A secção de hagiografia católica costuma caracterizar-se pela imbecilidade mais fracturante. Mas como esta biografia apologética de D.Manuel Mendes da Conceição Santos há poucas.
Conceição Santos foi Bispo de Portalegre e depois Arcebispo de Évora. E chegou a ser candidato a Cardeal Patriarca, mas Salazar sabotou a coisa e nomeou o Cerejeira.
Entrou na Diocese e arranjou logo um programa de acção.
Era um homem com a obsessão sadia da castidade
Queria a Diocese casta:
'' O novo Bispo veio encontrar a diocese de Portalegre inteiramente desarticulada, sem Paço Episcopal e sem Seminário, de que o seu sucessor D. António Moutinho fora esbulhado, sofrendo mesmo o exílio. Desde logo, porém, devotou-se, com toda a paixão do seu primeiro amor de Bispo à amada esposa, a Igreja Portalegrense, que quis « entregar virgem e casta a Jesus Cristo », conforme se lê nas notas que escreveu durante o retiro para o episcopado.''
Estava tão alarmado com o impudor que: '' Na modéstia e no contacto com senhoras era cheio de delicadeza e de prudência. Assim, quando uma senhora de grande respeitabilidade, em cuja casa ficaria hospedado numa localidade da Arquidiocese, lhe enviou o seu automóvel para o transportar, ao saber que vinha nele uma senhora nova, filha da sua anfitriã, mandou agradecer, pediu desculpa de não aproveitar o carro e solicitou o empréstimo de outro automóvel, porque ainda então o Prelado eborense não tinha carro e socorria-se dos que lhe emprestavam os diocesanos generosos. A sua delicadeza não impedia de manifestar desacordo com as modas imorais, chegando a ponto de recusar a Confirmação a filhas dos donos da casa onde se encontrava hospedado, mandando-as às mães para que as vestissem mais modestamente. Contava o seu sucessor D. Manuel Trindade Salgueiro que, ainda nas últimas conferências episcopais em que participou, insistiu para que o Episcopado publicasse uma nota contra as modas menos decentes.
O zelo pela castidade dos seus padres mostrou-o na insistência com que nos retiros a inculcava nos retiros e revela-se neste episódio : pedira a um secretário para lho comprar determinado diário vespertino de Lisboa e, como reparasse que o jornal apresentava uma figura feminina pouco decente, procurou ocultá-la aos olhos do jovem secretário.''
in
Queria o Episcopado nomear um homem destes para Patriarca e a coisa alarmou Salazar.
Quem sabe se numa recepção o angélico arauto começava a fulminar os decotes das senhoras ???
Salazar manobrou e bem para nomear um homem menos rico ( Conceição Santos era duma família rica de Torres Novas), mas mais liberal e mais actualizado e
certamente mais evoluído. Saiu Gonçalves Cerejeira que por muito salazarista que fosse esteve sempre aberto à Cultura, capaz de ler Sartre e Camus e que nunca censurou os decotes das mulheres dos Embaixadores ou das Rainhas.
.Resumamos a diplomática actividade de Oliveira Salazar, mas antes convém contar que Conceição Santos fora colega de universidade do aristocrata negro Eugenio Pacelli, que seria Pio XII.
De triste e negra memória.
Mas em 1929 quando é preciso substituir o Cardeal Mendes Belo, Pacelli é já um importante diplomata, o núncio na Alemanha
e já financiara pessoalmente o partido nazi, em Munique, onde conhecera um agitador chamado Adolf Hitler.
O Papa nomeia-o Secretário de Estado em 1930, e a partir daqui é o responsável pela política externa do Vaticano. Se fosse ele Secretário em 29 teria ido mais sorte o Arcebispo de Évora. Quem sabe?
Salgado de Matos o melhor especialista destas coisas explica assim a sucessão. Leiam aqui
A obra de S.Matos sobre as relações entre a Hierarquia e o Estado é extraordinária.
Mas já vai longo o post. Resta dizer que o hagiógrafo comenta que Conceição Santos também tinha um santo e justificado horror às gralhas. Espero que não haja nenhuma por aqui. Finalmente convém anotar que quando Conceição Santos entra em Portalegre, encontra uma Diocese dizimada pela perseguição republicana
E o pilar da Diocese vai ser José Adriano
Pequito Rebelo, o mesmo que na década de 50 conspirará com D.António Ferreira Gomes contra Salazar.
