Sábado, 02.02.13

No Sol, costuma-se falar de padres de Abrantes. Mas o Luís Osório não fala, apesar de falar do sobrinho de um padre abrantino. Reproduzo a prosa para que não esqueçamos



O assassinato mais esquecido da história da Democracia

 

 

''No átrio da Faculdade de Direito, em Lisboa, uma pintura celebra Ribeiro dos Santos e Alexandrino de Sousa. Nos últimos anos, milhares de alunos por lá viveram uma parte substancial das suas vidas, naqueles corredores e salas se formaram e por aquelas pinturas, por aquelas caras, passaram durante toda a sua formação académica.

Se fizermos a estatística das origens universitárias dos nossos governantes estou certo de que uma parte substancial saiu dali.

Agora, o bizarro. Em conversas informais com deputados, ministros e até professores da faculdade, não havia quem desconhecesse a história do assassinato de Ribeiro dos Santos, mas poucos encontrei a saber contar sobre a morte de Alexandrino. Quero fazê-lo hoje.

Os dois militavam no MRPP, liderado por Arnaldo de Matos. Na tarde de 12 de Outubro de 1972, quando a ‘Primavera Marcelista’ era já um frio Outono, um grupo de estudantes grita palavras de ordem no ISEF contra a guerra colonial e a ditadura. Um estudante, ou com idade para o ser, é acusado de ser um informador da PIDE – tirava apontamentos das movimentações dos manifestantes quando o apanharam em flagrante. Os jovens levaram-no para um anfiteatro onde lhe prenderam as mãos e lhe colocaram um saco na cabeça. Centenas de estudantes exigem respostas.

A PIDE é chamada por alguém à faculdade. Dois agentes pedem ordem e ameaçam disparar se esta não for reposta, os estudantes assobiam e alguns, perante as ameaças, avançam em direcção aos polícias. Um deles dispara mesmo, tiros indiscriminados que apanham José Lamego, que fica ferido, e Ribeiro dos Santos. A multidão dispersa. E Ribeiro dos Santos, morto no chão, torna-se bandeira de uma geração que não quer ser silenciada.

As manifestações de pesar, nomeadamente o funeral, transformam-se num impressionante apelo contra o Estado Novo, milhares acompanham o corpo de Ribeiro dos Santos.

Voltei ao episódio conhecido porque três anos depois, a 9 de Outubro de 1975, duas brigadas do MRPP estavam mobilizadas para colar cartazes evocativos da morte de Ribeiro dos Santos. Não era um pormenor o anúncio desse comício. Na rua as forças estavam extremadas. O Partido Comunista media as consequências de uma tomada de poder efectiva, a extrema-esquerda unida a Otelo Saraiva de Carvalho posicionava as forças para o que tivesse de ser e, numa posição independente e para muitos polémica, o MRPP possuía a sua própria linha de acção e o seu próprio caminho. Todos os dias, ou quase, existiam confrontos na rua. PS, PPD e CDS mantinham-se à margem da rua.

É nesse cenário que o MRPP prepara a homenagem ao seu principal ícone. Da sede saem duas brigadas de colagens de cartazes. Alexandrino e mais cinco dirigem-se à Praça do Comércio, a outra, liderada por Ana Gomes, cobre um outro qualquer ponto da cidade.

Já estão a colá-los quando chega um grupo de carrinhas com militantes da UDP. Segundo testemunhas dadas ao tribunal da Boa Hora, cerca de 60 homens e mulheres saem de carrinhas com barras de ferro. Com violência foram ‘empurrando’ Alexandrino e os outros cinco para o rio.

Alexandrino de Sousa nascera em São Pedro dos Arcos, distrito de Ponte de Lima. Frequentara a Universidade de Direito, fora amigo de Ribeiro dos Santos e era considerado um dos mais valentes – a PIDE prendera-o e torturara-o durante meses e sem quaisquer resultados. Apesar de estudante e muito jovem não forneceu qualquer informação.

