Carta a António José de Almeida
''Meu querido amigo,
Recebi o seu cartão e obrigado por tantas provas de estima que me consagra.
Agora peço a sua atenção para um assunto verdadeiramente urgente. Mathias Lopes Rapozo, natural das Mouriscas, pedia para ser nomeado professor para a sua terra, visto estar a sua escola fechada, e o professor oficial Baptista ter o pedido de reforma pendente.Este professor muito hábil, tem a média de 19 e meio mas há 6 meses espera cadeira e nada.
É pobre e esta situação é-lhe difícil.
Ele esteve apresentado e processo feito para o Rocio de Abrantes, o Rocio tem lá o Bruto e ele que procure (sic) professores porquanto Mouriscas é a maior e mais populosa aldeia do concelho de Abrantes.
Peço-lhe pois com muito mas muito interesse para pedir ao Leão Azedo a nomeação do Rapozo para Mouriscas e não para o Rocio. Pedido que eu já corrobei, na Inspecção do Largo da Abegoaria.
É este o maior favor que o meu amigo me pode fazer, creia-me. Ora isto fica pendente de duas palavras do Dr.António José de Almeida,.
Repare bem o professor há 6 meses que espera e Mouriscas com dezenas de crianças ao abandono.
Creia-me seu dedicado amigo
Martins Júnior
Abrantes, 26-12-1912
Notas: O Rapozo foi nomeado para as Mouriscas graças a esta senhora cunha do João Augusto Silva Martins. Grato ficou, porque sempre fez parte dos apoiantes do Henrique Augusto. As cunhas são a forma normal de nomeação administrativa neste país há milénios.
A República mantinha a Escola das Mouriscas fechada certamente para promover o sucesso escolar. Segundo o Prof.Gentil Martins......o Martins Júnior foi o pai do Inspector Rosa Casaco.
Em 1925, o abrantino Martins Júnior era dirigente do Partido Radical e candidato à Vereação de Lisboa.
Denunciou que na sede da republicaníssima Associação do Registo Civil, aos Anjos, se tinham descarregado 440 votos, mas só tinha havido 200 votantes.
A fraude destinava-se a beneficiar os democráticos do PRP e os esquerdistas. (1)
Depois disto, o nosso homem começou a cansar-se de eleições e começou a contar espingardas e a aliciar sargentos, como o abrantino, Pauleta e elementos do PC dados à acção directa e com tradições carbonárias.
E começou aos tiros, em 2 de Fevereiro de !926, revoltou o quartel das Vendas Novas.
(1) Eunice Marisa Martins Relvas, Eleições Municipais em Lisboa na Primeira República, (1910-1926), Tese de Doutoramento na UNL (2016)
Carta (extracto) de Martins Júnior ao Ministro do Interior, António José de Almeida, em 1911, em que denuncia como o cacique republicano do Mação, Samuel Mirrado,
fez desaparecer 400 eleitores ''inconvenientes''.:
'' (..)
(...) ''Confirmo o conteúdo do meu telegrama e peço a V.Exa que confirme as providências necessárias de que forma que o Sr.Dr.Samuel Mirrado não prossiga na arbitrariedade de cortar no recenseamento eleitoral 400 eleitores no concelho do Mação.
V.Exa sabe perfeitamente que o povo do concelho do Mação está divorciado do modo de proceder do Dr.Mirrado, que tem sido sobremaneira arrogante e desabrido.
V.Exa que sempre gritou contra as injustiças não permitirá que esta inqualificável acção vá por diante.
Eu vou ser proposto Deputado por este distrito e tenho absoluta certeza que serei eleito,por uma grande maioria, ora o corte dos 400 votos obedece somente ao Samuel saber que no concelho de Mação, terra do meu pai (1), conto em cada cidadão um dedicado amigo.
V.Exa sabe que apesar de não ser eleito ou sancionado pelo Directório, indo ao Parlamento serei tão republicano, como os confeccionados pelo Directório.
Disse ontem em Abrantes, diante de representantes de todo o concelho e concelhos diferentes apregoar a ideia e a crença que sendo as eleições livres (como espero que sejam) sem favores nem receio, vou ao Parlamento.
Para isto basta que V.Exa numa medida de honestidade briosa, como são todas as que lhe conheço, atenda às reclamações do povo do Mação, respeitando o direito dos votantes antigos, sem favor, apenas praticando mais um acto de plena justiça (...)''
