Os versos do Sadi-Azor, sairam em 12-6-1927, já em pleno fascismo, no jornal republicano cá da terra, ''Baluarte''.
O Sadi-Azor era Justo da Paixão, comerciante e proprietário rural no Rossio, político local, republicano histórico, então militante do Partido Democrático (PRP) e director da folha, claramente enfrentada à Ditadura Militar e que terminaria proibida.
Ou seja considerava Marques Godinho como um homem afecto ao Partido do Afonso Costa, apesar de ser um militar no activo. Como toda a gente sabia na cidade e nos meios militares e como está publicado em livros da época.
Quando Santos Costa o convidou para Governador Militar dos Açores, o brigadeiro Godinho estranhou, porque era público que era desafecto ao regime. E o tenente-coronel S.Costa, Subsecretário da Guerra (o Ministro era Salazar) apelou ao seu patriotismo, em tempo de Guerra Mundial, para desempenhar uma missão de ''interesse nacional.''
ma
Os vencedores da jornada do 5 de Outubro em pose vitoriosa. O povo que se bateu em Lisboa contra os soldados de Paiva Couceiro com a galhardia que os portugueses costumam mostrar quando se batem pelo que acreditam, não está cá.
Estão cá os drs do PRP e os influentes eleitorais da Província. Incluídos os abrantinos. A maior parte deles homens de honra que em breve estará nas filas da oposição contra Afonso Costa.
Agora o agradecimento ao grande jornalista responsável por um dos melhores semanários lusos de todos os tempos, ''A Vida Mundial'' , Carlos Ferrão . Este número da V.M. de 2-10-70, onde saiu esta gravura, aquando do 60º aniversário da República, todo dedicado ao 5 de Outubro, ainda é hoje das melhores coisas sobre o evento. Era ele o director e a alma desta grande revista.
E o melhor para uma crónica abrantina, quais são os de cá que aparecem neste quadro de honra do PRP, que era também um mapa das relações de poder existentes no novo Portugal? Veremos a identificação, mas os rostos quase não são reconhecíveis, estão quase ignotos , sinal de que o P.R.P. de Abrantes pesava pouco em Lisboa.
Sinal de que o bonito conto que nos querem vender do peso de Abrantes no movimento republicano foi escasso.
Quais são os abrantinos? Identificamos Ramiro Guedes, Manuel João da Rosa, António Farinha Pereira e Justo Rosa da Paixão.
Mais nenhum.
Se o leitor descobrir mais algum agradecemos que nos diga.
mn
A 8 de Setembro de 1911, o Justo, a que os jornais chamavam o ''oriundo das infusas'' ( cognome posto pelo Valente da Pera) manda prender a Nossa Senhora da Conceição, padroeira da terra dele, o Rocio, que era esta e mais todos os santinhos.
acolitaram a prisão sem culpa formada da Virgem, o Presidente da Junta de Paróquia, Joaquim Rodrigues Sequeira e Alberto Nunes do Couto, secretário.
Os santos apreendidos constam desta lista
Hoje a Virgem sai em procissão (pensamos que é a mesma imagem) para comemorar os 190 anos da Igreja de que é padroeira.
Moral da História: Quem se mete com Roma, leva.
mn
Tudo se resumiu ao Padre Raposo?
Vivia-se em 1914 em paz religiosa nesta terra?
Isso perguntava o Governador Civil.....numa orientação que vinha de Lisboa, que mandava inquirir em todos os concelhos....
O chefe local da política democrática ,Justo Rosa da Paixão, respondia
Ou seja as freguesias mais renitentes em abandonar as práticas católicas eram o Pego e Alvega.
Sabemos que na Aldeia do Mato parece não ter havido problemas (ver blogue do amigo Maça, com as respostas do padre , a inquérito do Bispo).
E a freguesia onde o anti-clericalismo tinha maior base social de apoio era o Rossio.
Esta é a versão dum cacique democrático, porque a versão católica era outra, o povo armado com chuços tinha no Pego posto em debandada os amigos do Justo, e obrigara a fazer a procissão.
Houve expulsões de padres? Anseia-se pelo regresso da fradalhada ?, perguntavam.....
Dizia que não, o Justo, isento de paixão jacobina, isto é terra liberal, e no raio das freguesias em que o beatério queria missas, lá estou eu para dar a autorizaçãozinha.....
Diminuiu a prática religiosa, graças à acção benfazeja da República?
Dizia que sim....
E os padres aceitavam as pensões?
Mas o clero reaccionário e o Padre Raposo tramavam alguma....
De mais de catorze, só quatro tinham aceitado....
Isto é, os padres recusavam ser assalariados do sr. dr. Afonso Costa e permaneciam fiéis ao Bispo, que era D.António Moutinho....
O Justo diz que havia quatro padres pensionistas e que estes eram mal vistos pelos colegas e que um deles tinha sido substituído numa freguesia (Mouriscas) por um colega fiel à ortodoxia.
Quais eram os que traíram Roma?
Em 11-7-1911, foi concedida uma pensão provisória ao padre colado do Tramagal, Manuel Brás da Rosa , ao colado de S.Miguel, José Martins da Conceição, e ainda ao padre encomendado de lá, Luís de Andrade Sequeira.
Mas o principal padre pensionista foi Henrique Neves, que protagonizou um cisma nas Mouriscas.
Também foram dadas pensões aos empregados da Igreja que eram os sacristães: S.Vicente-António Rego da Silva; S.João-Manuel Vicente Valente, do Rossio, Pascoal Francisco das Chagas, de S.Facundo, Bernardo Ricardo da Natividade, de S.Miguel, José da Oliveira Costa, do Tramagal, Pedro Alves de Jesus Lobato, de Rio de Moinhos, Francisco Esteves Machado e das Mouriscas, António Marques Fernandes.
