a ver quem seria agora ou há dez anos atrás quem seria o Advogado que teria a coragem de editar um processo de investigação de paternidade a um cacique.
Houve disso nos últimos 50 anos?
Ainda não investigámos
ma
ainda encontrei o processo quando andava à procura dum artigo do Candeias Silva e e encontrei mais um montão de coisas interessantes, incluindo as fotos da homenagem ao Candeias....
foto do blogue do dr.Rui Lopes, com a devida vénia
Publico aqui o que certamente foi o mais importante artigo de História abrantina, surgido nos últimos 30 anos.
É da autoria do dr. Joao Nuno Serras Pereira,velho e prezado amigo, já falecido, político abrantino a quem devo e devemos muito.
Foi publicado no boletim clerical Nova Aliança em 15-9-94, e é uma defesa acérrima da gestão de Henrique Augusto da Silva Martins e do seu vice-presidente França Machado (avô por exemplo do falecido militar de aviação Rui Burguete, grande abrantino) contra os que os derrubaram, a facção do Dr.Manuel Fernandes.
Pelos vistos o dr. Serras Pereira nunca leu o inquérito. Também é verdade que nunca terá sido foi publicado mas estava em certa casa.
E também é certo que, devido à influência política que teve, que o dr.Serras Pereira poderia ter tido acesso a ele.
O Eduardo Campos diz que por exemplo, citando o ''Jornal de Abrantes'', que se apurou que os camarários ''exigiam importâncias para a recuperação da liberdade ou para evitar ser preso''.
Isso foi a 1 de Novembro de 1944. A 6 de Novembro era dissolvida a Polícia Municipal.
Em 1 de Maio de 1945 é dissolvida a vereação.
Para mim a novidade no texto (que reencontrei arrumando papéis) é que os inquiridores teriam sido o Tenente Coronel João de Villas-Boas Castel-Branco e o Major Dias Leite. O primeiro é o pai de Duarte Castel-Branco, o segundo foi comandante de Tancos e foi um ás da aviação.
O Eduardo Campos confirma que no inquérito esteve o Dias Leite, mas não fala do nobre fidalgo da Figueira da Foz, ou seja do Tenente Coronel João de Villas-Boas Castel-Branco, e adianta outro nome capitão Joaquim Borrego.
O Borrego está aqui, mas ainda era um puto. Era escuteiro, em 1915 no Olival Basto.
Se o querem mais velho, aqui está:
o Capitão Borrego já deve ter falecido, a foto é de 1984.
Quem tem razão?
Só o acesso ao documento original é que pode dar pistas.
O dr. Serras Pereira levanta a suspeita da sua parcialidade. Não acredito em coisas políticas na imparcialidade de ninguém. Também sei que a CMA foi dissolvida, porque caiu primeiro o Governador Civil de Santarém Dr.Eugénio Mascarenhas Viana de Lemos que foi substituído pelo então major,depois brigadeiro Lino Valente. Caiu o Lemos mas só um poucochinho, porque em 1947 já era Governador Civil de Coimbra.
O Dias Leite era um fanático de Santos Costa e depois da morte do General Godinho, fez um discurso de canonização do Costa, em Tancos, que o Jornal de Abrantes transcreveu na primeira página, garantindo ao Mundo Civilizado que o algoz de Palmira Godinho, nunca tinha sido nazi.
Admito que entre a assistência estivesse outro abrantino, o General Mesquitella, a bater palmas.....
O meu amigo João Nuno diz depois que nesta época subiram os militares ao poder em Abrantes, e refere dois nomes que são henriquistas: o capitão Júlio Serras Pereira, que ficou a defender os interesses da sua facção na Santa Casa e o capitão integralista Costa Andrade que fica no Grémio. Estes porém perdem poder e são dos derrotados. Mas em 1948 o Júlio já é Vice-Presidente da CMA. E o Andrade será Vice-Presidente em 1961. Mas já tinha sido Administrador do Concelho em 1932, quando a situação henriquista se afiança.
Uma das peças da sua estratégia foi pedir a proibição do Jornal de Abrantes, como órgão subversivo, por ser favorável a Manuel Fernandes. (1)
Tanto como eu sei e o dr.João Nuno sabia ,foi um Homem às direitas. Embora
Com um curioso feitio. A coisa que mais o irritava era que D.Duarte Nuno falasse com um terrível sotaque alemão, e dizia gastou tanto dinheiro o Pequito (2) a educá-lo e não há maneira.
Haveria que meter aqui mais fotos e fazer mais considerações. No estado da questão não sei se o pai do Duarte Castel-Branco foi dos militares que realizou o inquérito.
Só remexendo papéis é que o posso encontrar e naturalmente, como diria Vitorino Magalhães Godinho, indo às fontes primárias.
Espero que elas já estejam desclassificadas. Senão haverá que usar outros meios.
Isto é um esboço duma análise do assunto, a jeito de crónica. Suponho que dará pano para mangas. E que haverá coisas impublicáveis. Nós não somos como a sábia Isilda Jana que garantiu que Monsieur Dupin era um alcoólico incorrigível, só porque tem uma fotocópia dum documento não assinado, escrito alegadamente por um tipo que era um notório pílulas.
ma
créditos: Eduardo Campos, Cronologia de Abrantes no Século XX
Joaquim Borrego: Escuteiros de Olival Basto
Dr.Lemos: My Heritage
Dias Leite: Ilustração Portuguesa
General Mesquitella: Wikipedia
Capitão Andrade: Assembleia da República
Dr. Serras Pereira: Assembleia da República
(1) artigo de Eduardo Campos cujo recorte anda por algum sítio
(2) o importante dirigente integralista José Pequito Rebelo
História
grândola- escavação Igreja São Pedro
montalvo e as ciência do nosso tempo
Instituto de História Social (Holanda)
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