O mundo dá muitas voltas.
ma
citação de Luís Salgado de Matos na Análise Social
Os bispos portugueses: da Concordata
ao 25 de Abril — alguns aspectos**
Arauto do Evangelho
Obra citada
Nas farsas eleitorais fascistas (alguma aprimorada por um senhor a quem a Câmara deu uma medalha e que pressionou os operários da sua fábrica de azeites a irem votar Tomás) foram poucos os candidatos abrantinos.
Fomos ver quem foram e cingimo-nos aos candidatos às ''eleições'' para deputados (1945-1973) que o Prof.Salazar e o tipo que se rendeu no Carmo organizavam para dar uma fachada pluralista ao regime autoritário.
Que se possam dizer abrantinos houve dois:
''
PEREIRA, Orlando Rodrigues Dante (1924-1987) – Santarém, 1961 – Nasceu em Alenquer a 24 de Março de 1924 e faleceu em 13 de Julho de 1987. Licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa e fixou-se em Alpiarça, exercendo advocacia. Pertenceu ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), de cuja comissão académica fez parte. Esteve activo nos serviços de candidatura das campanhas eleitorais para deputados e foi
apoiante da candidatura do dr. Arlindo Vicente à Presidência da República. Como advogado, interveio em vários processos, julgados nos Tribunais Plenários. Desempenhou diversos cargos na Ordem dos Advogados: delegado às assembleias-gerais, entre 1963 e 1971, e delegado na Comarca de Abrantes, entre 1968 e 1971.'' (1)
O Dr.Orlando viveu largamente em Abrantes, foi bem conhecido no foro abrantino, teve um papel relativamente destacado nos episódios relacionados com o período de pós-25 de Abril de 1974, como a sua mulher Drª Fernanda Pereira. Seria candidato pelo MDP-CDE em 1975 à Constituinte e foi derrotado, dada a humilhante votação que teve este partido-satélite do PCP nestas eleições. Abandonou Abrantes e estabeleceu-se em Lisboa como notário.
Quem lhe devia fazer a biografia era o dr. José Amaral, que o conheceu melhor que eu. Fico è espera. De qualquer forma já aqui se escreveu alguma coisa sobre ele para onde remetemos o leitor
http://porabrantes.blogs.sapo.pt/604235.html
http://porabrantes.blogs.sapo.pt/tag/arlindo+vicente
Naturalmente, a cidade deve-lhe uma homenagem, porque foi candidato pela Oposição no Distrito de Santarém em 1961 e 1965, e 1961 é um ano terrível para a Oposição. Naturalmente teve prejuízos profissionais por ser Opositor ao regime, não podendo aceder ao Notariado por ''desconfiança política''.
Como poderão verificar nos links citados aparece já em 1958, com Duarte Castel-Branco, Costa e Simas, etc sob batuta do Advogado e escritor Vergílio Godinho a preparar a frustrada candidatura presidencial de Cunha Leal.
Depois dele, só aparece outro, o familiar da minha querida professora de liceu, D.Maria do Céu Aleixo, o eng. António Mendes Aleixo, candidato pela Oposição em 1973, em Portalegre ao lado do Marquês de Fronteira e Conde da Torre, D. Fernando de Mascarenhas e do arq. Teotónio Pereira. O eng. Aleixo teve depois uma assinalada trajectória no PPD-PSD do Distrito de Portalegre
memória nisense
''
ALEIXO, António Mendes (1933) – Portalegre, CDE, 1969 – Nasceu em Barreiras do Tejo, Abrantes, a 23 de Maio de 1933. Fez os estudos secundários em Santarém e emTomar e os estudos preparatórios de engenharia em Coimbra. Licenciou-se em engenharia electrotécnica, correntes fortes, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Entre 1961 e 1994, a sua actividade profissional desenrolou-se principalmente no
Alentejo, no sector eléctrico: em particular, foi adjunto (1961-1963) e engenheiro-chefe da secção de Nisa da Hidro-Eléctrica do Alto Alentejo (HEAA), acumulando então com a responsabilidade da condução dos aproveitamentos hidroeléctricos das centrais da Póvoa, Bruceira, Velada, Foz, Pracana, Idanha, Maranhão, Montargil e Gameiro. Entre 1974 e 1980, foi engenheiro-chefe da secção de Nisa e responsável pelo Departamento
dos Sistemas Primários da zona Alto Alentejo-EDP. De 1980 a 1984 foi responsável pelo centro de distribuição da direcção operacional da distribuição Tejo-EDP. Posteriormente, exerceu cargos de administração em empresas dedicadas a energias. Em 1969, foi cabeça de lista por Portalegre e em 1974 aderiu ao Partido Popular Democrático (PPD), quando da sua formação, tendo pertencido a vários mandatos nas comissões políticas distritais de
Portalegre. Em 1974, foi fundador da comissão política concelhia de Nisa do PPD, da qual foi presidente durante vários mandatos. Foi também membro da comissão instaladora dos Trabalhadores Social-Democratas (TSD) e seu secretário distrital de Portalegre (1985-1997). Fez parte da comissão instaladora do Sinergia. Sindicato de Energia - em Junho de 1989, tendo pertencido aos órgãos sociais do sindicato desde a sua fundação.