Junta carta de um amigo monárquico que denuncia a chapelada do Mirrado e que foi irradiado também das listas de votantes.
Martins Júnior como António Maria Baptista foram candidatos republicanos dissidentes nas eleições à Constituinte, contra os candidatos oficiais do PRP, cujo chefe local e principal candidato era Ramiro Guedes.
O Guedes teve 2.559 votos, em Abrantes, e Martins Júnior 642. Os votos deste foram sobretudo no Rossio, mas mesmo aí foi batido por João Damas. O Baptista teve 491 votos no concelho.
ma
(dados eleitorais: Eduardo Campos, Cronologia do Século XX)
(1) O industrial de moagens João Augusto Silva Martins, dono da fábrica Afonso XIII, no Rossio. Era influente regenerador.
Exmo Sr. Dr.António José de Almeida
Bom Amigo,
Ontem realizei o célebre comício no Pego, onde mais de 800 criaturas aclamaram a República.
O deputado mudo (1),
esse nem compareceu no comício, nem se atreveu a entrar na aldeia, senão quando saí.
Mas o meu tema foi um ataque violento à Junta e ao Deputado, porque a escola do Pego, escola que esteve sempre aberta no tempo da devassa monarquia, infelizmente veio a República, e tirou-lhe o Professor. Há meses que a escola está fechada. É triste!
Nem isto, o deputado imbecil (como V.Exa lhe chamou), ainda conseguiu, porque em lugar de se empregar no que é urgente para o povo que representa, passa a vida nos cafés a latir contra aqueles a quem deve a eleição.
E o que lhe peço é a nomeação para o Pego, porque é argumento para porrada em quem não cumpre o seu dever.
V.Exa. me dirá o que se lhe oferecer. O Pego tem 6.000 almas (2) . E o povo atira a sua dor contra a República, visto que os filhos perderam o que já sabiam.
De V.Exa amigo dedicado.
Martins Júnior
Abrantes, 19-10-1911
(1) João Damas
(2) Objectivamente o Pego nunca teve 6 mil habitantes.
Nota: Actualizou-se a ortografia
mn
Em 28 de Setembro de 1924, reuniram-se em Lisboa, representantes das várias associações comerciais e patronais do país, entre elas a de Abrantes. Para protestarem contra várias medidas fiscais do Governo da República, incluindo a Lei do Selo que se recusaram a acatar.
As associações resolveram formar um partido político, que daria que falar, a União dos Interesses Económicos.
O principal promotor, João Pereira da Rosa solicita uma reunião com o Ministro,Rodrigues Gaspar e é preso. (1)
A obra citada refere ainda que, na sequência do 2 de Fevereiro de 1926, uma delegação de notáveis da esquerda, formada pelo velho dirigente maçónico Magalhães Lima, Lopes de Oliveira, César da Silva, etc se dirige ao P. da República tentando evitar a deportação do abrantino e dirigente radical, Martins Júnior (um dos cabecilhas da revolta de Almada) para os Açores.
O Presidente, Bernardino Machado acede, mas o Governo de António Maria da Silva, nega-se.(2)
Três meses depois, o grande amigo de Martins Júnior, o General Gomes da Costa expulsa Bernardino do Palácio de Belém e toma o poder. É o 28 de Maio.
Martins Júnior e os deportados regressam e são vitoriados como heróis.
(1) (2) Tudo em Ana Catarina Mendonça Pinto, ''A Luta de Classes em Portugal, 1919-1926, A Esquerda Republicana e o Bloco Radical'', tese de doutoramento na U.Nova, 2015
'' jornalista David de Carvalho, da redação de A Batalha, descreveu esses esses atos no livro Os Sindicatos Operários e a República Burguesa : «[...] pudemos presenciar pessoalmente a morte trágica desse jornal; com um desespero íntimo e impotente seguimos a sua destruição a golpes de picareta pelo bando de malfeitores do construtor civil Martins Júnior, protegido por compactos cordões de polícia armada, pessoalmente comandada pelo tenente-coronel Ferreira do Amaral».''
do artigo de Álvaro Arranja, no Esquerda Net, ''
O abrantino, está de chapéu, ao meio, numa foto do Século, depois do fracasso da revolta de Almada
ma
O sargento Sebastião Pauleta nascera em Abrantes, era filho de Maria Piedade Marques e José Maria Pauleta.
Era artilheiro e combatera na 1ª Grande Guerra, em França. Fora condecorado com a medalha comemorativa da Expedição a França, donde regressara em 1919.
