Domingo, 11.04.21

Memória e Testemunhos das Prisões Políticas depois do 25 de Abril de 1974

PASSAVA a hora do almoço, quando a coluna militar, que escoltava os presos do Regimento de Artilharia de Lisboa (RAL1), metidos em carrinhas celulares e camiões Berliet, saiu do quartel mais uma vez com destino que desconhecíamos. Pela direcção que tomou começou-se a aventar a hipótese que seríamos levados em direcção ao Forte Caxias o que se veio a confirmar. Numa estrada do vale do Jamor e em marcha relativamente lenta e apesar de escoltados pela tropa a coluna era obrigada a algumas paragens determinadaspelas chamadas «barragens populares» destinadas a controlar as movimentações de «reaccionários» do «28 de Setembro», que, dizia-se, avançariam sobre Lisboa com armas escondidas para combater a revolução. Numa dessas paragens, a Berliet de caixa aberta em que eu seguia teve várias tentativas de assalto perante a passividade dos militares que nos guardavam.  Valeu o desembaraço de alguns dos presos que, sentados no chão em pneus, ao verem as «mãozinhas» que apareciam nos taipais para saltarem para a caixa da viatura, de imediato as pisavam repelindo, assim, o assalto.

Os presos foram transferidos com todas as precauções do R.A.L.1 para a prisão de Caxias.
Na gravura um aspecto da chegada de um dos carros celulares a esta cadeia de tão sinistra memória para os portugueses. in A Capital 30/09/74

Chegados ao reduto Norte do Forte de Caxias, sem mais percalços, fomos levados para o parlatório, num dos lados do qual, o das visitas, vi gente muito mais velha - tinha  33 anos\-  que não reconheci e disseram-me ser nomeadamente, um almirante, um ministro e um embaixador, visivelmente alquebrados e que deveriam ter sido tratados de outro modo mais que não fosse pela idade. Ainda mal fizera o reconhecimento do local em que me encontrava e já ouvira chamar pelo altifalante: «Major Melo Antunes!».

Interroguei-me, será possível? Prenderam o Major uma das figuras mais proeminentes do Movimento das Forças Armadas (MFA)?  De facto não … porque logo de seguida emendaram: «Sr.Tenente Antunes!».

Tinham-se enganado! Tratava-se do pai  do Major Melo Antunes. O Sr. Tenente que era o Chefe de Informações da Legião Portuguesa (LP), dirigiu-se de imediato à porta e foi libertado. O chefe saíu, mas os seus subordinados que com ele trabalharam ficaram e comentaram ao meu lado...

O Major Melo Antunes, considerado o intelectual da revolução «safava» o Paizinho!

Afinal para a Revolução de Abril havia pais, filhos e enteados…

Fizeram-se prisões a eito de velhos legionários para fazer número e, assim, poder justificar que estava montada uma enorme «tramóia». O que era preciso era levar gente não se dando ao trabalho de ver quem era quem. Depois avisaram o Major que lhe tinham preso o pai. E a ordem chegou a Caxias «libertem o pai do Melo Antunes».

Pouco importava que fosse o chefe de um serviço de informações que tinha fama de saber e fazer muita coisa... Viu-se!

Depois, seguiu-se revista pessoal aos presos, a entrega das mantas e a distribuição pelas celas. Uma dezena por cada uma.

José Manuel Costa - 18/03/07

  in Abril prisões mil (2007) com a devida vénia

O Major Antunes foi preso na sequência do 28 de Setembro 



publicado por porabrantes às 22:42 | link do post | comentar

Sábado, 27.03.21

miguel wageer russell.jpg

 Miguel Wager Russel, natural de Santarém, filho duma abrantina (1), foi um dos mais importantes dirigentes do PCP e da Resistência e homem ligado directamente  à URSS.

Passou largos anos no Tarrafal. Há várias biografias disponíveis na NET ( ver a página de Anti-Fascistas da Resistência, donde se tirou a foto).

Pacheco Pereira também tratou a sua actividade  e biografia, na sua monumental obra sobre Cunhal.

O Avante retrata aqui a sua biografia e acção.

(1) Era filho de Natália Augusta Pinto Russell e de Miguel Maria Wager Russell segundo a página Anti-Fascistas da Resistência, que segue os dados biográficos coligidos pelo Prof.João Esteves

ma



publicado por porabrantes às 08:54 | link do post | comentar

Segunda-feira, 28.12.20

2 meses no presídio militar de Santarém às ordens do PCP/COPCON

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=fjnm3lSvxM8&t=8s



publicado por porabrantes às 14:22 | link do post | comentar

Quinta-feira, 10.12.20

Que querem o rosto dum jovem abrantino, o Faustino das Fragatas ou um rosto curtido pela perseguição e pela tortura fascista?

O primeiro é este:

faustino jovem.jpg

O segundo é este, passara pelos Açores e por Angra, pelo Tarrafal , onde longos anos de cadeia e a tortura da frigideira deixou marcas, mas onde não vergou. (1)

faustino meia idade.jpg

Joaquim Faustino de Campos, de Rio de Moinhos, marítimo, foi preso em 1935 como comunista, transferido para o Aljube. E,  em 1936, nova prisão, Aljube, transferido para Angra, no ''Carvalho Araújo''. Condenado a 540 dias de cadeia é mandado para o Tarrafal. E aí, desde 1936 a 1945, resiste ao Campo da Morte.

