Segunda-feira, 09.03.15

Célia Pedro Rosado
Abrantes
Sábado, 7 de março de 2015

 

Carta aberta ao Sr. Ministro da Educação
Dr. Nuno Crato

No dia cinco de março, quinta-feira passada, o diretor do agrupamento de escolas onde leciono há dezoito anos informou-me que me tinha nomeado para ser professora classificadora do teste PET concebido pelo Cambridge English Language Assessment da Universidade de Cambridge.

Na altura, reconheço que fiquei bastante perturbada com a nomeação. Tinha andado a leste desta problemática que já soava no ar há algum tempo, não só porque nunca pressupus qualquer concretização efetiva, mas também porque este é um tempo de muito trabalho envolvendo a avaliação dos muitos alunos que tenho a meu cargo. Já no ano anterior, com o projeto, em tudo semelhante, mas denominado KET porque o nível de proficiência na língua inglesa era mais elementar, eu me tinha questionado sobre a oportunidade que o seu ministério estava a dar aos nossos alunos e tinha decidido não me voluntariar para integrar o conjunto de professores classificadores, não só porque percebi que afinal não seriam os professores do Cambridge como o Sr. havia referido no início com alguma pompa e circunstância, mas também porque nenhuma informação dada me pareceu séria ou credível no que às condições de adesão ao referido projeto dizia respeito e, sobretudo, à valorização da minha pessoa enquanto profissional da educação há já trinta anos, sensivelmente. E fiquei perturbada com a nomeação porque, apesar de me pagarem as deslocações quando o entenderem, considero uma irresponsabilidade e um enorme desleixo que, no início de março, a bem mais de metade do ano letivo, me venham informar que daqui a menos de um mês terei de me deslocar a outras escolas da minha área geográfica, sabe-se lá onde porque não faço qualquer ideia do perímetro, para realizar sessões de avaliação da oralidade de alunos que eu não posso conhecer. Fiquei perturbada porque, não tendo uma viatura disponível para esse efeito, terei de fazer o percurso que me destinarem à boleia ou de transporte público, o que se revelará bastante penoso para os meus alunos já que terei de faltar, possivelmente, durante todo um dia de trabalho pois na minha área geográfica os transportes públicos não abundam como nas que o Sr. Ministro está habituado a frequentar. Fiquei perturbada quando o Sr. Diretor do meu agrupamento me disse que o problema do transporte não poderia ser um critério para a não nomeação, mas, nessa altura, aceitei fazer um esforço e seguir o seu conselho de que “com bom senso, resolveríamos a situação da melhor forma”.

Agora, que já li a legislação publicada no dia dois de março, nomeadamente o Despacho nº 2179-B/2015, pergunto como é que se legisla no sentido de nomear pessoas para determinada tarefa com o pressuposto de que, não tendo a certificação exigida, essas pessoas a tenham de fazer à posteriori, conjuntamente com formação prévia, a menos de um mês do início de tal tarefa? A mim, parece-me que voltámos ao tempo da “outra senhora” quando primeiro batiam e só depois perguntavam onde as queriam apanhar. O Sr. considera poder obrigar pessoas formadas nas diferentes universidades deste país a realizar um teste (CEPT) validado por uma universidade inglesa só porque sim? Considera que estas mesmas pessoas estão motivadas a apostar na sua formação quando a nossa carreira não existe há dez anos? Eu, muito claramente lhe digo, não estou! E não estou, também porque, apesar de ter sido coordenadora do Departamento de Línguas do meu Agrupamento de Escolas durante cinco anos e de ter tido uma avaliação de “Muito Bom”, serei contemplada com um “horário zero” já que o seu ministério decidiu fechar tês vagas na minha área disciplinar. O Sr., mais do que todos os outros ministros da educação anteriores a si, é responsável por esta minha desmotivação porque, depois de todas as palavras de apoio à classe e contra a sua antecessora quando éramos achincalhados em praça pública ainda há tão pouco tempo, tem vindo a mostrar que toda a estratégia tem somente a ver com interesses políticos e económicos e não com pessoas e os seus direitos. Isto que o senhor e o governo do qual faz parte estão a fazer aos docentes de Inglês deste país é um ultraje. A liberdade conquistada há, daqui a pouco, quarenta e um anos e que começamos a celebrar já por todo o país, especialmente nas escolas do nosso agrupamento, não pode ser só uma rotina que se instalou porque fica sempre bem falar do assunto. Há que cumprir o significado e não fica bem aos governantes de um país, exemplos máximos de toda a estrutura, fecharem os olhos e fazerem “ouvidos de mercador” aos valores e pilares base de qualquer sociedade. Se calhar eu é que estou enganada e o Sr. até está a zelar pelos meus interesses, obrigando-me a realizar uma certificação que me possibilitará trabalhar noutros países europeus. Será que com esta medida, o Sr. está a incentivar-me a emigrar para o estrangeiro quando eu não for mais necessária para desempenhar a tarefa de há largos anos, como, de resto, o nosso primeiro-ministro tem feito com os jovens licenciados que não têm emprego em Portugal? Com quase cinquenta e quatro anos, parece-me um pouco difícil contratarem-me noutro qualquer país do espaço europeu para dar aulas de inglês, quando lá, também eles, sofrem do mesmo problema.