Meteu-se na política e no golpismo radical, sendo aliciado pelo construtor civil abrantino, seu amigo, Martins Júnior, para derrubar António Maria da Silva.
Foi um dos líderes do motim de sargentos em Vendas Novas, que tomaram o Quartel, em 1 de Fevereiro de 1926.
Durante a refrega em que participaram civis, aliciados pelo mestre de obras Martins (que ficava furioso quando lhe chamavam assim, preferia construtor civil) e pelo dr. Lacerda de Almeida, ambos dirigentes do radicalismo ( Martins era um confesso admirador de Mussolini e de Miguel Primo de Rivera), feriram a tiro o alferes Humberto Delgado, que devia conhecer o Pauleta de Abrantes.
O Pauleta e os outros presos no golpe ver aqui
A revolta fracassou e o sargento Pauleta foi deportado para Ponta Delgada, juntamente com Martins Júnior e os outros implicados.
mn
fonte: Martins Júnior-O Presidente Landru na República da Calábria (onde se enaltece a figura do sargento Pauleta, como um dos líderes do golpe)
Delgado vingou-se mais tarde dando uma sova com cavalo-marinho ao sargento que o ferira. Achava uma falta de respeito ser ferido por um sargento. Ver A Pulhice do Homem Sapiens do General.
PS- Agradecemos à nossa leitora Isabel P. ter enviado a foto do Sargento Sebastião Maria Pauleta, quando se encontrava em França....no ''front''
Lisboa 7 de Fevereiro de 1926 Diário de Notícias
''Foi cercada a residência do irmão do chefe civil da revolução do 2 de Fevereiro, sr Martins Júnior, o qual foi preso e mais dois oficiais e cinco sargentos''.
O preso era o dr.António Silva Martins, distinto médico e sportsman.
O mandante era António Maria da Silva, presidente do ministério e líder democrático.
O dr. Martins tinha salvo o António Maria (que antes do 5 de Outubro era um destacado influente monárquico no Redondo, conhecido por famosas burlas eleitorais) de ser enviado para as masmorras de S.Julião da Barra por Sidónio Pais.
Refugiara-se no Hospital de Santa Marta, onde o médico abrantino garantira à polícia sidonista que o asilado estava bastante doente.
mn
foto do dr. Martins- blogue do dr. Rui Lopes
entre os deportados do 2 de Fevereiro de 1926, estava Martins Júnior
A Choldra, n2 1926
que dizia que São Bento era '' uma miserável sucursal do directório que reside na Travessa da Água da Flor''.
Sobre António Maria da Silva dizia MJ que era ''O Presidente Landru na República da Calábria''
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Na ''História Cronológica do concelho de Abrantes, da pré-história a 1916,'' de Candeias Silva diz-se sobre o capitão António Maria Baptista
pag 189
O Candeias não cita nenhuma fonte para justificar a alegada ''acção destacada'' do capitão Baptista.
Onde terá ele ido buscar a ''acção destacada''?
Martins Júnior, republicano histórico e testemunha presencial desses momentos, escreveu no ''Presidente Landru''
Parece que o destaque foi um discurso na parada do Quartel, obrigado a isso por Martins Júnior
O Baptista tinha ficado trémulo a aguardar no Convento o resultado a revolta republicana e nada fez, segundo MJ.
Mesmo quando chegaram as notícias da vitória republicana em Lisboa, e o povo de Abrantes, vitoriava a República em frente do Quartel, o prudente Baptista esperava para ver.
O quê?
O que decidiria o Major Abel Hipólito.....
Os de Infantaria estavam cheios de medo dos canhões do Castelo.
Daí a prudência do Baptista, só quando adesivou o Hipólito, é que o Baptista se tornou revolucionário.
Finalmente é o livro do Martins Júnior, uma fonte fiável para a nossa História?
Um dos melhores estudiosos de História contemporânea, o Prof. Adelino Maltez usa-o aqui.
E é a única obra que temos sobre a República em Abrantes (e não só)
ma
História
grândola- escavação Igreja São Pedro
montalvo e as ciência do nosso tempo
Instituto de História Social (Holanda)
associação de defesa do património santarém
Fontes de História Militar e Diplomática
Dicionário do Império Português
Fontes de História politica portuguesa
história Religiosa de Portugal
histórias de Portugal em Marrocos
centro de estudos históricos unl
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