Libertado em 1945.

Em 1958, nova prisão, vários meses em Caxias.(2)

Na cadeia, no Tarrafal, o Faustino, conhecido pela sua força hercúlea, não se priva de dar uma sova-mestra no pide Seixas, um dos algozes da Ditadura,.

'' Seixas aproximou-se e com vagares e ares divertidos foi dizendo:
- Tiveram sorte. Chegaram estas cinco. E para o camarada Faustino,  que havia muito andava provocando: - Tu não merecias isto...
Mas, mal lhe tocou com a carta no queixo logo foi esbofeteado e com tamanha gana que cambaleou.
Como não trazia arma, pois não era permitido andar-se armado dentro do Campo -não fôsse-mos nós arrancar-lhes as pistolas -, correu para
o guarda do portão. Estava de serviço o Cardoso que, justiça lhe seja feita; lha recusou e lhe virou as costas.
Joaquim Faustino foi levado à coronhada para a frigideira e ali foi espancado por seis guardas.'' (3)

ma 

 (1)- Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista    ''Presos Políticos no Regime Fascista, 1932-35'',   Lisboa, 1981

(2) Ficha Prisional, Torre do Tombo

  (3) Título: TARRAFAL-Testemunhos, Autor: Vários, 
Editorial Caminho, SARL, Lisboa, 1978



publicado por porabrantes às 16:00 | link do post | comentar

Sexta-feira, 23.10.20

eleutério.jpg

Em 1949 era enviado para Caxias o serralheiro tramagalense Eleutério Dias Pinheiro.

Já tinha sido condenado a pena leve, nos anos 30, no âmbito do desmantelamento duma célula comunista e dum grupo alegamente armado, em Abrantes, cujo principal vulto era o operário da MDF, de Rio de Moinhos, Zeferino Seabra Esteves, que foi condenado a dez anos de deportação para Angra do Heroísmo, como já se viu.

Conseguiu-se a informação sobre o processo dos anos 30, graças a um recorte hoje publicado no face pelo sr. dr. Octávio de Oliveira, a quem se agradece.

ma



publicado por porabrantes às 15:45 | link do post | comentar

Sexta-feira, 04.09.20

Ficha militar de António Marques Granja, na Flandres. Foi o comunista abrantino que foi essencial no atentado contra Salazar. 

antónio maues granja 2.jpg

Era filho de Joaquina Gonçalves e João Marques Granja, natural de Alferrarede (1895).

A ficha mostra um espírito irrequieto e um homem pouco dado a aceitar ordens.

Assim sendo, não admira que tenha terminado a mandar tiranos pelo ar.

 Apanhou 10 anos de cadeia.

Não venham condenar o Granja por usar TNT, alegadamente João Damas também preparou bombas para a Carbonária .....

mn



publicado por porabrantes às 19:07 | link do post | comentar

Sábado, 29.08.20
O sapateiro António André

 

''[Souto de Abrantes, 1893, sapateiro. Preso em 22/07/1928 (Processo 3852); libertado em 04/10/1928].''

 

in silêncios e memórias com a devida vénia ao referido blogue e ao Prof.João Esteves


publicado por porabrantes às 22:34 | link do post | comentar

Terça-feira, 28.07.20

Informa-nos o Sr. Nuno Lopes que o seu tio, o preso político Américo Nunes não era cigano, mas que era assim conhecido por ser muito moreno.

Para os interessados ler o artigo do ''Riachense''  “ de 22 de Julho 2020, 

Agradecemos ao Sr.Nuno Lopes, o esclarecimento. E adiantar que o jornal citado tem bons artigos de História regional.

mn



publicado por porabrantes às 09:37 | link do post | comentar

Quinta-feira, 04.06.20

américo.png

Ao serralheiro de Torres Novas, Américo Nunes meteram-no em Caxias, os amigos do Pai da srª Drª Isabel Moreira.

Foi acusado de actividades subversivas, esteve preso desde 10-2-1953 até 24-11-53, em Caxias e terminou absolvido pelo Tribunal Plenário.

Como se vê na foto, o Américo era cigano, embora só de alcunha, por serr muito moreno, se fosse preto e nacionalista africano, o pai da Drª Isabel, mandava-o para o Tarrafal.

Ainda há vantagens em ser cigano.

ma 

 



publicado por porabrantes às 21:54 | link do post | comentar

Terça-feira, 02.06.20

O advogado Álvaro Machado, natural de Abrantes (1891), foi preso em 1933. 

Era Director-Geral duma Repartição do Ministério do Comércio.

Preso em 14-11-33, saiu em liberdade em 25-11-33

Informação do magnífico blogue ''Silêncios e Memórias'', do Prof. João Esteves. O nosso obrigado.

Quando houver tempo, procuraremos achegas biográficas.

ma 



publicado por porabrantes às 20:05 | link do post | comentar

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