E muito mais teria para lhe dizer não fosse a pilha de trabalho que tenho às minhas costas e, como amanhã se celebra o Dia da Mulher, não quero estar a tarde toda a ver os testes dos meus alunos já que lhes prometi entregar-lhos na segunda-feira. Burra? Com certeza, mas eu gosto de cumprir as promessas que faço. Parafraseando uma jovem de treze anos que muitas vezes oiço dizer “É a vida…!”, deixe-me dizer-lhe que a vida dos adolescentes é, de facto difícil, mas a vida dos adultos comuns deste país também é muito difícil, cada vez mais, em grande parte, devido às ideias que teima pôr em prática, infelizmente!

Célia Pedro Rosado  

 



publicado por porabrantes às 09:24 | link do post | comentar

Segunda-feira, 22.09.14
Tomar, Varsóvia, Gaza, Soweto
Uma turma só com ciganos, entre os 6 e os 13 anos – uma história de decadência

A indignação é quase sempre um espasmo da inteligência, uma armadilha que a emoção estende à razão, a maior parte das vezes uma perda de tempo. Porém, é importante que se diga com palavras que não sejam ambíguas: o que está a acontecer na Escola dos Templários, em Tomar, uma escola pública, é indigno e moralmente criminoso. A criação dos guetos de Varsóvia, Gaza ou o Soweto têm histórias diferentes, mas são filhas do mesmo pavor e da mesma intolerância: o medo do que é diferente, o medo do que nos ameaça socialmente, o medo de nos roubarem o que é nosso. As sociedades mais evoluídas são as que, apesar da vontade íntima de segregação, encontram formas de se proteger de si próprias, maneiras de incluir e de tornar parte na comunidade o que tão diferente parece ser. De outra maneira crescerá um monstro que dificilmente ficará saciado. A falta de integração não é o que mais preocupa a escola, explica o director ao i. O que lhe interessa é o aproveitamento dos alunos. No que afirma, na forma como o afirma, não parecem existir más intenções, até parece surpreendido com o interesse do jornalista Carlos Diogo Santos. É o mais complicado sinal nesta história: a constatação de que os responsáveis acham normal reunir uma turma só com ciganos, com idades compreendidas entre os 6 e os 13 anos.

A comunidade cigana, sabemo-lo, é muito específica. Não gosta de se misturar, é fechada e bastante agressiva. Pagam a desconfiança dos que chamam “senhores” com mais agressividade e à intolerância respondem com intolerância. Complicado de resolver. Porque desperta nos que dominam a vontade de pisar, humilhar e isolar. Não sei se este caso é do conhecimento do ministério e do primeiro-ministro. Se não era, passou a sê-lo. Já não podem fechar os olhos em nome de uma ideia de civilização. Fez-me lembrar a manhã de ontem. Porque olhei um sem-abrigo como se se tratasse de uma banalidade. E outros, como eu ontem, fazem-no dia após dia. Não por sermos amorais, mas por representarmos numa peça em que apenas nos comove o que é novo, o que nos surpreende. Pode ser uma palavra, um gesto eloquente, um tropeço que nos desequilibre o que temos por adquirido. Esse sem-abrigo costuma beber vinho pela manhã, olho-o todos os dias, raramente o vejo. Vi-o por fim. Ontem. Sentado na pastelaria, pediu uma tosta mista. Cruzou uma perna, não quis café. Pedi o mesmo que ele. Soube-me como um milagre e amanhã espero poder cumprimentá-lo como a pessoa que é. Como os ciganos de Tomar.

