Antigamente no Vaticano havia um clérigo que fazia as funções de ''Advogado do Diabo''. João Paulo II deu cabo desse cargo. O clérigo devia, num processo de canonização ou beatificação, fazer um rol dos ''pecados'' cometidos pelo candidato ao altar e competia depois ao ''júri'' de classificação e ao Papa ponderar se os méritos eram superiores aos deméritos.
O polaco resolveu que só contavam os méritos e a canonização passou a ser um passeio caro e triunfal, financiado pelas corporações eclesiásticas que tinham interesse em promover o ''santinho'', que fora seu fundador.
Assim Escriva de Balaguer foi santo. E era uma personagem duvidosa.
Ignoro se no museu de relíquias do OPUS estão à vista as chinelas de quarto, usadas pelo aragonês, promovidas a relíquias. Vi as chinelas de S.João Baptista de La Salle, no Museu dos Lassalistas em Roma.
Juan de Valdez recordou que certa Igreja ibérica tinha umas gotas do leite da Virgem num relicário. Uma mesquita paquistanesa conserva um pelo da barba dum pedófilo chamado Maomé.
Valdez era um humanista na linha de Erasmo, que foi amigo de Carlos V, que era homem culto e tolerante antes que as desavenças com Lutero o fanatizassem.
A canonização de Saldanha Sanches em curso não me serve. Não precisamos de santos, mesmo laicos.
Assisti ao saneamento de André Gonçalves Pereira, grande advogado e professor de Direito Internacional Público na FDL. Era um liberal à maneira do Xico Balsemão, um homem rico e que nunca tivera cargos públicos no fascismo. Certamente fora consultor do Governo em casos de litígio internacional na sua área de especialidade. Escrevera os melhores manuais de Direito Internacional Público que havia por cá.
Era uma pessoa dialogante e próxima dos alunos. Um senhor de ascendência goesa, caso de algumas brilhantes sagas de médicos (os Brutos da Costa) ou de juristas de Portugal.
Mas tinha uma altivez e um sentido de humor acima da média. O Sanches avisara-o de que algum dia viria aí a revolução, certamente proletária, certamente chinesa. Respondeu-lhe o André, displicentemente: ò pá, tenho 40 fatos no armário e um fato-macaco, no dia em que vocês tomem o poder vestirei o fato-macaco. Por isso foi saneado.
Esteve-se nas tintas, a sua brilhante carreira jurídica dava-lhe o dinheiro que quisesse. Foi Ministro e demitiu-se porque o salário não lhe dava prós charutos.
E já que faço de Advogado do Diabo direi que o Sanches quando saiu do MRPP escreveu um dos piores panfletos de análise marxista que saiu em Portugal. Pior que os panfletos abaixo-de-cão do stalinismo.
Já fiz de Advogado de Diabo. Espero que os amigos e admiradores do Santo se dediquem à hagiografia. Vou dar-lhes uma ajuda: era um tipo valente e corajoso.
MA
Que nesta prisão de Saldanha Sanches andou a mão do PCP, andou.
Isto serve para recordar que houve muitos presos políticos depois do 25 de Abril 1974.
Foi em Junho de 1974, SS já tinha estado longos anos preso pela ditadura.
Não dei pelo Sampaio da Nóvoa a pedir pela liberdade dele em 1974, mas dei pelo Miguel Serras Pereira que escrevia neste jornal. Naturalmente o Miguel não é candidato a Belém.
ma
Exito no título. Podia ser o discípulo de Saldanha Sanches. Também podia ser a entrevista do neto do capitão açoriano que vivia na pensão do Outeiro. O Saldanha Sanches que ele conheceu, não foi o fanático que eu conheci.A pensão tinha sido fundada pelo empresário reformado da Amália Rodrigues.
O pai do entrevistado recusou a vã glória de mandar na República e palestra com o Jaime Nogueira Pinto no Observador. Conversas estimulantes.
A pensão do Outeiro estava aqui.
A pensão do Outeiro situava-se na casa onde está uma florida árvore. A foto é do Artur Falcão. Sobre ela algum artigo do Fernando Velez. E o título? Fica: a entrevista
MN
Não tenho nada contra quem chumbe um candidato a doutor num doutoramento. Mas parto sempre do princípio que o membro do júri deve saber mais que o candidato. Assim Victor de Sá foi chumbado por Vitorino Magalhães Godinho e ninguém contestará que o Autor dos ''Descobrimentos e a Economia Mundial'' sabia mais que o Sá cujas obras são lamentáveis.
Salvador Dali tinha de se licenciar em Pintura e o júri perguntou-lhe: '' Diga tudo o que sabe sobre a pintura de Rembrandt''. Disparou o génio tal lição, que o júri ficou apalermado face aos conhecimentos e à originalidade da abordagem do excêntrico aluno. Espere um bocado, vamos deliberar. A nota só podia ser 20.
''Vocês não vão a lado nenhum, eu é que me vou embora. Recuso-me a ser classificado por um grupo de analfabetos que de pintura sabem o mesmo que os ''payeses'' da minha terra, vocês só sabem de pintar paredes, e naturalmente não estão em condições de classificar um génio''.
E levantou-se, envolveu-se na sua capa, pôs a boina de pintor parisiense na cabeça, cofiou o altivo bigode, mirou os sapatos com os atacadores desatados (não sabia fazer nós, nem ver as horas no relógio) e lançou sobre a sala atónita o olhar triunfante do matador que domina a praça, depois de ter morto um Miura.