Finalmente ia o povo aceitar as administrações das Igrejas dominadas pelo partido democrático (as célebres cultuais), perguntavam?
O Justo achava que sim. Mas contra ele tramava Guilherme Henrique Moura Neves, o chefe local do partido católico....
Por volta de 1916 a única Igreja aberta era a da Santa Casa e os católicos que iam à missa eram enxovalhados pela populaça, testemunho de D.Maria Luísa Almada Albuquerque Moura Neves....
mn
sobre o assunto : Humorista Justo da Paixão aplica Lei da Separação no Pego
Em nome da Liberdade Religiosa
Padre do Rocio de Abrantes resiste ao saque republicano
Salazar e as oliveiras da Paróquia de Rio de Moinhos
Fonte: arquivo António Farinha Pereira; Arquivo dum sacerdote abrantino; Arquivos públicos
a situação no Sardoal: ver o blogue Sardoal com Memória
etc
Era 15 de Janeiro 1923. O deputado monárquico Artur Virgínio de Brito Carvalho da Silva increpa o Governo:
(...)Aproveito ainda, Sr. Presidente, a ocasião para protestar contra os factos que se passaram em Abrantes e Oliveira de Azeméis a quando da posse das câmaras municipais, em que teve de intervir a fôrça pública para impedir que os eleitos do povo tomassem conta dos seus lugares.(...)
Que se passara???
Segundo o Eduardo Campos (1): Justo Rosa da Paixão
que fora Presidente anterior da Câmara e era um dos homens do Partido Democrático, é eleito presidente da Assembleia Deliberativa mas recusa-se a dar posse à Vereação com o pretexto de questões sub judice acerca da inelegibilidade dalguns dos candidatos.
O Administrador do Concelho manda 12 GNRs evacuar a sala, face aos protestos dos eleitos da Oposição Monárquica, dos radicais da extrema-direita do Integralismo Lusitano, cujo chefe político era....
Henrique Augusto da Silva Martins.....
Tudo cheira a golpada do delegado dos democráticos, Justo da Paixão.
As eleições tinham sido ganhas pelos democráticos, sendo António Farinha Pereira o mais votado. Além dos candidatos do PRP, houve candidatos liberais e integralistas (dr.David Serras Pereira,França Machado, João Henrique Alves Ferreira e Henrique Augusto Silva Martins.)
Mas havia acusações de fraude eleitoral nas Mouriscas, alegadamente praticada pelos integralistas e este homem assaltara a Câmara, para roubar documentação entregue pelos integralistas.
Pelo qual o Senado da Câmara o declara impossibilitado de ser Vereador. Trata-se do célebre Valente da Pera, que ainda seria militante do PS abrantino, já muito velhinho, depois do 25 de Abril.
Era face a esta confusão, que António Maria da Silva
Presidente do Conselho, é interrogado e promete '' Sr. Presidente: pedi a palavra para declarar que ouvi com atenção as considerações feitas pelo Sr. Carvalho da Silva, relativamente à posse de algumas Câmaras Municipais, e devo dizer que o Governo vai apurar o que há de verdade a tal respeito, pedindo depois as responsabilidades a quem de direito e nos termos legais.''.
A 22 de Janeiro a crise parece sanada, António Farinha Pereira é eleito Presidente, mas toda a política da época vai ser atribulada, com tiros e agressões inclusive.
Os nomes da Oposição integralista são os nomes do futuro. Excepto David Serras Pereira que morre cedo, os outros irão governar Abrantes nos anos 30 e durante metade da década de quarenta.
Ainda não encontrámos o apuramento de responsabilidades prometido por António Maria da Silva.
mn
(1) Seguimos a Cronologia do Eduardo Campos para o ano 22 e 23. É o único estudo decente que há sobre a época. O resto não é grande coisa. A Cronologia do Eduardo Campos (Cronologia de Abrantes no século XX, Abrantes, 2000) continua a ser a base de dados necessária para começar a esclarecer qualquer questão abrantina desta época. E a nossa dúvida nasceu das acusações lançadas pelo Carvalho da Silva ao ''premier'' da época
Arrolamento dos bens da Igreja de Santa Luzia e paróquia do Pego, feito pelo distinto republicano Justo Rosa da Paixão (1911)-extracto
Que escreveu o republicano Valente sobre isto?
ma
Entrega dos últimos (1) bens, confiscados em 1911 e 1912 pela República, no caso de 1911 por uma Comissão chefiada por Justo da Paixão, ao Pároco da Freguesia de Santa Luzia do Pego.
Para fazer uma contabilidade da arte sacra, ouro, prata e santos e restantes alfaias e bens imóveis devolvidos à Paróquia e à Irmandade de N.Senhora do Rosário seria preciso fazer outras pesquisas, a que não sei se estou disposto e ainda a uma larga trabalheira.
Pelo menos fica aqui um exemplo documental como foi uma devolução parcial.
Obrigado ao amigo que enviou o documento.
(1) Tinha havido outras devoluções anteriores
MN
História
grândola- escavação Igreja São Pedro
montalvo e as ciência do nosso tempo
Instituto de História Social (Holanda)
associação de defesa do património santarém
Fontes de História Militar e Diplomática
Dicionário do Império Português
Fontes de História politica portuguesa
história Religiosa de Portugal
histórias de Portugal em Marrocos
centro de estudos históricos unl
Ilhas
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