 

 

Luís Osório no I com a devida vénia

 

 

O Luís Osório tem raízes abrantinas, a avó dele era uma senhora das Mouriscas, que ele evocou no ''Sol'' numa deliciosa crónica, há algum tempo.

 

Nota:

Aquilo (a política racista de criação de ghetos) que se está a fazer em Tomar, tem bastantes parecenças com o segregacionismo larvar da política cigana da CMA.

Não me admira ver o Crato declarar ao I que aprova a política tomarense. As pessoas permanecem fiéis às suas raízes. O Crato era um estalinista fanático da UDP. Um dos gajos, de matriz pequeno-burguesa, que  batia palmas à liquidação cultural do povo tibetano por parte dos comunas chineses. Começa-se assim e continua-se, tão pequeno-burguês como sempre, a segregar ciganos.

 

 

 

 

 



publicado por porabrantes às 08:23 | link do post | comentar

Sexta-feira, 16.05.14

O intelectual e publicitário (1) Martinho Gaspar acusa o Prof. Doutor Nuno Crato, ministro da Educação da República, de dar um ''pontapé no traseiro'' a alguns professores, nós  podemos garantir que o Nuno Crato, mesmo quando era intelectual marxista-leninista, nunca deu em pontapé a ninguém. 

 

 

O ilustre professor de História diz que este ano está muito sobrecarregado, que chatice,'  possui este ano “sete turmas, mais de 150 alunos, duas direcções de turma e outros cargos”,

 

 

Depois protesta contra a avaliação ''selectiva'' e sustenta que '' um “professor pode ter feito um trabalho fantástico com uma turma que tem média de 10 valores”, enquanto outro pode ter feito “um trabalho medíocre com alunos que alcançaram média de 15”.''

 

 

A malta pergunta como?????

 

 

Se as turmas são compostas em geral por um misto de alunos com capacidades intelectuais e origens sociais diferentes, será um êxito inegável conseguir levar a turma a uma média geral de 15 e um resultado abaixo de cão levar a turma a ficar-se pelos 10.

 

 

A não ser, quando se organizem as turmas se seleccionem os alunos, para criar algumas turmas, só com alunos oriundos de  grupos sociais privilegiados e com alunos já com resultados escolares acima da média nos anos anteriores. E se  criem turmas só com ''pobrezinhos e burrinhos''. Coisa anti-democrática, mas que se faz em alguma escola que a malta conhece e que o intelectual Gaspar não deve conhecer.

 

O Gaspar está certamente cansado por excesso de trabalho, só assim se explica que dê estes ''pontapés no traseiro'' na lógica (2).

 

sn   

 

(1) com exercício da profissão no boletim publicitário Passos do Concelho

 

(2) O Gaspar obteve direito a este comentário:

Férias Azeitão Casa · · Comentador principal · Vila Fresca, Setubal, Portugal
Dr. "José Martinho Gaspar, que possui este ano “sete turmas, mais de 150 alunos, duas direções de turma e outros cargos”, questiona-se se em 10 ou 15 anos aguentará a carga de trabalho e se conseguirá imprimir-lhe a mesma qualidade", não se questione. Posso-lhe garantir, que a menos que seja um super, super, super homem, daqui a 10 ou 15 anos, não só vai estar a trabalhar com mais alunos difíceis, como não vai ter a mesma qualidade de trabalho. Se for inteligente e esperto, altere a sua conceção de "qualidade" e vai ver que até a pode melhorar!...


publicado por porabrantes às 16:02 | link do post | comentar

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