Em homenagem ao primeiro signatário da petição Sr. Eng. José Albuquerque Carreiras publicamos com a devida vénia, extraido do magnífico blogue Sardoal com Memória onde o Sr. Luís Manuel Gonçalves vem fazendo um notabilíssimo trabalho de defesa do património e de investigação da História do Sardoal e da Região, este excelente post que conta a invenção duma milagrosa pílula protagonizada Dr. Aniceto.Bobela que era tio-trisavô do Eng. José Albuquerque Carreiras.
É uma pílula muito recomendável a políticos internacionais, nacionais e locais.
''Ainda que não tenha como personagem um clérigo, não resisto à tentação de transcrever um episódio humorístico, publicado no jornal “O ABRANTES”, de 23 de Fevereiro de 1908, com o título “O DR. BOBELA DO SARDOAL”:
Já não o conheci e não admira, pois que o liquidou o dever, há-de haver, neste vale de lágrimas, de dissabores e ilusões, há uns bons cinquenta anos.
No entanto lembra-me muito bem, a consideração, respeito e gratidão com que os meus falecidos pais falavam dele, contando um ou outro facto da sua vida e actos de filantropia que praticava com os desgraçados dos que precisavam de recorrer à sua inesgotável bondade e paciência, com que atendia tudo e todos.
Era um grande discípulo e grande admirador do sábio Raspaial, cujo tratado o acompanhava sempre debaixo do braço e quando ia ver algum doente metia-o no bolso da sua ampla sobrecasaca, sentando-se em cima dele como num pedestal.
Nas conversas com os amigos, sobre diversos assuntos que abordava com facilidade, concluía sempre com um envaidecido orgulho:
-Pois sim, sim, vocês têm razão!...Mas para mim e para a família basta-me o que tenho aqui!...
E batia com a ampla mão no fundo das costas, onde tinha o seu querido tratado Raspalhista!...
Um dia, estando no seu gabinete de trabalho, aguardando algum doente, viu entrar um antigo amigo e condiscípulo, grande ricaço abrantino, cujo nome omito para não ferir susceptibilidades, visto existirem filhos do nosso homem, que ocupam lugares proeminentes na sociedade abrantina.
Depois dos abraços e apertos de mão do estilo, o nosso homem tomou um ar sério e todo aprumado, disse:
-Oh! Meu caro Bobela, como velho amigo e condiscípulo, venho pedir-te um grande favor e, como sei que és razoavelmente reservado, dir-me-ás se o que peço pode ou não ser atendido - e sorrindo com certa amargura, continua: - Há um tempo a esta parte que sofro de uma doença original e conquanto esteja em princípio, já me tem causado desagradáveis dissabores!...
O Bobela ouvia-o muito atento e aguardava a descrição do amigo, para lhe minorar os sofrimentos, quando lhe diz à queima-roupa:
-Tenho a doença da mentira!
-Da mentira?...
-Da mentira, sim, pois o que é isto que tenho, senão uma doença?...
-Eu não falo a pessoa alguma que não pregue logo uma mentira. Não faço uma visita que não diga mentiras, desde que entro, até que saio. Se encontro um amigo, zás, uma mentira e algumas chegam a ser comprometedoras!... Quero evitar e não posso.
Têm-me causado grandes dissabores!...Portanto, isto é uma doença que cumpre evitar quanto antes. Por isso, vim hoje visitar-te e pedir-te que me resolvas o problema, ou sou forçado a desaparecer da sociedade!...
O Bobela, acalmando-o, disse-lhe:
-Não estejas triste, nem desesperes...Isso é uma doença de que muita gente sofre, mas de que em geral, ninguém se queixa, pois ela só faz danos aos outros a quem se refere. Há realmente remédio para essa doença, mas não tenho presente a fórmula, pois que é o primeiro caso que trato. Portanto passa por cá amanhã, que eu vou consultar os meus alfarrábios, para ver o que é que hei-de receitar.
O nosso hóspede ficou radiante de alegria e prometeu este mundo e o outro, ficando de voltar no dia seguinte.
O Bobela, muito sisudo e circunspecto, ficou murmurando da ousadia do amigo, tomando o pedido como gracejo e amesquinhamento à sua proficiência de médico habilíssimo, que era. Mas, sem se desconsertar, foi ao berço do filho, um pequeno que tinha apenas alguns meses, e revistando-o, encontrou ingrediente bastante para confeccionar o remédio que o amigo precisava e com tanto afã lhe pedira.
Trouxe uma espátula cheia que estendeu num vidro, juntando-lhe certa porção de farinha de trigo. Mandou o criado à Farmácia do Laré buscar um vintém de Lycapodium e fazendo seis grossas pílulas que meteu numa caixa, aguardou a visita do amigo, que realmente não se fez esperar, na manhã seguinte.
O nosso homem, logo ao entrar, perguntou: -E então?...
-Está pronto - disse o doutor - Tu és um felizardo. Encontrei a fórmula que é de um médico italiano. E mais, fiz o remédio, pois receei que não soubesses fazê-lo, visto não vir na farmacopeia. Portanto, aqui o tens!... Já almoçaste?
-Ainda não. - Respondeu o nosso homem...
-Pois é óptima ocasião para tomar a pílula, visto que são para tomar antes das refeições.
O doutor mandou vir um copo com água e o nosso homem tomou a pílula. Mas como estava ainda fresca e era grande, desmanchou-se na boca, fazendo com que ele, tomando o paladar, dissesse:
-Homem, sabes bem o que me dás? Isto sabe a trampa...
-Óptimo! Óptimo! - disse o Doutor Bobela, esfregando muito as mãos. Começas a falar a verdade logo à primeira!... Continua! Continua! Que isto é remédio radical!!!''
in Sardoal com Memória
IGNOTUS
Suzy de Noronha publicou este post.
No dia 25 de Abril fizemos uma série de evocações sobre essa data e recebemos um comentário que atribuímos ao Sr. Luis Gonçalves do Sardoal em que se comentava o que fizera no dia 25-4-1974.
Só agora verificámos ao dar um salto ao Sardoal com Memória vimos este post, que se referia ao nosso blogue:
''Agradeço as elogiosas referências que me foram feitas neste blogue, de todo imerecidas, mas que não quero deixar de registar.
Foi-me atribuída a autoria de um texto relacionado com o 25 de Abril publicado naquele blogue que, de facto não foi escrito por mim, ainda que desconheça quem é o seu autor.
No dia 25 de Abril de 1974 estava numa operação militar no norte de Angola e só no dia 3 ou 4 de Maio de 1974, quando regressei a Luanda, ao Regimento de Comandos, em que servia como alferes miliciano, tive conhecimento do golpe militar que tinha ocorrido em Lisboa.''
Pedimos desculpa ao Sr. Luís Gonçalves pela confusão, dado tratar-se doutro leitor com o mesmo nome. Agradecemos as suas simpáticas palavras. E pedimos-lhe o favor de um dia dizer o que acha do projecto do Carrilho da Graça para o MIIA....
Voltamos a dizer que o Blogue do Sr.Gonçalves é um dos mais interessantes da região.
Marcello de Ataíde
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