Estava tudo banzado.
Na primeira fila os mais banzados de todos eram Federico Garcia Lorca e Luís Buñuel e Pepin Bello, que morreu há pouco, lúcido e centenário.
E partiu para o triunfo.
Sobre o Nóvoa que ousou chumbar o Saldanha Sanches só há a dizer que não acredito, que ele soubesse mais que o José Luís.
E sobre este, continuo a achar que nunca devia ter convidado o Prof.Pedro Soares Martinez, para lhe orientar tese nenhuma. O Pedro Martinez, homem de sardónico humor, era um fascista e honra lhe seja, fascista sempre foi. Nunca se democratizou como o Veiga Simão ou o Adriano Moreira.
A FDL só deixava doutorar-se quem pertencia à família catedrática anterior ao 25 de Abril. Por isso Freitas do Amaral abriu a F.D. da Nova. Deve ser por isso que chumbaram o Saldanha Sanches.
Que foi o maior fanático que conheci, quando ainda era raivosamente maoista. Mas os tempos passam e ver o Sampaio da Nóvoa metido numa merda destas, só me sugere uma reflexão. Já se reivindicou ele da herança de Eanes e do seu espírito mesquinho e pequeno-burguês, e tem razão. Eanes chumbou a ascensão dum militar muito mais valente que ele por razões políticas e burocráticas. Graças a Eanes o coronel Jaime Neves não foi General. Graças ao Sampaio da Nódoa o Doutor Saldanha Sanches ia ficando com a carreira académica truncada. O Sanches não teve a grandeza do Neves, que mandou à merda o Eanes e a tropa, como Dali enviou os académicos à parte que lhes competia.
ma
Um dos poucos políticos portugueses que respeitamos é a Ana Gomes.
Mas francamente aos 54 ou 55 escrever necrologias destas é uma pena:
''á semanas que não blogo. Não pude. Não ousei.
É que escrever custa mais do que falar.
Escrever vem mais de dentro, puxa pelo que se sente. E há tanta coisa dolorosa, quase impossivel, de exteriorizar. O que se diz, diz-se, com mais ou menos emoção, não há tempo para controlar. O que se escreve impõe calibrar cada palavra, cada frase, cada ideia, cada sentimento. A escrita liberta, mas só depois de se poder articular o pensamento.
E às vezes a convulsão afoga.
Eu fiquei assim desde que recebi a noticia de que nos morreu o Zé Luis!
O golpe é irreparável.
O militante intrépido, o estratega culto, o orador brilhante, o organizador dedicado, o lider integro, o educador político exigente ('nós temos de estar entre os melhores estudantes', 'nós na prisão não falamos!). Mais tarde, o professor devotado, o comentador imperdível, o lutador contra a corrupção.
Ao país fica a fazer uma falta danada este combatente cívico. Ainda por cima num momento de crise profunda, que resulta do abandono da ética, da perversão da justiça e da subordinação da política a interesses económicos imorais. Num momento em que precisavamos, mais do que nunca, de ouvir vozes livres, lúcidas, persistentes, confiantes e positivas, mesmo nas mais demolidoras e sarcásticas críticas.
Vozes como a do Zé Luis Saldanha Sanches!
E realmente, não temos nenhuma outra igual, para nos ajudar a fazer da crise oportunidade.
Resta o conforto de continuarmos a contar com metade dele, a Mizé, fininha e fragilzinha por fora, rocha por dentro, embora escalavrada por esta suprema provação.
Mais forte ainda do que a memória gostosa do amigo, fica-me a luz do heroi que na juventude me marcou para toda a vida.
Sei que falo por toda uma geração: Ousar Lutar, Ousar Vencer!
Ousemos, pois. ''
Ana Gomes aqui
O direito ao choradinho fúnebre está à disposição de qualquer português. Somos um povo de lágrima fácil. Mas este paráfrafo: 'O militante intrépido, o estratega culto, o orador brilhante, o organizador dedicado, o lider integro, o educador político exigente ('nós temos de estar entre os melhores estudantes', 'nós na prisão não falamos!). Mais tarde, o professor devotado, o comentador imperdível, o lutador contra a corrupção. '' é puro estalinismo na sua versão mais pimba, a pior que houve em Portugal: o MRPP!!!!
O Elogio ao íntegro estalinista explica que os gajos tenham chegado a isto:
O Zé Luís despromovido da condição de ''educador político exigente'' (já antes tinha sido com a Mizé, que parece que tem raízes abrantinas, lá para o Pinhal, despromovido da condição de ''filho do povo'' e escreveu o mais medíocre texto marxista que saíu em Portugal e deu o fora.....)
O ''educador único'' deu nisto:
''Advogado de António Lobo, ex-presidente da Câmara Municipal da Ponta do Sol, detido na sequência da denúncia de um promotor imobiliário, devido à aprovação de licenciamentos de obras em troca de alegadas comparticipações financeiras.'' (ler mais aqui)
A farda do Arnaldo é extraordinária, só o Armando Fernandes o ultrapassa......
E ao pé dos dois, o Pico é um dandy.....
Esperávamos que a mundana e cosmopolita Embaixadora de Portugal tivesse reciclado a tola, mas ficou lá a cassete do estalinismo mais plebeu....
Realmente para o elogio fúnebre o Vigário do Pinhal é imbatível....
Marcello de Ataíde
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