Foi deputado municipal do concelho de Nisa durante dezoito anos (1979-1997). (2) (...)
Algumas personalidades políticas de concelhos vizinhos foram candidatos e citam-se Francisco Lino Neto (ligado ao Mação), António Reis (Mação), Pequito Rebelo (Gavião) e pouco mais.
Realmente é escassa a colheita de políticos anti-fascistas abrantinos, tendo de se reconhecer que a Ditadura viu florir aqui gloriosos expoentes dos quais destacarei Maria de Lourdes Pintasilgo e Rosa Casaco, mas a safra anti-fascista de ''políticos'' anti-fascistas foi pequena. Outra coisa será a de sindicalistas, militares (com o General Marques Godinho o mais destacado), militantes das lutas estudantis, militantes da luta armada (houve um muito importante), operários, etc.....Mas essa fica para outro dia....
MA
(1) e (2) -texto entre aspas: Mário Matos Lemos, coor e prefácio Luís Reis Torgal, Candidatos da Oposição à Assembleia Nacional do Estado Novo (1945-1973 ), Assembleia da República-Texto Editora, Lisboa, 2009
Em 31 de Dezembro de 1955, Sua Excelência Reverendíssima, D.Agostinho de Moura, Bispo de Portalegre, emitia esta carta confidencial dirigida a cada Pároco da Diocese.....
Na sequência da norma emitida pelo Bispo em 3 de de Agosto de 1954 '' no sentido de se trabalhar pela inteira supressão de quaisqueres danças ou bailes e de qualquer divertimento nocturno'', (Suponho que o Senhor D. Agostinho não consideraria a fornicação nocturna dentro dum casal católico como ''divertimento'' mas sim como dever moral e portanto não estaria abrangida por este ''grandioso'' plano...) ordenava-se aos Senhores Priores que até ao final de Novembro apresentassem um rol exaustivo de todos os bailes públicos e particulares que se celebravam dentro das fronteiras das suas Paróquias para a Diocese construir uma base de datos, a fim de depois elaborar uma estratégia para terminar com o flagelo....
Ainda existirá em Portalegre, no Arquivo da Cúria, a base de dados sobre bailes mandada elaborar por D. Agostinho?
Será pública?
Estará ainda classificada como material ''confidencial''?
Gostaria eu de a consultar para verificar qual foi relação elaborada pelo Pároco de São Vicente de Abrantes, Rev.Cónego Freitas....
E depois comparar a lista dos ''subversivos'' organizadores de bailes em casas particulares com a dos generosos ''doadores'' de fundos para a construção do Seminário e do Colégio de Santo António...
Aposto que encontrava algumas ''boas'' famílias nas duas listas....
Um dia dizia-me o dr. Pequito Rebelo, também ele generoso mecenas do ''seminário'': O homem quer proibir os bailes, está um bocadinho excitado!
Acho que tenho de lhe ir lá explicar que se não fossem os bailes ainda estava a aturar a minha irmã e ela não se tinha casado com o Hipólito Raposo....
Essa história de proibir os bailes só servirá para fabricar solteironas....
Marcello de Noronha
Nota: D.Agostinho ainda depois do Concílio continuou a campanha. Em meados dos anos 60 proibiu o primeiro baile de finalistas do La Salle. Com a piedosa ajuda do Cónego Freitas.
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