Em 5 de Setembro de 1832, o Ajudante de Ordenanças da Capitania-Mor de Abrantes, Raymundo José Soares Mendes é incorporado numa das Companhias de Voluntários Realistas Urbanos, com o posto de Tenente.
Cercava o Porto o exército do Usurpador, Miguel de Bragança, e nas tropas realistas sofria pesadas baixas um regimento abrantino e o Capelão deles, o Padre Nápoles era louvado, na folha oficial, pelos seus bélicos sermões incitando à degola dos pedreiros-livres.
Como é sabido, o Raymundo abjurou das suas ideias absolutistas, veio a servir a Rainha D.Maria II e a ser o cacique liberal cá do burgo, dando nome à Praça do Município.
Sobre a sua estadia nos cárceres por contrabando, remete-se para alguma página deste blogue.
ma
Já se disse que é difícil fazer uma história do dezanove abrantino, sem ir aos processos judiciais.
São uma boa fonte para verificar como se acumulou a propriedade agrária em novos titulares, em boa parte graças à privatização dos baldios concelhios ( uma das polémicas é a apropriação dos pinhais do Fojo pela família Caldeira (1), da propriedade dos conventos, das terras da nobreza vencida (no caso abrantino são as terras dos Marqueses de A., que eram miguelistas e já estavam largamente endividados), doutros derrotados, como os Bívares, ou como se dissolveu a propriedade vinculada.
A nível nacional já se sabe como enriqueceram os Palmelas, e outras famílias pertencentes à facção vencedora no Mindelo.
Nem todos os liberais enriqueceram, as memórias dum cabo de guerra liberal, um homem da velha nobreza, Fronteira mostram isso.
Em Abrantes e Punhete, o cunhado dele, um liberal, o Conde da Taipa arruinou-se.
A nível local são os Viscondes os vencedores da pugna.
Neste processo, mostra-se como Raymundo Soares Mendes, que de malhado se convertera em cabralista, se apoderara de terras dum parente longínquo, que demandara o Brasil, e as cede a terceiro.
O parente é Francisco da Cunha Bassão, que tinha um bisavô comum com o Raymundo, Manuel Soares Mendes.
(Gazeta da Relação de Lisboa, 1885)
O Raymundo cedera essas terras, no Sardoal, a um terceiro, que as tenta legalizar, ou seja encontrar um título jurídico para ser dono delas.
Viera opor-se um rendeiro, afirmando ter direito a elas.
José Maria Roiz Porto e a mulher, D.Filomena da Assunção Costa Porto, tentam no Tribunal, transformar a posse em propriedade legítima e a Relação decide a favor deles.
O tribunal alega e dá como provado que ninguém sabe nada do Francisco da Cunha Bassão há 70 anos, ou seja desde 1815.
Tanto o Raymundo, como o douto Tribunal, não devem ter contactado com a Embaixada do Império do Brasil, onde lhe poderiam dar notícias do emigrado.
Cunha Bassão tomara partido pela Independência do Brasil e era militar conhecido na Corte do Imperador D.Pedro I.
Que bens eram estes no Sardoal?
Um velho morgadio, tinha de ser, de que se apropriara o bravo Raymundo.
Corografia Portuguesa
No Diário do Governo do Império, em 1823, Cunha Bassão aparece a subscrever uma recolha de fundos a favor da Marinha do Império.
Em 1827, o Bação, que era Instrutor da Guarda de Honra do Imperador D.Pedro e major adido ao Estado Maior do Exército Imperial, atingia a patente de tenente- coronel.
O Almanaque do Rio de Janeiro (1827) dá até a morada dele....
Mas em 1885, o Raymundo alegava que há 70 anos ninguém sabia do Coronel Bação e que as terras eram suas.
E já vimos que 56 anos antes se sabia do Bação e que o Tribunal dera como provado coisa falsa.
E na Biblioteca Pública de Lisboa, recebia-se o diário oficial brasileiro.