Celebrado o 25 de Abril, viveu com entusiasmo o PREC. Até ao último dia da sua vida, precisamente o 9 de Outubro de 1975. As barras de ferro abriram caminho e obrigaram à fuga dos seis até ao Cais das Colunas. Alexandrino grita repetidas vezes que não sabe nadar, mas os perseguidores não o ouvem. É projectado para o rio, fica preso no lodo e afoga-se.

O 25 de Novembro não tardará mais do que umas curtas semanas. O caso é notícia em todos os jornais da época, a consternação e o repúdio são gerais e, no Parlamento, é votado e aprovado um voto de pesar pelas circunstâncias da morte de Alexandrino. Voto de pesar proposto, aliás, pelo PPD. Nascia assim um segundo ícone do MRPP assassinado por colar cartazes que remetiam para uma outra morte.

O tribunal reúne-se mais tarde, já depois da normalização democrática imaginada e concretizada pelo Grupo nos Nove. A ordem era a da pacificação. Do encerrar das feridas ainda tão abertas. Na Boa Hora, apesar de alguns elementos terem sido identificados, os juízes não encontram matérias de prova e o caso é encerrado sem condenações e condenados. Deliberou-se pelo esquecimento.

O forte núcleo de estudantes do MRPP em Direito ‘edificou’ uma pintura no átrio da faculdade. De um lado, Ribeiro dos Santos. Do outro, Alexandrino de Sousa. Estudantes, professores, conferencistas e contínuos passam todos os dias pelas suas caras. De Ribeiro dos Santos, morto por um PIDE, tudo parece sempre pouco. Mas em relação a Alexandrino, morto por um grupo revolucionário da UDP, são mais os que o desconhecem do que o contrário. Afogado no Cais das Colunas num dos episódios mais esquecidos da história da nossa democracia. ''

  

 

O Senhor Padre José Ferreira, Pároco do Rossio, acolhe o sobrinho, o Zé Lamego, ferido de bala pelos Pides, na residência paroquial do Rossio e aí esteve até que a prestimosa polícia fascista se esquecesse dele. O Zé Lamego já foi deputado e membro do Governo do PS, o Sr.Padre Zé Ferreira já morreu em Portalegre e a foto dele foi posta no facebook do grupo do Rossio, pelo Nuno Branco, que anima o Núcleo Museológico da Igreja do Rossio, em boa hora.

Já que falo de padres com problemas com o proletariado vai outro:

 Don Manolo

 

Isto é um ''dream team'' a melhor equipa de professores que alguma vez passou por Abrantes, a equipa docente do La Salle, quase todos Irmãos da Escolas Cristãs, a maioria espanhóis, havendo apenas alguns lusos, por exemplo o penúltimo da primeira fila sentada, o Professor primário António Marques Heitor, que me foi quem ensinou a História de Portugal que ainda sei .

Mas na mesma fila o 3º é o falecido Rev.Padre Américo Duque (acho que não me engano no apelido) que foi Capelão do La Salle, benfiquista ferrenho, de Alferrerade.

Também ele teve problemas proletários com o sobrinho, com o MRPP e com a PIDE (a nova), a PIDE social-fascista como dizia o Barroso, depois Durão Barroso, e teve de ir ao Presídio Militar de Santarém procurar o sobrinho e talvez o Eduardo Soares Mendes, a quem o Copcon (assim se chamava a Pide do Otelo) metera numa cela, depois da rusga anti-maoista de 28 de Maio de 1975.     

Restava falar do Alexandrino de Jesus que conheci bem, dalgum dos algozes mas isso fica para outra vez. Se bem me lembro (eu não estava lá, nunca fui de seitas que sigam pensamentos infalíveis ou que tenham pontífices infalíveis) no grupo da Ana Gomes (valente mulher!) também estava a Maria José Morgado, e foi uma das agredidas pelos ''UDEPIDES'' como gostava de dizer o Alexandrino, rapaz valente mas o mais ingénuo marxista-leninista-maoista que conheci.

 

Miguel Abrantes



publicado por porabrantes às 13:21 | link do post | comentar

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