Quem era capaz de desencantar a mulher dum agente da PIDE que reside agora em Abrantes?
Quem era capaz de entrevistar, em Abrantes, a D.Alice, ex-funcionária da PIDE/DGS, em Lourenço Marques, mãe duma conceituada médica?
Alice é pseudónimo.
A investigadora brasileira, Roseli Boschilia entrevista neste texto a D.Alice e mais abrantinos que vieram retornados de África.
As entrevistas são de 2017.
O estudo é uma obra importante para narrar e estudar a saga dum Império perdido e dos que sofreram o seu colapso.
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Memória, desterritorialização e identidade:
narrativas sobre o deslocamento forçado
Roseli Boschilia1 (2018)
O Prof David Gueiros Veira faleceu em 2017. Foi um dos grandes historiadores do Brasil, sendo a sua obra mais famosa, '' O protestantismo, a maçonaria e a questão religiosa no Brasil. Ed. Universidade de Brasília, Brasília 1980.''
Durante o PREC passou uns meses em Lisboa e entrevistou políticos como Mário Soares, Vasco da Gama Fernandes, Isabel do Carmo, no que devia ter sido um projecto de história oral.
Em '' A Crise de Julho na Revolução dos Cravos: um diário da revolução portuguesa'', deixa-nos uma visão alucinante da crise de 1975, vista por um académico do país-irmão. Um texto entre memorialístico e jornalístico com muito interesse para a história da época. Um dia foi visitar os campos de refugiados de Angola, acompanhado por umas militantes do PS, que se dedicavam a apoiar os retornados.
E que contaram os refugiados?
o texto está on-line na PUC (Pontifícia Universidade Católica de S.Paulo ) ou no Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra.
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''Retorno maciço dos portugueses do Ultramar. Na aflição da fuga, até de barco de pesca vieram muitos, a ponto de alguém dizer que fomos descobrir o mundo de caravela e regressámos dele de traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem grandeza de uma aventura. Metade de Portugal a ser remorso da outra metade. Os judeus da diáspora ansiavam por regressar a Canaan. Povo messânico também mas de sentido exógeno, para nós o regresso é o exílio. A nossa Terra Prometida estava fora de Portugal. --- MIGUEL TORGA, Diário XII, 3ª edição revista''
Qual foi o impacto dos refugiados do Ultramar na demografia abrantina?
Não sei, e seria curioso estudá-lo. Mas sabemos qual foi o impacto nos concelhos vizinhos.
Podemos pensar que em Abrantes em 1975 talvez 2 a 3% da população fosse composta por refugiados de África.
Que políticas públicas autárquicas foram desenhadas então para os receber?
Francamente não me lembro de nenhuma.
Deve ser como agora, onde a cacique, insolidária como uma chauvinista barata, diz que não recebe nenhum, porque não há casas de habitação social.
Se não há, é porque o seu partido quase não fez habitação social.
Há um texto terrível do António José Saraiva de 1975 sobre a forma como Portugal recebeu os ''retornados'' e outro dia, um retornado, o Humberto Lopes, evocava, numa crónica, a forma de hostilidade surda, com que os bem pensantes do PREC viam os refugiados do Ultramar.
O Artur Catarino, do Mação, estudou em Abrantes, fundou uma empresa a ''Bomsuíno'', em Lourenço Marques, um sítio cujo nome dizia Gylberto Freire, lembrava um ‘’empório de secos e molhados’’ e não uma capital, e como muitos outros chegou cá sem nada. Aqui conta a sua história.
O ex- Vereador comunista Manuel Lopes conta-nos a história da ameaça aos retornados nesta terra:
(...) ''Na memória também a ocupação “que não chegou a ser” do colégio La Salle após a retirada dos frades. Nos primeiros dias de setembro de 1975 “soubemos que dois mil retornados iriam ser colocados nas instalações. Ora o Liceu estava a rebentar pelas costuras e pensámos: cabe lá é dois mil alunos. Falámos com os administradores do Colégio no sentido de arrendar ao Estado se não concordassem seria pela força. Estava preparado um piquete militar para ocupar” o Colégio. Não foi necessário. O contrato de arrendamento aconteceu em 1979, a revolução foi tomando outro rumo e encerrou-se a ditadura. “Esperemos que não volte”.''(...)
O primeiro comentário é o seguinte, tem o Lopes uma memória exacta do que se passou e isto é verdade, ou já fraqueja da dita?
Porque se as coisas se passaram assim, recusaram receber dois mil refugiados de África e ameaçaram com um bando de salafrários armados, que de soldados pouco tinham, para se oporem a uma ordem do IARN, o organismo oficial que se ocupava dos retornados e recusarem a solidariedade para com portugueses, vítimas da traição, do saque, da cobardia.
Usar bandos armados para roubar, usou o PCP, manipulando tropas, na Reforma Agrária, conta por exemplo António Barreto, e as tropas de Abrantes em 1975 eram isso, um bando armado, manipulado pelos SUV.
Não há volta a dar-lhe, se as coisas foram assim, pode o Lopes assumir que agiu com o mesmo garbo que os fascistas que andam pela Europa a ameaçar emigrantes, com candidatos a Duce ,como o Salvini, que agita a Itália.
Com o agravante que o Lopes não queria acolher portugueses e diz que prepararam uma milícia para os afugentar.
A milícia foi destroçada a 25 de Novembro por soldados de Portugal. O amigo do Lopes, o Vereador Campante foi apanhado com as G-3 na mão e foi despachado para Caxias. Infelizmente ficou lá pouco tempo, porque isto é terra onde a Justiça é muitas vezes palavra vã.
mn
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