E se o Raymundo tivesse falado com D.Pedro I ou com o filho D.Pedro II, que esteve em Abrantes em 1871, certamente poderia encontrar novas do Coronel da Guarda Imperial e saber se tinha descendentes no Rio.
mn
(1)-Ver Monografia do Capitão Mourato, editada por Eduardo Campos
O Raimundo é feito capitão dos malhados. O Padre Bairrão organiza quadrilhas de caceteiros em nome do Usurpador. Assola o país a guerra civil. O Imperador dirige a revolução liberal. O Conde da Taipa, Gastão Coutinho, morgado de Punhete, bate-se ao lado de gente como Terceira, Saldanha, Garrett, Herculano, o futuro Abrançalha nas hostes da Liberdade. O velho Portugal dos frades e das forcas está a acabar.
A cena vista de Abrantes, no nosso colega: Coisas de Abrantes, do sr.Zé Vieira. Imagem de lá. O negociante Raimundo acabaria fidalgo e bom liberal (às direitas). Ao serviço das lojas maçónicas cartistas, dirigidas pelo Conde de Tomar, Costa Cabral que compraria a Quinta de Santa Sofia na Amoreira para instalar uma amásia.
mn
O premiado Gaspar resolveu datar a fundação do Montepio, que leva o nome do ex-chefe de quadrilha miguelista Raimundo Soares Mendes, como sendo a 29 de Setembro de 1856. Cita alguma publicação anónima (há texto entre aspas) mas não diz qual.
Remete-se o leitor curioso para a Revista de Abrantes
de 1907, nº Outubro a Dezembro.
O sábio dr.Gaspar aponta a 1ª AG para a data de 29 do mesmo mês de Setembro de 1856, o artigo citado aponta-a para 7 de Outubro desse ano. Foi presidida por Manuel Valejo, depois Barão de Rio de Moinhos (1867) e genro do Raimundo Soares, o miguelista que dera em liberal.
A data de fundação para 29 de Setembro é também referida por Diogo Oleiro, que traça uma panorâmica da associação.
Não sei onde o historiador a foi buscar....
Mas Diogo Oleiro é muito mais justo a evocar os beneméritos do Montepio, não se esquecendo de referir o papel crucial de Avellar Machado.
O dr. Gaspar atribui ao salazarismo um papel nefasto para o mutualismo português, mas se tivesse lido com atenção este artigo, veria que Oleiro diz que o Montepio tinha visto cancelado o subsídio que recebera do Governo Civil e era fácil relacionar isso com a perseguição desencadeada por Henrique Augusto e amigalhaços contra qualquer coisa que cheirasse a Solano de Abreu, que era um dos homens fortes do Montepio e que lhe deixou alguma propriedade rústica no Testamento .....bem como mais coisas.
Oleiro também evoca como causa da decadência da Caixa Económica a crise de 1929.
Se a data referida pela Revista de Abrantes está certa, porque era o órgão do Montepio e o artigo diz que se basearem em testemunhas vivas, foi a 7 de Outubro de 1856 que nasceu o Montepio, tendo como Presidente João Amaro Cordeiro da Conceição e Secretário João António da Silva, eleitos a 8 de Outubro.
Em 23 de Março de 1857 seria nomeado o primeiro sócio de mérito, Augusto Leal da Cruz, que desempenhava à borla estes serviços ''sangrar, curar cáusticos e deitar bixas''.
PS-Haveria que falar mais disso. A culpa aqui não é do dr.Gaspar, mas presumo que se trata dum equívoco de Diogo Oleiro. O artigo de 1907 saiu anónimo.
Arquivo Heráldico, Sanches de Baena
Não sei quem escreve isto, mas era melhor consultarem esta página da Biblioteca António Botto, porque está lá melhor explicado.
a redacção
Em 1849 era correspondente da Revista Universal Lisbonense
Ainda não era fidalgo, só conseguiu, com certa dificuldade, um diploma e uma carta de armas quase 20 anos depois
diz Sanches de Baena, mas não é um autor muito confiável
um jornal abrantino da data da sua morte, traçou-lhe o perfil de caudilho dum bando armado, e depois de influente político.
Mas o cacique não foi o primeiro jornalista abrantino, 20 anos antes, na Bahía, outro homem que fora manda-chuva cá do burgo e se tivera de exilar, fundara um dos primeiros jornais brasileiros.
Era Diogo de Bivar.
Portanto o Raimundo, que merecia uma biografia sólida e inevitavelmente polémica (ainda hoje) não foi o 1º jornalista abrantino.
mn
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